Copenhagen, A Cidade Mais Sustentável do Mundo
A cidade dinamarquesa fundada em 1160 sustenta o título de “A cidade mais verde do mundo”, cedido à ela em 2017 pelo grupo C40 de Grandes Cidade para a Liderança Climática.
Mas afinal, o que levou Copenhagen a investir tanto na sustentabilidade e o que fez a cidade se destacar a ponto de se tornar um exemplo para as demais?
Basta voltar um pouco na história para compreender melhor os processos de mudança pelos quais a Dinamarca passou nos últimos setenta anos.
Em 1960, com um relativo atraso quando comparada com os demais países da Europa ocidental, foi quando a Dinamarca realmente deu um salto em seu PIB, o qual passou a ser considerado um dos maiores na Europa. Pode-se dizer que isso foi uma consequência da industrialização e urbanização do país, o que não só auxiliou a economia da Dinamarca, mas também elevou consideravelmente o consumo de energia no país.
Contudo, o estado não pode aproveitar desse crescimento por muitos anos, pois logo em 1967 a Guerra dos Seis Dias elevou as preocupações mundiais em relação a segurança do abastecimento de petróleo, o qual era um dos principais meios de geração de energia juntamente com o gás natural. Poucos anos depois, em 1973, como consequência das tensões internacionais causadas pelo apoio a Israel na Guerra de Yom Kippur, na qual Egito e Síria uniram forças para retomar os territórios perdidos na Guerra dos Seis Dias, a Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo decretou um embargo petrolífero que causou uma crise na política e economia global devido ao aumento e a escassez de combustível.
O choque foi global e não só afetou a produção industrial da Dinamarca como também causou uma estagnação no consumo de energia e no crescimento do país, pois dependia de combustíveis fósseis para cerca de 90% da sua produção de energia. Devido ao forte impacto sofrido pelo país, foi necessária uma intervenção do estado na economia visando garantir o suprimento básico de energia para a sociedade, como o aquecimento de casas. Essa interferência gerou inúmeras regulamentações para o setor e modificou para sempre o modelo de produção energética da Dinamarca.
Para Estados dependentes de combustíveis fósseis para a geração de energia havia algumas formas para tentar sofrer menos com a crise, dentre elas, voltar ao uso de carvão natural ou investir em novas tecnologias para fortalecer o sistema de geração e potência local, como energia nuclear e eólica.
Sabendo a posição atual da Dinamarca e sua representação mundial como um país líder em sustentabilidade e economia ecológica, é possível imaginar a decisão tomada pelos governantes da época. Visando recuperar a taxa de crescimento do PIB as companhias de geração energia focaram em novos meios de produção e na melhora da eficiência da transmissão.
Por volta de 1980, os primeiros documentos voltados para a importância da preservação ambiental e da necessidade de adoção de uma produção energética renovável para evitar uma nova crise de abastecimento começaram a ser divulgados, espertamente a Dinamarca compreendeu que deveria priorizar um modelo sustentável de desenvolvimento e desde então todo o seu processo de crescimento busca aproveitar da melhor forma possível os recursos naturais e investir em fontes limpas e renováveis para a geração de energia.
Para entender a proporção dos impactos das parcerias públicas privadas do país é importante ressaltar que desde 1980 o PIB teve um crescimento de 100% enquanto o consumo de energia foi de apenas 6%, já o consumo de água caiu em torno de 40%!
Qual a característica da matriz energética da Dinamarca atualmente?
Apesar do investimento constante em energias renováveis, o país, em 2016, ainda tinha uma dependência de termelétricas que chegava na casa dos 50%, as quais possuem diferentes formas de abastecimento, dentre combustíveis fósseis até biomassa.
Contudo, a Dinamarca tem a projeção de reduzir essa dependência para apenas 14% até 2025 e se tornar independente desses até 2050.
