Solar Impulse 2, um símbolo do potencial da energia solar
O sucesso do projeto do avião Solar Impulse 2, que aterrizou nesta terça-feira em Abu Dhabi e completou a primeira volta ao mundo, ilustra os avanços realizados nos últimos anos em matéria de energia solar e os usos potenciais desta fonte renovável.
Que inovações traz o Solar Impulse 2?
Ao contrário dos seu predecessores, o Solar Impulse 2 é capaz de armazenar energia suficiente nas suas baterias durante o dia para voar toda a noite.
Trata-se de um avanço conquistado graças a várias inovações tecnológicas dos industriais associados ao projeto, e potencialmente reproduzíveis.
O fabricante químico belga Solvay, por exemplo, desenvolveu baterias que armazenam mais energia sendo mais leves, assim como um material composto que deixa várias partes do avião mais leves.
O fabricante americano de painéis solares Sunpower desenvolveu as células fotovoltaicas com rendimento maior que a média.
Assim, o projeto conta com “a maior potência possível com uma superfície reduzida”, explica Cédric Philibert, especialista em energias renováveis da Agência Internacional de Energia (IEA).
A grande inovação do Solar Impulse “é principalmente o sistema” em seu conjunto, ou seja, a combinação “do que gera eletricidade, o que a armazena e os materiais que permitem transportar os passageiros”, considera por sua vez Vincent Jacques Le Seigneur, diretor do Observatório francês de Energias Renováveis.
O avião foi “concebido aplicando os princípios de eficiência”, afirma Adnan Z. Amin, diretor-geral da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena), um conceito essencial para um mundo com um consumo energético mais consciente.
Quais são os usos futuros da energia solar?
Além da produção de eletricidade através das centrais no solo ou sobre os telhados dos edifícios, o desafio é ampliar os usos da energia solar.
No transporte marítimo, já existem atualmente embarcações solares. Em 2012, o PlanetSolar deu a primeira volta ao mundo de um barco com energia solar. Este catamarã é o maior navio solar construído até hoje.
A energia solar também é empregada em drones militares, com características parecidas às do Solar Impulse.
Os avanços no armazenamento de energia também estão permitindo instalar painéis solares em zonas sem fiação elétrica.
E os progressos na densidade energética das baterias são interessantes para as “microaplicações” em certos objetos elétricos ou que continuam usando combustíveis fósseis, afirma Philibert.
É possível um avião solar comercial?
O Solar Impulse 2 não se parece nada com um avião comercial regular. Embora seja tão larga quanto um Boeing 747, a aeronave solar, fabricada em fibra de carbono, é muito mais leve, muito mais lenta e só tem capacidade para um passageiro.
“A superfície de células necessárias para transportar apenas dois seres humanos corresponde ao tamanho de um Airbus ou de um Boeing, de modo que um avião comercial solar é inconcebível” atualmente, afirma Vincent Jacques Le Seigneur.
A indústria aeronáutica trabalha em aviões elétricos alimentados por baterias recarregáveis em terra, como o E-Fan, pequeno aparelho bimotor desenvolvido pela Airbus.
Os esforços se dirigem também para o desenvolvimento de aviões que consumam menos combustíveis e de bioquerosene, produzido a partir de vegetais.
O desafio é importante, visto que o transporte aéreo representa 3% das emissões mundiais de CO2.
Qual é o papel da energia solar hoje e amanhã?
No final de 2015, havia instalados no mundo cerca de 224 gigawatts de capacidade elétrica de origem solar, um aumento de 21% ante a 2014 graças à queda dos custos desta tecnologia e à melhora dos rendimentos dos painéis solares.
A energia solar representa atualmente menos de 1% do total da energia mundial, dominada pelas energias fósseis (petróleo, carvão e gás), mas a AIE prevê que a capacidade solar se situe entre 430 e 515 GW em 2020.
Os custos da solar fotovoltaica poderiam diminuir em até 59% até 2025, segundo a Irena.
Mas inclusive na atualidade, em vários países situados no equador terrestre a energia solar é a mais barata para produzir e é rentável sem subvenção.
Fonte: Exame