Motivos e impactos da onda de calor no país
Em setembro de 2023, o Brasil testemunhou um aumento repentino de temperatura que resultou no recorde de temperatura para o mês desde que se tem registro, além em um alerta climático urgente, inclusive “ de grande perigo” para 11 estados brasileiros, emitido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O Instituto emite esse tipo de alerta quando há previsão de temperaturas 5 ºC acima da média histórica de uma determinada região e época por pelo menos cinco dias consecutivos. Para o órgão, isso caracteriza um fenômeno meteorológico de “intensidade excepcional, com grande probabilidade de ocorrência de grandes danos e acidentes, com riscos para a integridade física ou mesmo à vida humana”. Este fenômeno surpreendente, embora momentâneo, levanta questões cruciais sobre as mudanças climáticas que estão moldando nosso planeta.
Nesse texto, vamos examinar os principais motivos por trás desse aumento de temperatura neste mês crítico e seus impactos no Brasil e no mundo.
Fenômeno El Nino
Um dos fenômenos responsáveis pelo aumento excessivo das temperaturas médias pelo país é o que chamamos de “El Nino”, o mesmo é um fenômeno climático que ocorre no Oceano Pacífico tropical e está associado a variações periódicas nas temperaturas da superfície do mar. Especificamente, o El Niño é caracterizado pelo aquecimento anômalo das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial, principalmente na região central e leste do Pacífico. Esse aquecimento anômalo pode ocorrer de forma irregular, com intervalos que variam de dois a sete anos.
Dentre os impactos do fenômeno no sistema atual podemos destacar:
- Aumento de Temperaturas e Secas: O El Niño geralmente está associado a um aquecimento anômalo das águas superficiais do Oceano Pacífico tropical, o que pode levar ao aumento das temperaturas e secas em algumas regiões do Brasil. Isso pode afetar a agricultura, a disponibilidade de água e aumentar o risco de incêndios florestais.
- Mudanças nos Padrões de Precipitação: O El Niño também pode alterar os padrões de precipitação em várias partes do Brasil. Algumas áreas podem experimentar chuvas intensas e inundações, enquanto outras podem enfrentar condições mais secas e estiagens, dependendo da intensidade do El Niño.
- Impactos na Agricultura: Os efeitos do El Niño nas chuvas e nas temperaturas podem afetar a produção agrícola, incluindo culturas como a soja, o milho e o café. Isso pode ter implicações econômicas significativas para o Brasil, que é um importante produtor agrícola a nível mundial.
Aqui vai um vídeo para melhor entendimento sobre o que é o El Niño:
Aquecimento global
O aquecimento global refere-se ao aumento da temperatura média da superfície da Terra e da atmosfera ao longo do tempo. Esse fenômeno tem sido observado desde meados do século XIX e tem se intensificado nas últimas décadas. O aumento das temperaturas tem impactos significativos no clima, nos ecossistemas e nas sociedades humanas em todo o mundo.
Motivos do aquecimento global:
- Emissões de gases de efeito estufa: A principal causa do aquecimento global é a emissão de gases de efeito estufa, como dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), provenientes de atividades humanas. A queima de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás natural, para energia e transporte é a fonte dominante de CO2. A agricultura, pecuária e aterros sanitários contribuem para a emissão de metano, enquanto a agricultura e a indústria também liberam óxido nitroso.
- Desmatamento e uso da terra: A destruição de florestas e o desmatamento contribuem para o aquecimento global, uma vez que as árvores absorvem CO2 da atmosfera e armazenam carbono. Quando as florestas são cortadas ou queimadas, esse carbono é liberado na atmosfera. Além disso, o uso insustentável da terra para a agricultura, urbanização e expansão de infraestrutura contribui para as emissões de gases de efeito estufa.
- Industrialização e processos químicos: As atividades industriais, como a produção de cimento, aço e produtos químicos, liberam grandes quantidades de CO2 e outros gases de efeito estufa. A adoção de tecnologias mais limpas e a redução das emissões industriais são importantes para mitigar o aquecimento global.
- Agricultura e pecuária intensivas: A produção agrícola em larga escala e a pecuária intensiva contribuem para as emissões de gases de efeito estufa devido ao uso de fertilizantes, emissões de metano dos animais e práticas de gestão inadequadas.
Impactos no Brasil
Setembro de 2023 foi o mês mais quente já registrado na história do Brasil, com temperaturas quase 1,75°C acima da média de 1850 a 1900 (período pré-industrial). A temperatura média na superfície ficou em 16,38°C, cerca de 0,5°C acima da temperatura do setembro mais quente até então, em 2020.
As temperaturas na casa dos 40°C e 41°C foram registradas no Centro-Oeste, Norte, interior do Nordeste e também no noroeste de Minas Gerais. A cidade de São Romão/MG registrou a maior temperatura do país em 26 de setembro deste ano, com 43,5°C.
Aqui você encontra um resumo das máximas temperaturas registradas em todo o país.
Impactos Globais
De acordo com o sistema europeu Copernicus, a temperatura média da superfície em setembro foi de 16,38ºC, meio grau centígrado acima da média registrada em setembro de 2022 e cerca de 1,75ºC mais quente para o mês de setembro em comparação com o período de 1850-1900. Na comparação com a média de 1991-2020, o último mês foi 0,93ºC mais quente, tornando este mês o mais anômalo desde pelo menos 1940.
Além disso, a média global de temperatura de janeiro a setembro de 2023 superou em 0,05ºC a média do mesmo período de 2016, que até agora detém o título de ano mais quente registrado. Esses dados apontam para a probabilidade de que as temperaturas médias continuem acima do normal nos próximos meses, tornando praticamente certo que 2023 será classificado como o ano mais quente já registrado na história.
Impactos na distribuição e consumo de energia
O aumento das temperaturas pode causar estresse térmico em linhas de transmissão, transformadores e outros componentes da infraestrutura elétrica. Isso pode levar a falhas e interrupções no fornecimento de energia, especialmente durante ondas de calor, que tende a se manter até o fim de 2023.
Além disso, leva a um aumento na demanda por energia, já que as pessoas recorrem ao uso de ar condicionado, ventiladores e sistemas de refrigeração para manter o conforto térmico em suas casas e locais de trabalho. Isso resulta em picos de demanda de energia, sobrecarregando a infraestrutura elétrica e aumentando os custos de operação das empresas de energia e consequentemente do consumo. Além de afetar os padrões de consumo de eletricidade, necessitando assim, de uma adaptação das estratégias de distribuição de energia para atender às flutuações na demanda.