Conheça a ÁGORA, projeto desenvolvido com alunos do Ensino Médio do Colégio de Aplicação João XXIII

Conheça a ÁGORA, projeto desenvolvido com alunos do Ensino Médio  do Colégio de Aplicação João XXIII

Com o objetivo de  proporcionar um aprendizado diferenciado sobre temas que vão além dos tradicionais vistos em sala de aula, O CAP João XXIII oferece trimestralmente disciplinas de curta duração (carga horária de 10 horas) exclusivamente para alunos do Ensino Médio, sobre os mais variados temas.

Quem conta um pouco mais sobre o projeto, para o Energia Inteligente, é o professor Felipe José Rezende de Carvalho,  que atualmente trabalha em um projeto de doutorado que consiste em desenvolver habilidades STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) por meio de projetos utilizando robótica educacional.

“Desde que entrei no CAP João XXIII, em meados de 2016, conheci um projeto desenvolvido com alunos do Ensino Médio chamado Ágora. Trata-se de um trabalho desenvolvido pelo CAP João XXIII há vários anos. Inicialmente esse mesmo projeto recebia o nome de módulo. Em linhas gerais, podemos considerar a Ágora como um minicurso de 10h/aula que acontece no período contrário às aulas regulares. As Ágoras abordam temáticas diversas, como por exemplo: técnicas de relaxamento, idiomas, pensamento computacional, programação de computadores, contato com a natureza, utilização de tecnologias e robótica.” 

Felipe ressalta que por trimestre, são oferecidas mais de 20 Ágoras, que fazem parte da grade curricular desse segmento letivo e que todos os alunos devem, obrigatoriamente, participar de pelo menos 3 Ágoras anuais (uma por trimestre letivo) sendo de livre escolha em qual delas irá participar. 

“A proposta é que nas Ágoras as abordagens sejam as mais diversas possíveis, procurando fazer um trabalho mais prático e dinâmico, buscando romper com o trabalho tradicional que normalmente é utilizado na sala de aula no período regular.” diz o professor.

Felipe trabalha desde 2017 em duas Ágoras, juntamente com outro professor. Em uma das Ágoras é abordado a programação de computadores e na outra robótica educacional.

“Sempre gostei de procurar integrar a parte de programação de computadores e robótica ao ensino de Matemática devido a minha formação dupla. A coleta de dados do meu mestrado se deu no contexto de uma Ágora de programação de computadores e tenho a pretensão de fazer o mesmo para o doutorado com a Ágora de robótica.

Pode-se dizer que as Ágoras são complementares, visto que para o trabalho com a robótica é necessário se fazer a programação dos dispositivos. 

Para a de programação o principal software utilizado é o Scratch. Ele é um ambiente de programação visual (formato de montagem de blocos) que permite a construção de animações e histórias. Para a de robótica, além do Scratch para a programação, utilizamos o Arduino (placa micro controladora que permite a prototipagem de circuitos) na construção de pequenos artefatos robóticos.” nos conta Felipe.

Alunos do Colégio João XXIII em uma aula do projeto Ágora

Segundo o professor, hoje em dia o acesso a equipamentos de robótica ainda é muito restrito. Felipe acredita que através da Ágora, seja possível apresentar um novo mundo a vários alunos, de modo a despertar o interesse dos mesmos para uma futura profissão.

“Ouve-se muito que estamos atualmente na era da informação. Somos bombardeados o tempo todo com notícias e dados, seja no celular, seja no computador, por meio de mensagens eletrônicas ou redes sociais. 

Com isso, estamos o tempo todo utilizando o computador ou o celular para acessar essas informações; estamos utilizando uma diversidade de aplicativos e softwares, mas quase sempre, apenas “consumindo” e pouco, ou nada, “produzindo” tecnologias. Desenvolver habilidades de construir, pensar em problemas para resolvê-los, sem dúvida, é o meu maior objetivo.” reforça o professor.

Questionado sobre como a evolução tecnológica poderia afetar a metodologia do curso, Felipe nos conta que apesar da evolução tecnológica constante, o objetivo do curso não é ensinar as técnicas específicas para um determinado programa ou determinado equipamento. Para ele o desenvolvimento cognitivo alcançado dentro do curso, chamado de Pensamento Computacional, não está vinculado aos equipamentos/softwares utilizados, mas a uma capacidade que o aluno adquire, podendo utilizá-la para outros softwares ou para resolver problemas em sua vida cotidiana. 

Impactos no mercado de trabalho

Para o mestre em Ensino, pela  Universidade Estadual do Oeste do Paraná, o  ensino tradicional (sala de aula, professor falando no quadro e alunos anotando) sofre críticas há muito tempo.

“ É um modelo de ensino que foi criado para determinado público que, ao meu ver, já está bem reduzido nos dias atuais, porém, as avaliações externas como concursos e vestibulares, ainda seguem, na maioria das vezes, esse método tradicional de avaliar que, quase sempre, pouco privilegiam atividades mais práticas.

Penso que enquanto essas avaliações externas não forem reformuladas, a escola continuará sendo da mesma forma, visto que a cobrança por aprovação nesses exames é muito grande. Tenho total consciência de que uma mudança dessa magnitude está longe de ser trivial: demanda tempo, planejamento e um repensar e reformular de trabalhos arraigados na sociedade há anos.”

Para Felipe é preocupante a forma com que cada vez mais o mercado de trabalho exige profissionais inovadores e criativos, enquanto grande parte das escolas brasileiras pouco prepara seus alunos para os desafios do mercado de trabalho atual.

“Como toda a sociedade, não só o mercado de trabalho, está cada vez mais voltado a utilização de dispositivos digitais, com informações “nas nuvens”, não resta outra saída senão procurar avançar para esse meio no contexto escolar. Portanto, vejo que o Pensamento Computacional, que tanto almejo desenvolver com os alunos nas Ágoras, pode ser um caminho para auxiliá-los nesse mercado de trabalho cada vez mais inovador.” conclui o professor.

Por Luca Rodrigues Panza

Juliana Quinelato