Além disso, cerca de 47% da matriz é composta por geração eólica. Os parques eólicos em terra chegaram a 29%, enquanto a produção off-shore alcançou 18%. Algo promissor para um país europeu que está construindo uma ilha artificial no Mar do Norte que promete fornecer energia renovável e limpa, assim como uma produção interessante de hidrogênio verde para navios, aviões e transportes pesados.
Políticas ambientais que beneficiam o desenvolvimento verde:
Dentre as medidas governamentais apoiadas pela Dinamarca através da declaração do crescimento verde disponibilizada pelo OECD 50 estão:
A procura por inovação sustentável através de contratos públicos;
A imposição de normas e regulamentações para o mercado da construção, inovação e tecnológica;
Incentivos fiscais e congelamento de preços de mercadorias essenciais para a sustentabilidade, subsídios governamentais;
Investimento em educação e capacitação de profissionais para a criação de medidas verdes inovadoras;
A criação de prêmios voltados para a criação de tecnologias voltadas para a sustentabilidade;
A ampliação as redes de acesso à informação e conhecimento;
A criação se políticas comerciais e de investimentos, facilitando o acesso a fundos de investimentos compartilhados, empréstimos e financiamentos para empresas verdes;
O replanejamento dos meios de transporte e da estrutura urbana;
Por que Copenhagen ganhou destaque?
A cidade também faz parte do comprometimento com a sustentabilidade adotado pelo país, mas além disso, alguns outros fatores colocam Copenhagen em uma posição de destaque, pois adaptou sua dinâmica urbana para conseguir um novo modelo de desenvolvimento.
- Paraíso das Bicicletas:
Uma das principais características da cidade é o clima ameno para frios e o fato de ser majoritariamente plana, fato que propiciou muito a adoção de bicicletas como um dos meios de transporte mais importantes dos habitantes. Em 2016 havia 675.000 bicicletas na cidade e apenas e 125.000 carros. Cerca de 62% dos moradores usam as bicicletas para ir ao local de trabalho ou estudo. Além disso, a cidade conta com um sistema de comutação de bicicletas, onde você pode alugar uma bike em um “posto” e deixar em outro “posto” perto do seu destino final.
É válido comentar também sobre o espaço dedicado a esse meio de transporte, são mais de 400 km apenas de ciclovias que conectam toda a cidade. Fora isso, existe também um sistema logísticos chamado “onda verde” que permite que os ciclistas praticamente não precisem ficar parados em sinais de trânsito.
2. Natureza, Espaços Verdes e Arborização:
Existe uma lei na cidade que obriga alguns edifícios novos a adotarem telhados verdes. Esses ambientes tem diversos propósitos, como a coleta de água da chuva, a manutenção de uma temperatura agradável na construção e até mesmo nas ruas, caso vários edifícios nos arredores possuam o mesmo sistema. Os telhados verdes ajudam a refletir parte dos raios infravermelhos, que seriam absorvidos pelo concreto, e também auxiliam na manutenção da qualidade do ar.
Outra ação interessante é o fato do governo da cidade ter concretizado um processo de arborização da cidade com árvores frutíferas, essas, além de promover sombra e melhorar a qualidade do ar, também podem fornecer alimentos para a população. Existe um aplicativo na cidade que fala onde você pode colher as frutas da época e até mesmo ensina receitas para os usuários.
3. Renovação e energia:
Existe um projeto ativo na cidade desde de 2020 de substituição de todos os ônibus a diesel por ônibus elétricos.
Além disso existem investimentos e incentivos constantes para a instalação de painéis fotovoltaicos.
4. Big Data:
A cidade usa um sistema inteligente e interligado de sensores e microprocessadores para monitorar prédios públicos e assim melhorar a eficiência desses. Os dados constantes compartilhados ajudam os funcionários a controlarem o desperdício de água. Além disso, graças a esse sistema é possível detectar vazamentos na distribuição e nas válvulas, otimizando o processo de reparo.
Fontes:
The 1973 oil crisis and the designing of a Danish energy policy
Denmark’s Wind of Change – TIME
A Experiência Dinamarquesa com a Integração de Energias Renováveis Variáveis
What has made Copenhagen the green capital of the world?
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