Entrevista com Ana Cristina de Oliveira
Ana Cristina de Oliveira é uma engenheira graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), situada na cidade de Belo Horizonte , na qual se formou em Engenharia Elétrica com especialização em Controle de Processos. Hoje, Ana possui mestrado e doutorado, e está realizando seu pós-doutorado em pesquisa de robôs que auxiliem no processo de recuperação motora em pacientes com necessidades fisioterápicas. Para explicitar sobre a vida profissional da convidada nesse encontro, a pergunta abaixo foi feita:
Olá, Ana! Para começar esse pequeno bate-papo, gostaríamos de saber mais a respeito da sua vida profissional. Qual foi sua tragetória até conseguir estudar e pesquisar fora do país?
“Falando sobre mim, meu nome é Ana, eu sou uma engenheira de controle de processos e informações. Me formei na UFMG em 2014 e em 2015 concluí meu mestrado em Robótica.. Após isso, vim para a Universidade do Texas (Austin – TX) para concluir meu PhD (pós-doutorado). Já estou no meu sexto ano de pesquisas e pretendo me formar em julho deste ano.
Meu trabalho de mestrado foi sobre Robótica, o que me proporcionou um primeiro contato com robôs. Atualmente trabalho com robôs humanoides, um trabalho muito extenso já que são necessárias simulações. Isso se deve ao fato de que, infelizmente, não possuímos muitos investimentos nessa linha de pesquisa. Com isso não possuímos a forma física do robô para estudos e ficamos à mercê das simulações.
Logo depois de conseguir meu mestrado, eu decidi que gostaria de trabalhar com algo mais palpável, no qual eu poderia ver suas aplicações e mostrar para outras pessoas. Foi aí que descobri grandes oportunidades de especializações na Universidade do Texas e vim para pesquisar mais sobre. O laboratório no qual eu trabalho aqui estuda sobre o corpo humano e suas aplicações na robótica, ou seja, estudamos o corpo humano a partir dos robôs que temos. Meu trabalho aqui foca mais na parte de movimentos de ombros e braços humanos através desses robôs e, assim, aplicamos esses conhecimentos e utilizamos eles em recuperações físicas e em outros tipos de tratamentos.
Mais recentemente, eu aceitei um trabalho de uma companhia especializada em cirurgias feitas por robôs (cirurgias robóticas), o que provavelmente exigirá de mim um maior trabalho em pesquisas. Não reclamando, pois adoro essa área e é minha paixão (risos).
Falando sobre como vim estudar fora. Primeiramente, para ser sincera, esse nunca foi meu plano (risos). Não pretendia fazer um Ph.D., principalmente em consegui-lo nos Estados Unidos (EUA), porém obtive a oportunidade quando estava no Brasil. Com certeza obter meu mestrado no Brasil me ajudou muito na trajetória de conseguir meu Ph.D. aqui. Assim, recebi a proposta de estudar fora e foi aí que vim para a Universidade do Texas, em Austin.”
Você aconselharia alguém a ir por esse caminho de estudar fora do país?
“Acho que a trajetória de se estudar fora não é fácil. É necessário renunciar a muitas coisas, como relações pessoais. Mas para quem quiser seguir esse caminho, ter um mestrado é um grande passo, pois abrirá muitas portas para estudar e pesquisar fora do país.
O processo de se conseguir um Ph.D. é bem frustrante, muitos dos meus amigos aqui já pensaram em sair do programa de Ph.D. muitas vezes, mas apesar disso, é uma jornada na qual você aprende muito.
Se algum de vocês pretende ir por esse caminho, não abaixe a cabeça, mesmo esse processo sendo muito difícil no princípio, valerá muito a pena.”
O que você indicaria para essa futura geração que pretende fazer um PhD (pós-doutorado) fora do país?
“Primeiramente, acho que a prática e o estudo da língua inglesa é um grande facilitador, pois a maioria dos artigos e pesquisas que você encontra na área da robótica é em inglês. Além disso, com certeza outro facilitador para isso, não só como foi pra mim, seria a realização de um mestrado no Brasil. Isso abre muitas portas para quem quer iniciar os estudos de um doutorado ou pós-doutorado internacionalmente.
Apesar de o Brasil não possuir os investimentos que possuímos aqui nos EUA, os professores e mestres que o país possui são ótimos e com certeza é possível encontrar excelentes programas de mestrado aí.”
Agora Ana gostaríamos de saber um pouco sobre sua experiência como é trabalhar em um meio que, pelo menos no Brasil, ainda possui uma predominância masculina.
“Essa é uma pergunta muito interessante. Quando eu estava fazendo minha graduação em engenharia elétrica, na minha sala de aula de 100 pessoas tínhamos apenas 8 mulheres. Aqui nos EUA, quando eu comecei a trabalhar no meu laboratório, tínhamos 30 pessoas trabalhando e apenas 2 mulheres. Hoje em dia percebo que temos metade de cada trabalhando nesse meio, porém a maioria das pessoas que se graduaram ao longo dos anos nessa área ainda são homens. Ou seja, mesmo com o passar do tempo e todas as mudanças ocorridas, claramente esse meio ainda é predominantemente masculino. Há várias iniciativas aqui que tentam atrair mais mulheres para áreas das exatas, como engenharia, matemática… Isso é muito interessante.
Minha experiência sendo uma mulher no meio da engenharia, devo dizer que meus parceiros de trabalho que são homens são muito respeitosos, e não tenho nada a reclamar quanto a isso. Eles nunca me trataram diferente por conta disso, porém sei que fora desse meu pequeno mundo a história é outra. Em conferências que eu participo, por exemplo, as pessoas costumam ter seus próprios julgamentos a respeito disso. Eu tento ser respeitosa em relação a isso, mas ao mesmo tempo é bem difícil lidar com isso. Às vezes, pessoas me fazem perguntas que, por eu ser mulher, não acham que eu irei saber respondê-las. Com essas perguntas sendo feitas seguidamente eu percebi que na verdade essas pessoas não estavam interessadas realmente nas minhas respostas e sim interessadas em ver se eu realmente sabia do que elas estavam perguntando, o que, se você parar pra pensar, é bem frustrante, porque tenho que provar por muitas vezes que eu sei do que estou falando.
De forma geral, eu tento não levantar a pauta de que eu sou uma mulher na engenharia, pois isso deveria ser natural, eu sou uma mulher e sou engenheira. Isso porque eu quero que as pessoas pensem que isso é natural. Mas entendo que às vezes levantar essa pauta seja importante, pois ainda há muito preconceito em relação a isso.”
Falando sobre os pacientes que você trabalha, algum deles possuem receio em experimentar as novas tecnologias que você e sua equipe de laboratório trabalham? Qual a sua experiência com esses pacientes?
“Bom, em 2015 eu comecei os meus trabalhos em um hospital e tive contato com pacientes reais. Foi uma experiência muito interessante, pois é fora da linha da engenharia. A maioria dos pacientes que eu conversei mostraram-se empolgados com a ideia e quando acabamos a sessões de tratamento com eles, todos ficaram tristes porque não teriam mais essas sessões. Em geral, tiveram pacientes que se mostraram temerosos e outros pareciam não crentes que a tecnologia trazida iria dar em algum resultado. Pessoas vinham com um discurso de que ‘os robôs vão dominar o mundo’, esse tipo de coisa.
Tiveram esses dois tipos de pessoas, mas o que é mais gratificante é olhar a expressão desses pacientes ao passarem pelo tratamento, conseguir moverem membros que eles não conseguiriam por si só. Então, fiquei e estou muito feliz por ter passado por essa experiência!”