Biomimética – a natureza em colaboração com a humanidade

Biomimética – a natureza em colaboração com a humanidade

A biomimética é um termo que antecede até mesmo sua criação. Inventada em 1969 pelo engenheiro estadunidense Otto Schmitt, mas que remonta usos desde o século XV, através do polímata Leonardo da Vinci, o qual possui uma biografia dedicada neste mesmo blog.

Enfim, conforme presente na própria estrutura do termo (de “bios” significando vida e de “mimesis” significando imitação), biomimética consiste de soluções sustentáveis, inspiradas na natureza, na qual se utiliza padrões e estratégias de sobrevivência e adaptação de sistemas biológicos, para sua incorporação em áreas do conhecimento humano, tais como medicina, agricultura e arquitetura.

Uso em novas tecnologias

Um dos avanços tecnológicos desenvolvidos apenas com a observação da natureza, tem como responsáveis o japonês Eiji Nakatsu e o pássaro martim-pescador.

Quando criança, Eiji costumava caçar pássaros com seu pai. Porém, quando adulto, decidiu assumir uma postura diferente quanto às aves, tornando-se apenas observador.

Em uma de suas observações, Nakatsu notou que a ave martim-pescador poderia solucionar o problema de ruído do famoso trem bala da Japan Railway West (JR West). A problemática consistia no barulho gerado quando o trem saía de um túnel, o qual poderia ser ouvido a mais de 400 metros da região.

Para tanto, a solução surgiu na ideia de projetar a dianteira do trem no formato do bico da ave, uma vez que, o pássaro conseguia sair do ar em alta velocidade e colocar o bico no rio sem deixar vazar nenhuma gota de água, sendo o segredo para tal façanha, a construção de seu bico.

Com isso, Nakatsu conseguiu com que o trem não só diminuísse drasticamente seu ruído, mas também aumentasse sua velocidade de 270 km/h para 320 km/h. O projeto também teve inspiração nas penas de uma coruja e no abdômen de um pinguim.

Outro exemplo está relacionado ao ramo energético, com a construção de turbinas eólicas inspiradas nas nadadeiras de baleias e golfinhos.

Tal avanço mostra-se muito útil para a sociedade atual, uma vez que as preocupações quanto ao uso de fontes renováveis de energia tornam-se cada vez maiores. Nesse sentido, a energia eólica se destaca pela não emissão de gases poluentes e pelo carácter duradouro, uma vez que o vento é um recurso inesgotável.

Com isso, desenvolveu-se novas pás das hélices responsáveis pelo movimento de giro da turbina, através da construção aerodinâmica das nadadeiras de baleias corcundas. O estudo baseou-se na formação de vórtices a partir das corcovas da baleia, na parte frontal de suas nadadeiras, os quais proporcionam maior sustentação, agilidade e capacidade de manobra.

Tal estudo estende-se também aos golfinhos, revolucionando todo o conhecimento atual relacionado à aerodinâmica.

Arquitetura biomimética

Outra forma de incorporação da natureza ocorre nas construções. Nesse sentido, destaca-se uma das principais tendências de design para os próximos anos, a arquitetura biomimética. Trata-se de promover a reconexão entre natureza e arquitetura replicando suas formas e principalmente compreendendo as normas que a regem, de modo a proporcionar novas soluções sustentáveis para a construção civil.

Assim, surgiu o Estádio Nacional de Pequim, cuja estrutura imita um ninho de pássaros. O design, carrega como propósito promover maior estabilidade e resistência à construção, a qual localiza-se numa região de constante atividade sísmica.

Outro exemplo é o edifício Eastgate Centre, localizado no Zimbábue. Tal edifício é constituído de um sistema de tubulações de ar, cuja inspiração vem da forma como cupinzeiros são construídos para promover o equilíbrio térmico. Dessa forma, tal estrutura consegue manter temperaturas médias de 20 a 22 °C sem a presença de qualquer equipamento de ar condicionado.

Agora, configurando-se um exemplo mais estético, tem-se o Centro Aquático Nacional, também localizado em Pequim. Popularmente conhecido como Cubo d’Água e conforme o nome sugere, a obra busca transmitir aos visitantes a sensação de estarem debaixo d’água. Para tanto, é revestido com 3 mil bolhas de plástico translúcido e ultra-resistente, chamado de estileno tetrafluoretileno.

Estes configuram-se alguns exemplos da arquitetura biomimética, a qual vem ganhando cada vez mais destaque e importância, em função das vantagens que possui, sendo algumas delas: maior conforto, redução de impactos ambientais e busca por economia de energia e reaproveitamento de água na construção.

Por fim, nota-se cada vez mais a influência da natureza no desenvolvimento humano, através do uso da evolução e características de demais seres vivos para busca por mais conforto e desenvolvimento tecnológico para a sociedade.

Matheus Viana da Silveira