Especialistas alertam que dólar pode interferir no preço da energia no leilão A-5

Consultores avaliam pontos da competição no certame e preveem que parques eólicos continuarão abaixo dos R$100 por MWh.

 

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Depois das surpresas dos leilões de agosto, no qual o custo de geração das eólicas ficou abaixo dos três dígitos e apenas empresas com fornecimento próprio de gás venceram, mais uma variável entra no jogo: o dólar. Para o analista financeiro da consultoria Andrade & Canellas, Guilherme Amaral, e o diretor-executivo da consultoria Excelência Energética , Erik Rego, a variação cambial é um dos fatores que podem interferir nos preços de geração no próximo leilão A-5, marcado pelo Ministério de Minas e Energia para 20 de dezembro.

No próximo certame, que contratará energia elétrica com fornecimento a partir de 2016, foram inscritos 377 projetos, somando 24.253MW em disputa. Desse total, mais da metade (53%) corresponde às termelétricas a gás natural, com 34 projetos e 12.864MW.

“O preço do dólar frente ao real pode ser um fator predominante para definição dos custos de geração”, avalia Erik Rego. Guilherme Amaral, da A&C, concorda que “o dólar é uma das variáveis que pode frear o preço do leilão”. A explicação é que o gás que a alimenta as termelétricas, por exemplo, é precificado por cotação internacional, suscetível a variação da moeda norte-americana. Mas não é apenas isso: os projetos em si, mesmo os eólicos, não possuem 100% dos equipamentos produzidos no Brasil e precisam recorrer também a importações.

Outra grande interrogação refere-se às estratégias que serão adotadas pelos investidores eólicos. O fato de a fonte agora ter cinco anos para iniciar a operação pode dar mais competitividade para esse tipo de geração, já que os investidores podem optar por colocar os projetos para gerar antes desse prazo e vender essa energia no mercado livre. Segundo Amaral, a possibilidade está sendo considerada pelos investidores. Entretanto, ele alerta que, para que isso seja realidade, é preciso que a conclusão dos sistemas de conexão à rede, as chamadas ICGs, coincida com a conclusão dos parques.

“Está difícil prever quais serão as estratégias utilizadas para deixar a geração eólica mais competitiva. No A-3, falamos que a fonte não seria vendida a menos de R$100 por MWh e isso aconteceu. A única certeza é que os preços devem se manter abaixo disso”, prevê Amaral. A entrada de fornecedores chineses também pode contribuir para reduzir os preços. Erik, da Excelência Energética, acredita que fornecedores de equipamentos que não venderam no meio do ano podem eferecer preços mais agressivos, até mesmo para se proteger da ameaça da indústria da China.

Questionado sobre o risco a que o sistema elétrico brasileiro pode estar sendo exposto por optar pela expansão por meio de fontes alternativas, o consultor da Andrade & Canellas é categórico: “esse é um risco que está sendo considerado pela EPE. Não há mais espaço para aventureiros como no passado”.

Sobre o volume de empreendimentos de gás cadastrados, Amaral diz não estar surpreso. Para ele, a grande questão está sobre o fornecimento do gás, já que fatores como inflexibilidade e produção própria do insumo foram decisivos para que projetos da Petrobras e da MPX, de Eike Batista, saíssem como vencedores no A-3 de agosto. “O custo do gás é parte principal na formação do preço de geração das térmicas e essa diferença entre um contrato e outro acaba favorecendo projetos nos quais a estatal é sócia”. Para Rego, a pressão da imprensa sobre a Petrobras pode fazer com que ela, para evitar o desgaste, ofereça inflexibilidades menores para seus clientes.

As cinco usinas hidrelétricas do rio Parnaíba são outra questão que gera dúvidas no mercado. “Essas usinas só se viabilizam se forem vendias em um único bloco, as cinco”, calcula Guilherme Amaral. O problema é que a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) admite que não há perspectiva de que a UHE Uruçuí (134MW) obtenha licença prévia até o leilão. Erik Rego acredita que, apesar disso, o governo vai optar por contratar toda a energia oferecida pelas hidrelétricas, mesmo que o custo seja maior, e depois tentar equilibrar a diferença nas demais fontes em disputa.

Fonte: Jornal da energia

1008jia2001