O Brasil na guerra do 5G

O Brasil na guerra do 5G

Prometendo ser até 10 vezes mais rápido que o 4G, contando com velocidade maior, conexões mais estáveis e consumo de energia muito menor que no 4G, a quinta geração da tecnologia de transmissão de dados digitais, conhecida como 5G, vai criar condições para o uso pleno de tecnologias digitais como a internet das coisas, drones, robótica avançada, inteligência artificial e principalmente para o uso pleno do conceito Indústria 4.0.

Enquanto muitos países montam suas infraestruturas 5G, o Brasil se encontra no meio de uma discussão diplomática que pode comprometer não só o desenvolvimento tecnológico do país, mas também a economia e desencadear outras crises.

Disputa

Com Estados Unidos, União Européia e Japão de um lado e China do outro, a disputa econômica e ao mesmo tempo geopolítica se dá para impedir que a Huawei, empresa chinesa de telecomunicações, forneça equipamentos para a instalação das redes 5G dos países e assim, se torne uma das empresas mais poderosas do mundo. Isso porque o 5G é fundamental para o desenvolvimento das economias nas próximas décadas e o potencial econômico gira em torno de trilhões de dólares. O argumento para isso não é apenas o econômico, mas a alegação oficial (mesmo que sem provas oficiais) de que a Huawei faz espionagem e acessa dados sigilosos por meio de seus equipamentos – na era da informação, o sigilo é importantíssimo.

Huawei revela ter atingido marca de 100 milhões de usuários 5G ao redor do  mundo - TudoCelular.com

O receio é que, caso ocorra uma guerra, o governo chinês faça uso da infraestrutura da Huawei para acessar informações dos governos, para sabotar sistemas de transporte, de transmissão de dados ou eletricidade dos inimigos. Uma das estratégias é enfraquecer a Huawei, assim, a União Européia e o Japão entram como aliados dos americanos, já que a substituição do 4G abre oportunidades para empresas europeias, japonesas e americanas.

Brasil

A empresa chinesa deixou claro seu interesse em participar da implementação da tecnologia no país. Porém, enquanto tenta conservar os laços com a China, que hoje é o maior parceiro comercial do Brasil, o governo brasileiro também força uma aproximação com os Estados Unidos.
Em outubro de 2020, uma delegação vinda dos Estados Unidos, contando com o conselheiro de segurança dos EUA, Robert O’Brien, veio pressionar o governo brasileiro a banir a Huawei do leilão das faixas do 5G, que deve acontecer no primeiro semestre de 2021. Como troca, foram dados ao Brasil 1 bilhão de dólares em financiamento de projetos da área de energia, infraestrutura e telecomunicações.
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) recomendou que o Brasil não restrinja a competição da tecnologia do 5G para que se tenha um mercado mais competitivo.
Porém, existem alguns indícios do banimento da Huawei do Brasil, como o apoio do governo à Clean Network, iniciativa americana que visa limitar o avanço de empresas chinesas na instalação do 5G, anunciada pelo secretário de Negociações Bilaterais e Regionais nas Américas, Pedro Miguel da Costa e Silva. O ministro da Economia vem defendendo as relações comerciais brasileiras com todo o mundo, porém, vem destacando o papel geopolítico do Brasil, e afirmou também que a parceria Brasil – EUA se dá por questões como geopolítica e economia, mas também segurança.

O que o banimento da Huawei pode causar

A tecnologia de transmissão de dados e voz é dominada globalmente pela sueca Ericsson, a finlandesa Nokia e a chinesa Huawei, e estima-se que no Brasil a participação das três empresas seja equilibrada, com uma leve vantagem para os chineses. Assim, com a exclusão da Huawei, o temor é que a competição diminua e que os preços aumentem.
Porém, uma coisa leva a outra. Quanto mais custoso, mais lento será o processo de implantação do 5G no país e assim, menos pessoas terão acesso a tecnologia de ponta. 

Os concorrentes argumentam que a banda larga na China é duas vezes e meia mais cara que no Brasil, onde boa parte dos fornecedores são empresas chinesas, desmistificando a ideia de que sem empresas chinesas o 5G pode encarecer. Porém, um estudo realizado pela Oxford Economics, encomendado pela Huawei, mostrou que realizar a restrição pode aumentar o custo de implementação do 5G de 8% a 29%. 

Além disso, como a China é o maior dos parceiros comerciais do Brasil, pode-se ter retaliações econômicas principalmente no agronegócio, ainda que não escancaradas, e a economia brasileira pode sofrer.

Brasil e suas relações

Com a eleição de Joe Biden, a guerra do 5G ganha um respiro a curto prazo, mesmo que ela se mantenha, a estratégia será diferente, já que a disputa tem a ver com hegemonia. Enquanto manter o plano de banir a Huawei pode ajudar na relação com os Estados Unidos, isso pode acabar piorando a relação com os chineses e com a base de apoio do governo – os ruralistas, que temem retaliação desnecessária ao país. Por outro lado, não banir a Huawei pode ser fonte de atrito e retaliação a Biden. Nessa guerra, o que o Brasil poderia fazer mas não têm feito, é se aproveitar da sua posição para conseguir melhores condições para a implementação do 5G. Uma coisa é certa, no Brasil, após um ano marcado pela pandemia, o 5G será um aliado para a recuperação econômica.

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Por Kássia Carvalho

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Kássia Carvalho