Petrobras aposta na diversificação das fontes de energia
A Petrobras, companhia estatal de petróleo brasileira, é líder em projetos de diversificação de fontes de energia, do gás natural aos biocombustíveis, e isso não é só slogan de marketing. Nos últimos anos, a petroleira colheu vários elogios por seu comprometimento com um futuro de índices mais baixos de carbono, apesar das atividades constantes de perfuração de petróleo da empresa. Além disso, a Petrobras integra o Índice Dow Jones de Sustentabilidade.
Nas últimas décadas, o Brasil tem chamado a atenção não só pela velocidade de crescimento de sua economia emergente, mas também pela autossuficiência conquistada pelo país em razão do seu comprometimento com uma ampla variedade de fontes de energia, sobretudo energias alternativas. O Brasil usa grandes quantidades de biocombustíveis, como o etanol da cana-de-açúcar. Tanto isso é verdade que a frota de veículos do país tem um percentual cada vez maior de carros flex, isto é, veículos que rodam à base de uma mistura de combustível fóssil e biocombustível.
A Petrobras não foi pioneira nesse segmento, e foi preciso uma tragédia para forçar a mudança. Na virada do milênio, uma grande explosão provocou o afundamento de uma de suas plataformas marítimas e matou 11 funcionários. A empresa foi alvo de pesadas críticas no Brasil e decidiu reavaliar sua política de segurança de perfuração e de toda a economia de carbono.
Comandada por uma diretoria desejosa de reformas e pelo CEO atual, José Sérgio Gabrielli, cuja formação nos anos da ditadura militar no Brasil deixou-o calejado e com pouca paciência para desculpas, a empresa reconheceu seu passado de cumplicidade com governos corruptos e atitudes pouco firmes em relação à segurança dos trabalhadores e ao meio ambiente. Desde então, a empresa investiu pesadamente em segurança e no emprego de tecnologias de exploração e de extração de baixo impacto ambiental, embora seu custo seja mais elevado do que o das alternativas disponíveis.
Segundo Gabrielli, “uma empresa não sobrevive se não tiver um bom relacionamento com seus funcionários, sua cadeia de fornecedores, a comunidade quem faz negócios e com os acionistas. Às vezes, é preciso muito malabarismo para deixar todo mundo feliz, mas não é impossível, e é responsabilidade da empresa consegui-lo”. É possível que tais palavras tenham passado pelo crivo do setor de relações públicas da petroleira, mas o comportamento recente da companhia comprova que foram ditas com sinceridade.
A Petrobras investirá um montante substancial — US$ 3 bilhões ao ano — em biocombustíveis, embora isto represente apenas uma fração dos quase US$ 100 bilhões a serem gastos pela empresa na exploração do recém–descoberto campo marítimo de Tupi, uma das maiores descobertas recentes de petróleo.
A Petrobras contratou empresas como a colossal franco-americana Schlumberger, do setor de serviços petrolíferos, para que desenvolva tecnologias que permitam extrair petróleo com o menor impacto possível para o ecossistema marítimo. Não se trata de lance de efeito de relações públicas, uma vez que o empreendimento exigirá gastos substanciais. Ele representa o futuro da empresa na era “pós-petróleo fácil”, em que os recursos deverão provir das profundezas do oceano, de ecossistemas frágeis, ou de algumas das regiões mais conflagradas e proibitivas do planeta.
A Petrobras é uma empresa que faz uso intensivo de carbono, mas que procura se comportar da maneira mais responsável possível numa época em que a extração do petróleo se tornou mais cara, mas controversa e mais difícil. A empresa reconhece que opera tanto no setor de energia quanto no de combustível fóssil e que, para compensar parte do dano inevitável que impõe ao meio ambiente, é preciso ter boa cidadania corporativa, tanto no Brasil quanto em outros países onde opera.
A empresa destina parte dos bilhões que aufere em lucros para o financiamento da educação em vários estados brasileiros, para instituições de amparo ao trabalhador e pesquisas na área de alternativas ao carbono. Os críticos dizem que tudo isso não passa de uma gota no oceano, mas num mundo movido a hidrocarbonetos, a Petrobras se acha numa situação delicada em que procura a excelência sustentável, embora o histórico do conceito contradiga a indústria em que opera.
Enquanto a Petrobras mergulha nas profundezas do oceano (o campo de Tupi é quatro vezes mais profundo do que o poço Deepwater da BP), as companhias de petróleo disputam a exploração das areias oleosas canadenses. Também conhecidas como areias betuminosas, trata-se de regiões em que o betume se acha incrustado em estado sólido na terra. Para extrair o petróleo, é preciso remover grandes quantidades de terra submetendo-as a diversos processos químicos que permitirão destilar um montante pequeno de petróleo cru de qualidade inferior. O processo é caro e consome muita energia. Além disso, são grandes as chances de poluição da água e de produção de refugo nocivo.
A Cambridge Energy Research Associates, instituição especializada no setor, estima que o combustível extraído de areias oleosas contenha de 5% a 15% a mais de carbono do que o combustível convencional. Não obstante, num mundo em que os governos nacionais e os investidores exigem a substituição das reservas esgotadas, a maior parte das companhias de petróleo de grande porte considera a exploração das areias oleosas uma grande oportunidade.
No início de 2010, os acionistas mais militantes colocavam objeções aos investimentos em areias oleosas das grandes empresas americanas e europeias, e até mesmo alguns varejistas americanos, como a Whole Foods e Bed Bath and Beyond, confirmaram sua intenção de boicotar a energia produzida com areia oleosa. Reações desse tipo talvez tenham mais casca do que conteúdo, já que é difícil para o comprador identificar a origem do petróleo, e a não ser que esses investidores decidissem abandoná-lo completamente, seria difícil evitá-lo. No entanto, eles estão tomando posição e indicando que as empresas que rejeitarem veementemente os conceitos de consumo sustentável enfrentarão oposição.
Fonte: Época negócios