Entrevista com o Professor Éder Barboza Kapisch
O professor Éder Barboza Kapisch possui graduação em Engenharia Elétrica pela UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), concluída em 2013. Finalizou o curso de Mestrado em Engenharia Elétrica em 2015, na área de Sistemas Eletrônicos, com linha de pesquisa em Processamento de Sinais, também pela UFJF, como bolsista do CNPq. Entre os anos de 2017 e 2018, participou do Programa de Doutorado Sanduíche (PDSE), da CAPES, na Eindhoven University of Technology (TU/e), Holanda, onde se especializou no desenvolvimento e implementação de técnicas de estimação da frequência fundamental de sistemas de potência. Em 2019, concluiu o doutorado em Engenharia Elétrica pela UFJF, com foco na implementação de algoritmos de Processamento Digital de Sinais (PDS) para Qualidade de Energia (QE), utilizando plataforma FPGA.
Atualmente, é professor adjunto na Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais.
O PET Elétrica realizou uma entrevista com o professor Éder, conhecendo melhor sua área de pesquisa e atuação, as diferenças que ele enxerga hoje como professor em relação à época de aluno e as experiências que ele pode compartilhar sobre a engenharia.
O que o motivou a escolher a área de Processamento de Sinais e Qualidade de Energia como foco de pesquisa? Já se interessava pela área antes? Algum professor teve um impacto direto nessa escolha?
“Durante a minha graduação, pude ter contato com algumas áreas de pesquisa, não apenas Qualidade de Energia (QE). Dentre elas, Eficiência Energética, Física Aplicada, entre outras. Não foi uma área que me interessou desde cedo, mas foi uma das que mais me aprofundei no fim do curso. Fui me aproximando bastante desse campo, principalmente pela influência do professor Carlos Augusto Duque, que foi meu orientador de iniciação científica, no TCC, no mestrado e no doutorado. Outros professores que tiveram grande participação foram o professor Danilo Pereira Pinto, meu primeiro orientador na área de Engenharia Elétrica, o professor Luciano Manhães, que me coorientou durante a pós-graduação, e o professor Leandro Manso.”
Como os projetos desenvolvidos no LAPTEL e PSCOPE influenciaram sua carreira e as pesquisas que você realiza atualmente?
“Os projetos desenvolvidos no LAPTEL pelo grupo de pesquisa PSCOPE, do qual faço parte, formam a base das minhas pesquisas científicas. É por meio desses projetos que posso transmitir aos meus alunos os conhecimentos obtidos durante a minha formação, da mesma forma que fui orientado enquanto aluno. Essas atividades me ajudam a consolidar ainda mais os conhecimentos e a aplicá-los de forma prática na implementação de dispositivos tecnológicos voltados para aplicações de QE.”
Como foi a experiência de participar do Programa de Doutorado Sanduíche na Holanda? Quais foram os maiores aprendizados profissionais e pessoais dessa experiência?
“Essa experiência foi de grande valor tanto no âmbito profissional quanto pessoal. Me ajudou a expandir minha rede de contatos, a ampliar minha visão de mundo e a desenvolver minha capacidade de resolução de problemas. Acredito que uma experiência internacional é muito enriquecedora para qualquer formação, principalmente na área tecnológica.”
Que diferenças você notou entre a abordagem acadêmica na Universidade de Tecnologia de Eindhoven e na UFJF? Como essa experiência internacional influenciou sua visão sobre pesquisa e ensino?
“A Universidade de Tecnologia de Eindhoven é totalmente voltada para tecnologia e inovação, então os alunos ficam constantemente imersos nesse contexto. As disciplinas práticas mostram uma grande interação entre os alunos e as aplicações tecnológicas. Muitas vezes, é possível ver grupos de estudo desenvolvendo dispositivos robóticos nos laboratórios. A infraestrutura moderna também contribui para uma formação técnica mais aprofundada.”
Como foi a transição de aluno para professor na UFJF? Quais foram as maiores dificuldades e aprendizados nesse processo?
“A transição para o magistério superior ocorreu de forma natural, pois a universidade em que me formei foi a mesma em que comecei a atuar como professor. Assim, eu já conhecia a maioria dos professores, que se tornaram meus colegas de trabalho. Por um lado, isso foi positivo pela familiaridade, mas, por outro, foi desafiador lutar pelo meu espaço como professor e deixar de ser visto como aluno. Além disso, aprendi que o ensino é o grau mais elevado do aprendizado. Até hoje, ao lecionar, procuro me aprofundar e me atualizar no conteúdo, e, assim, continuo aprendendo.”
Como sua experiência como aluno influencia sua abordagem pedagógica e sua relação com os alunos hoje?
“Ter sido aluno me ajuda a pensar como o aluno e tentar adaptar minha forma de transmitir o conhecimento para que seja melhor compreendido. Apesar de a geração ser outra, muitos dos desafios que eles enfrentam são semelhantes aos que enfrentei na minha época.”
Você acredita que a formação acadêmica em Engenharia Elétrica prepara suficientemente os alunos para os desafios do mercado de trabalho? O que recomendaria aos estudantes para se destacarem? Alguma visão sobre o futuro da Engenharia Elétrica?
“Sim, a formação em Engenharia Elétrica capacita o aluno a ser um profissional de destaque no mercado, não só na área de Engenharia Elétrica, mas também em áreas correlatas, como a tecnologia. Uma recomendação que sempre dou aos meus alunos é que busquem aprender um novo idioma, principalmente o inglês, que é o idioma universal da engenharia. Busquem uma experiência internacional e ampliem sua rede de contatos. A Engenharia Elétrica já é uma área com subdivisões e especializações importantes, que tendem a se ramificar ainda mais. Com o advento e a disseminação de ferramentas baseadas em inteligência artificial, acredito que essa área ganhará ainda mais visibilidade e atrairá profissionais especializados no desenvolvimento de soluções utilizando IA.”
Se pudesse voltar ao início da sua trajetória acadêmica, faria algo de forma diferente?
“Sim, faria. Acredito que sempre podemos fazer melhor. Eu me dedicaria mais cedo ao aprendizado do inglês e à busca por um intercâmbio. E, claro, me empenharia mais em algumas matérias do curso de Engenharia Elétrica.”
Como você enxerga a influência que outros grupos da faculdade, como o LEENER, tiveram sobre você? E como você vê grupos como o PET e as equipes de competição na formação dos alunos durante a faculdade?
“Os laboratórios, grupos de pesquisa e equipes de competição são grandes impulsionadores do ensino, da aplicação prática da teoria e, principalmente, do desenvolvimento de relações interpessoais, algo que muitas vezes não se aprende em sala de aula. No meu caso, a porta de entrada para as atividades de pesquisa durante a graduação foi o LEENER, sob a orientação do professor Danilo. Lá, tive importantes experiências, como o contato com a metodologia PjBL, também utilizada nas atividades do PET. Muitos dos princípios que aprendi ainda são úteis nas minhas aulas.”