Prédio energia zero é futuro, diz professor

Charles Kibert, da Florida University: “A esperança da construção civil está nos Edifícios de Energia Zero, que produzem mais energia do que consomem no período de um ano”

SÃO PAULO – No futuro, toda a energia consumida por uma família em atividades cotidianas como aquecer a água, usar eletrodomésticos e até mesmo recarregar um veículo elétrico, será fornecida pelo próprio edifício através de fontes renováveis.

A afirmação é do engenheiro e professor da Escola de Projeto, Construção e Planejamento da Universidade da Flórida Charles Kibert.

Segundo o especialista, o “Santo Graal” para a sustentabilidade energética da construção civil (setor que consome um terço de toda energia produzida no mundo) são os chamados Edifícios de Energia Zero (zero energy buildings ou ZEBs, na sigla em inglês), que produzem mais energia do que consomem ao longo de um ano.

Longe de um exercício de futurologia, os ZEBs já estão sendo incorporados na estratégia energética de diversos países no mundo, como Alemanha e Noruega e também nos Estados Unidos. Segundo Kibert, a Califórnia determinou recentemente, que os edifícios residenciais tenham energia zero até 2020 e os comerciais até 2030. “Em um planeta em constante aquecimento, viver dentro do orçamento da energia produzida pela natureza será imperativo”, afirma.

Em visita ao Brasil para participar do 3º Congresso de Construção Sustentável, realizado pelho Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, o especialista falou à EXAME.com.

EXAME.com: O que são os Zero Energy Buildings e porque eles serão imperativos no futuro?

Charles Kibert: Prédios comerciais e residenciais são grandes consumidores energéticos.

Nos EUA, eles usam 40% da energia primária e 70% de toda a eletricidade produzida. Se continuarem nesse ritmo, em 2025 eles estarão consumindo mais que o setor industrial e de transportes juntos. A esperança está nos Edifícios de Energia Zero, que ao longo de um ano produzem mais energia do que consomem.

Os métodos de produção podem ser os mais diversos. Nos Estados Unidos, o mais comum é o fotovoltaico, que usa a energia do sol para gerar energia. Tudo depende das características de cada região. A Alemanha tem menor incidência de sol, entretanto produz mais energia solar que a gente devido à sofisticação das tecnologia usada e aos incentivos governamentais.

Para ser um ZEB, um edifício também precisa contar com moradores conscientes, capazes de viver com um “orçamento energético” determinado pela capacidade de produção do sistema adotado.

EXAME.com: Que outras fontes alternativas, além da solar, podem ser usadas?

Charles Kibert: O sistema fotovoltaico é o mais comum por causa de sua simplicidade; são placas estáticas de captação colocadas em um telhado. Mas é possível , também, ter um gerador eólico no topo do edifício e gerar energia a partir do vento. Outras alternativas são a biomassa e até a geotérmica, gerada através do calor proveniente do interior da Terra ou do vapor quente de fontes de água subterrâneas.

EXAME.com: Um edifício pode produzir mais energia do que consome?

Charles Kibert: Pode sim, e os que conseguem são chamados de Net Positive Buildings.

A Alemanha possui um sistema bem desenvolvido que conta com um programa para incentivar a adoção de energias renováveis chamado feed-in tariff. Esse mecanismo garante o pagamento de um bônus para a energia que você produz. Nos EUA, temos um sistema parecido na Flórida, onde o consumidor paga 12 cents pela energia vinda da rede elétrica local, mas recebe 25 cents se vender a energia produzida na sua própria casa. Trata-se de um sistema que estimula a produção excedente de energia limpa nas residências.

EXAME.com: Qualquer tipo de edificação pode ser autossuficiente em energia?

Charles Kibert: Sim, mas todo o sistema deve ser pensando já na concepção da obra e implementado no começo das construção. É muito difícil e extremamente caro adaptar um edifício comum.

Atualmente, na Califórnia, as construções residenciais estão mais adiantadas no processo do que as comerciais. Prédios residenciais tendem a ser mais baixos e ter menor área, o que facilita a implementação do sistema de energia alternativa. Quanto maior o prédio, maior a área necessária para implantação do sistema gerador.

Exame.com: Em que nível estão as regulamentações para ZEBs nos EUA?

Charles Kibert: Na Califórnia todos os edifícios residenciais têm que ser zero energy building até 2020, e os comerciais, até 2030. Mas pouco a pouco, todos os EUA têm se mobilizado nesse sentido.

A política de energia nacional já determina que, em vinte anos, os ZEB´s sejam tecnicamente viáveis sob quaisquer circunstanciais para construções comerciais.

EXAME.com: Alguma certificação de construção verde, como o LEED, por exemplo, exige que um edifício seja ZEB?

Charles Kibert: Nos EUA, a American Society of Heating, Refrigerating and Air-Conditioning Engineers (ASHRAE), um importante centro desenvolvedor de standards energéticos criou, recentemente, um novo selo de energia para edificações cujo padrão máximo de qualificação (A+) só pode ser alcançado por Zero Energy Buildings.

Mas se levarmos em consideração o selo de construção sustentável LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), emitido pelo Green Build Council, veremos que pelo menos 60% de todos os pontos exigidos têm relação com a eficiência energética do prédio.

EXAME.com: Quais os países mais adiantados no desenvolvimento de ZEBs?

Charles Kibert: Há pesquisa e desenvolvimento em todas as partes do mundo, na Noruega, Canadá, Japão, nos EUA, Holanda, Itália, etc. A auto-suficiência energética tem atraído muito atenção hoje em dia por conta do aumento do preço da energia, pelo aquecimento global e problemas climáticos. Ao longo do tempo, os ZEBs diminuem os custos com energia porque usam recursos alternativos e, evitando, o uso de energia de origem fóssil conseguem diminuir as emissões de gases efeito estufa. É uma proposta bastante atrativa sob vários pontos de vista.

Fonte: INFO Online