Reflexões de uma Carreira: Entrevista com a Engenheira Maria Lucia Sampaio Moraes

Reflexões de uma Carreira: Entrevista com a Engenheira Maria Lucia Sampaio Moraes

Maria Lucia Sampaio Moraes graduou-se em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Juiz de Fora em 1984. Desde o início da sua carreira, trabalhou na Companhia Força e Luz Cataguases Leopoldina, atual Energisa, onde acumulou mais de 31 anos de experiência em diversas áreas, incluindo manutenção de subestações e gerência de planejamento e orçamento. Maria Lucia enfrentou desafios significativos ao longo da carreira, destacando a importância da adaptação às mudanças e do desenvolvimento emocional para o sucesso profissional.

Durante sua trajetória, observou um aumento na presença e reconhecimento das mulheres na engenharia elétrica. Embora não tenha participado de projetos extracurriculares durante a graduação, recomenda aos jovens engenheiros que aproveitem ao máximo as oportunidades acadêmicas e desenvolvam habilidades interpessoais.

Atualmente, ela se aposentou, mas continua contribuindo para a formação de novos profissionais, compartilhando suas experiências e conselhos sobre a importância do conhecimento técnico e da relação interpessoal no ambiente de trabalho. O PET Elétrica teve a oportunidade de entrevistá-la, proporcionando um valioso olhar sobre a evolução da engenharia elétrica e os desafios enfrentados ao longo de sua carreira.


O que a motivou a escolher Engenharia Elétrica como curso/carreira?

“Na minha época de estudante não tinha as opções de carreira que existem hoje. As mais tradicionais eram Medicina, Odontologia, Engenharia, Direito e alguns outros cursos de Licenciatura (pedagogia, letras, matemática, dentre outras). Era comum que quem gostasse de biologia optasse pela área de saúde, quem gostasse de matemática optavam pela área de exatas e assim por diante.

Eu sempre me identifiquei com matemática e outras matérias da área de exatas. Com 7 ou 8 anos de idade já tinha me manifestado que seria engenheira. Nunca mudei de ideia e me graduei em Engenharia Elétrica em 1984.

A opção pela Engenharia Elétrica só veio na adolescência, quando passei a ter mais conhecimento sobre matérias como a Física. Tive dúvida se seria Eletrônica ou Elétrica. A decisão foi pela Elétrica. Gostei muito do curso, principalmente porque o foco era Engenharia de Potência.”


Como foi o processo de adaptação ao curso? Quais foram os maiores desafios que enfrentou durante a graduação?

“O maior desafio foi nos dois primeiros anos, no ICE. Eu acho que foi para a maioria. Eu era uma boa aluna no ensino médio, mas meu primeiro período de faculdade não foi bom. Acho que foi porque não conhecia a melhor forma de estudar. O modelo de ensino na Universidade me surpreendeu e eu não estava preparada devidamente. Foi um choque para mim. Procurei me adaptar. Me uni a um grupo de colegas para estudar, nos tornamos amigos, aprendemos melhor e deu certo.”


Durante a faculdade, você participou de alguma iniciação científica, estágio ou projetos extracurriculares? Como essas experiências contribuíram para sua formação?

“Infelizmente, eu não participei. Hoje, até me arrependo. Se fosse hoje, com a maturidade atual, eu teria feito mais e aproveitado melhor as oportunidades. Os problemas de timidez e relacionamento interpessoal devem ser trabalhados e resolvidos de modo a dar mais qualidade à vida estudantil e no futuro na profissional.”


Como foi o início da sua carreira na Energisa? Quais eram suas expectativas na época?

“Tive uma experiência de trabalho em Juiz de Fora, em um uma Empresa de Engenharia antes de ir para a Companhia Força e Luz Cataguases Leopoldina, hoje Energisa. Foi uma breve experiência, mas importante para a minha carreira profissional.

