Mar de oportunidades

Energia das ondas ainda é cara, mas projetos aumentam na Europa, embalados pela pressão por fontes mais limpas.

A conversão da energia acumulada pelos oceanos vem emergindo como uma das principais fontes alternativas de eletricidade sendo exploradas por indústrias e governos. A despeito de seu desenvolvimento não ocorrer na mesma intensidade do segmento de energia eólica, unidades experimentais de geração estão despontando pelo mundo. A Europa lidera esse esforço, com centros de pesquisas e empresas tentando converter ao uso parte do imenso volume da energia produzida pelas ondas.

Baseado no potencial das ondas em lâminas d’água de pelo menos 100 metros, calcula-se que o mundo poderá obter dessa fonte mais de 2 mil TWh anuais – ou cerca de 10% do consumo –, diz o estudo “European Thematic Network on Wave Energy”, elaborado sob os auspícios da Comissão Europeia (CE). Um avanço desse nível, porém, vai depender do progresso tecnológico e de políticas energéticas.

Acordos internacionais de proteção ao meio ambiente, cuja ênfase é reduzir o aquecimento global, têm levado governos a dar maior apoio à exploração dessa energia renovável e limpa. Afinal, a produção de eletricidade, que depende de combustíveis fósseis para cerca de 70% de sua matéria-prima, é um dos maiores contribuintes à poluição no mundo, respondendo por cerca de 40% do CO2 lançado na atmosfera pelo setor de energia, estima a International Energy Agency (IEA).

Portugal pioneiro

Na União Europeia, centros de pesquisas e empresas estão pondo em prática algumas das tecnologias amadurecidas em laboratórios ao longo dos últimos anos. A energia das ondas cresce em importância por causa da contribuição potencial que pode dar ao suprimento energético de alguns países do bloco.

As turbulentas águas dessa parte do globo têm um potencial econômico e técnico de produção de eletricidade calculado entre 150 TWh e 240 TWh anuais. Especialmente o lado oeste europeu dispõe, juntamente com as costas do Canadá, EUA, sul da Austrália e América do Sul, das melhores condições para a exploração dessa energia, segundo estudos da Comissão Europeia.

Foi em Portugal que o primeiro parque comercial desse tipo entrou em funcionamento no mundo. Em setembro de 2008, três conversores, com capacidade total de 2,25 MW, passaram a alimentar a rede de eletricidade do país.

O complexo de Aguçadoura foi montado com unidades criadas pela escocesa Pelamis Wave Power (PWP), mas os equipamentos sofreram problemas técnicos que a obrigaram a trazê-los de volta ao cais para reparos. Como a cliente, Babcock & Brown, parou por dificuldades financeiras, as unidades continuam fora de operação, embora a PWP insista que isso não foi relacionado com sua performance.

Aposta da E.ON

O novo modelo da PWP, P2, com as falhas corrigidas e melhor eficiência, foi ligado à rede elétrica da Escócia em outubro passado. Este foi encomendado pela E.ON, a segunda maior produtora e distribuidora de energia eletrica da Grã-Bretanha, e atualmente passa por um programa de avaliação. A P2 foi submetida a uma bateria de testes, com bons resultados, segundo a PWP. A E.ON planeja instalar várias dessas unidades nos próximos anos, diversificando suas fontes de energia.

Não muito distante, ainda na Escócia, a Aegir Wave Power (AWP) está se preparando para montar um parque que inicialmente contará com 14 dessas unidades e poderá depois expandir para 26. Elas serão distribuídas em uma distância de 4 km a 10 km da costa, em uma área de 2 km2 (no caso de 14 unidades). Interligadas, vão proporcionar uma capacidade instalada de 10 MW a 20 MW.

A AWP é uma joint venture entre a Pelamis e a Vattenfall, que tem o maior parque eólico offshore do mundo, na costa da Inglaterra. Com o empreendimento escocês, a empresa vai tentar extrair uma pequena parte dos 45,7 TWh de energia que se calcula ser possível obter na região.

Os conversores da Pelamis são constituídos da interligação de cinco tubos de 4 m de diâmetro que, semissubmersos, se estendem como serpente formando uma estrutura de 180 m de comprimento. Sob o efeito das ondas, a movimentação dos tubos impõe resistência às junções, o que força o bombeamento de óleo em alta pressão a operar motores hidráulicos, e estes, os geradores. Cada P2, cujo peso é da ordem de 650 t – o dobro quando se inclui os lastros –, tem capacidade nominal de 750 kW, equivalente ao consumo de 500 residências. As P2 podem ser conectadas com outras, permitindo um aumento nos níveis de produção dos parques.

Na ilha escocesa Islay há outro exemplo de captação de energia das ondas que completou, no fim de novembro, dez anos de operação. A instalação é plantada em terra, junto ao mar, com um desenho que obriga as ondas a produzirem colunas oscilantes de água, pressionando o ar acumulado numa câmara a operar as turbinas geradoras.

A planta Limpet, de 500 kW, foi construída pela Voith Hydro Wavegen e a despeito de não operar com esse objetivo tem alimentado o grid do país e gerado retorno financeiro, diz o diretor Executivo da companhia, Mathew Seed. Atualmente está sendo usada para testar diferentes turbinas, com a empresa planejando colocar em funcionamento em 2012 uma outra planta de demonstração comercial. Ocupando uma faixa de 200 m de litoral e capacidade instalada de 4 MW, ela vai fornecer energia para a RWE Npower, companhia que gera cerca de 8% da energia elétrica consumida na Grã-Bretanha.

Risco a ser dividido

Os produtos que vêm aparecendo para gerar energia das ondas vão, eventualmente, competir por uma fatia do mercado de renováveis. Mas não de imediato. Há vários tipos de conversores operando de forma experimental em vários pontos do globo, alguns até mesmo conectados a grids, mas nenhum vem funcionando em nível realmente comercial.

O custo da energia das ondas continuará a ser, ainda por muito tempo, bem mais alto que o produzido por combustíveis fósseis, e até pela energia eólica. A European Ocean Energy Association diz que a previsão fica abaixo de € 0,10 por quilowatt-hora, mais que o dobro do preço médio (€ 0,04/kWh) de eletricidade na UE.

Essa referência econômica, no entanto,importante para a alocação de investimentos, não tem diminuído o crescimento da indústria de energia marinha. “No estágio atual”, admite um dos estudos da Comissão Europeia, “tecnologias de energia de ondas oceânicas envolvem um risco financeiro significante”. Com a justificativa de que a “intervenção pública é essencial para dividir os riscos entre os participantes privados e públicos”, a CE tem apoiado esse setor com a aplicação de recursos em suas varias áreas, da pesquisa à implementação de projetos, como parte de seu programa de desenvolvimento de fontes renovaveis de energia.

Fonte: Brasil Energia – 04/12/12

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