Em 1988 entrei para o Grupo Cataguases-Leopoldina, o qual cresceu e se transformou no atual Grupo Energisa. Foram pouco mais de 31 anos de trabalho muito ricos em desafios, aprendizagens e realizações.

Iniciei na área de manutenção de subestações e usinas, ainda sem experiência técnica, mas com muita determinação fui avançando, vencendo os desafios. Tive oportunidades de trabalho em diversas áreas da Empresa. Como Gerente da extinta Regional de Leopoldina, atuei nas áreas Comercial e Técnica. Minha última e mais duradoura função foi na Gerência de Planejamento e Orçamento. Esta oportunidade foi muito gratificante e pude demonstrar uma evolução técnica, principalmente de planejamento elétrico e perdas elétricas, de Regulação e de relacionamento interpessoal. Para fechar com chave de ouro minha carreira profissional fui Gerente de um importante Projeto de P&D (Programa de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da ANEEL), sobre Perdas no Sistema Elétrico, desenvolvido em conjunto com a Faculdade de Engenharia da UFJF e PUC Rio.”


Ao longo dos 31 anos de trabalho, quais foram os principais desafios que enfrentou na empresa?

“Adaptação às mudanças foi um grande desafio e, em uma Empresa Inovadora como a Energisa é fundamental estar aberto às mudanças.

A capacidade emocional é tão importante quanto a capacidade intelectual para o sucesso profissional. A capacidade emocional pode ser desenvolvida ou aprimorada. Os cursos e treinamentos que participei ao longo da minha vida profissional foram importantíssimos para o meu desenvolvimento.

Um profissional emocionalmente preparado deve possuir habilidades comportamentais e emocionais que propiciem o enfrentamento às mudanças, às inovações, aos desafios de modo natural e proativo.”


Qual foi o papel das mulheres na engenharia elétrica durante sua carreira? Você notou uma mudança na presença feminina ao longo do tempo?

“Na Faculdade e no trabalho, a quantidade de mulheres no âmbito da engenharia elétrica foi muito, mas muito menor mesmo que a dos homens. Esta presença aumentou ao longo do tempo, principalmente quanto a capacitação das profissionais. Ressalto também que o reconhecimento pelo trabalho dessas profissionais aumentou.”


Houve alguma situação em que você teve que tomar decisões difíceis ou enfrentar problemas críticos? Como foi lidar com isso?

“Sim. Algumas situações foram muito difíceis. Mas uma delas talvez tenha sido a mais complicada por ser a representante da Empresa no local onde uma injúria contra a Empresa foi cometida publicamente por um popular de modo desrespeitoso. Reagi em defesa da Empresa de um modo um tanto passional, o que não é o mais indicado. Foi bem complicado;

Outra situação, bem comum no ambiente de trabalho, é lidar com problemas comportamentais de profissionais subordinados, os quais se têm como aliados da equipe, mas na verdade não são. Medidas punitivas são necessárias e muitas vezes difíceis de serem aplicadas, porém fundamentais.”


Como você vê a evolução tecnológica na área de energia elétrica desde o início da sua carreira até a sua aposentadoria?

“A velocidade e qualidade da evolução tecnológica é muito significativa. Temos como exemplo a Internet, a automação de comandos de equipamentos de subestações e usinas, energia solar e eólica, carro elétrico, desenho técnico utilizando software, inteligência artificial, dentre outras.”


Que conselho você daria para os jovens engenheiros eletricistas, baseada na sua experiência na área?

“Aproveitar ao máximo todo o período acadêmico para obter conhecimento técnico e emocional. Aprender outros idiomas. Valorizar a importância do relacionamento interpessoal no âmbito familiar e profissional. Participar dos eventos extra curriculares. Fazer estágios em Empresas do setor elétrico. Observar e buscar preparo adequado para ingressar nas Empresas. Gostar muito da opção de trabalho que escolheram para a vida profissional.”

Wylker Alves