Especial: Medição e gerenciamento para contornar alta das tarifas
Em face do aumento do preço da energia elétrica e de um possível racionamento, as indústrias eletrointensivas, bem como empreendimentos com carga de missão crítica, buscam aproveitar melhor a energia elétrica consumida, por meio da medição e do gerenciamento.
As fortes chuvas que ocorreram nos primeiros meses de 2015 não foram suficientes para melhorar os níveis dos reservatórios de usinas hidrelétricas do país. A maioria deles continua com o volume abaixo do que foi registrado no mesmo período do ano passado. Furnas, por exemplo, maior reservatório da região Sudeste/ Centro-Oeste apresentava em fevereiro deste ano 12,86% de sua capacidade total. Em fevereiro de 2014, o reservatório estava com 34,14% de sua capacidade.
Tal escassez hídrica vem causando grandes transtornos ao setor elétrico e, em última instância, à população. Com o intuito de compensar a falta de água nos reservatórios – e evitar um possível racionamento de energia elétrica –, o Operador Nacional do Sistema (ONS) vem despachando usinas termelétricas, cuja energia custa mais caro do que a energia produzida pelos empreendimentos hidrelétricos. Este aumento de custo era repassado regularmente aos consumidores finais durante os reajustes anuais das tarifas de energia elétrica das concessionárias de distribuição. Contudo, com o advento do sistema de bandeiras tarifárias, no início de 2015, os aumentos começaram a ser sentidos de maneira mais rápida. A elevação do custo para a geração de energia é repassada agora mensalmente para as contas de energia elétrica dos consumidores. Na atualidade, os reservatórios estão abaixo do nível desejado e as usinas termelétricas estão sendo despachadas com maior regularidade, o que enquadra as tarifas no regime de bandeira vermelha. Nele, o preço da conta de energia sofre acréscimo de R$ 0,055 para cada quilowatt-hora kWh consumido.
Some-se a isso os efeitos causados pela Medida Provisória (MP) nº 579, que tratou da antecipação da renovação das concessões das distribuidoras e estabeleceu a redução das tarifas de energia elétrica. Para que os altos custos dos distribuidores não fossem repassados aos consumidores, o Governo Federal realizou empréstimos junto a um consórcio formado por dez bancos. Em razão disso, conforme estudos feitos por especialistas do setor elétrico, o segmento acumulará para 2015 um prejuízo de R$ 105 bilhões. Dessa forma, os aumentos que não foram realizados em 2012, época da publicação da MP, se concretizaram no final de 2014. As tarifas da Elektro, por exemplo, tiveram reajuste médio de 37,78%.
Diante deste cenário, empresas que dependem fortemente da energia elétrica para produzirem, como indústrias eletrointensivas (alumínio, aço, petroquímica, papel e celulose etc.) e estabelecimentos com carga de missão crítica, como data centers, hospitais, bancos, aeroportos, shopping centers, companhias de telefonia fixa ou celular, bem como centros de operações financeiras e cartões de crédito, buscam alternativas para não ficarem tão dependentes da energia convencional e diminuírem seu consumo de energia elétrica, por meio de uma gestão de processos e gerenciamento de energia mais eficientes.
No que diz respeito especificamente às indústrias eletrointensivas, o gerente nacional de vendas da área de energia e sustentabilidade da Schneider Electric, João Carlos Salgueiro de Souza, destaca que a elevação do custo e a possibilidade de racionamento da energia elétrica aumentam a pressão sobre a competitividade e o balanço financeiro destas companhias. “A partir do momento em que não há energia, ocorrem paralisações na produção, com perdas consideráveis, até porque, para determinados processos, o tempo de desligamento da energia não corresponde necessariamente ao tempo em que os processos ficam parados”, explica Souza. “É preciso um período muito maior para recolocar em operação, às vezes para realizar a limpeza do maquinário e efetuar novamente um set up.”
De acordo com o gerente nacional de vendas da área de energia e sustentabilidade da Schneider Electric, nos estabelecimentos comerciais, uma falha de energia também pode ser bastante prejudicial. “Em alguns casos, praticamente se paralisam os negócios na ausência de equipamentos adequados para agir no momento da falta de energia”, afirma Souza, destacando que a segurança do empreendimento e das pessoas que nele trabalham também é colocada em risco.
Deve-se destacar que, por enquanto, ainda não existe nenhuma previsão de racionamento de energia elétrica. Contudo, segundo o gerente, há uma preocupação do Governo Federal em relação a isso e que ele deveria pensar em propostas de metas de redução. No que se refere às empresas, Souza destaca o fato de elas apresentarem um sistema de proteção para seus ativos diante de uma eventual falta de energia. Segundo ele, a maioria das empresas tenta contemporizar esta falta com geração temporária, seja ela a forma mais convencional, com emprego de óleo diesel, ou seja, com o emprego de gás natural para empreendimentos de maior porte.
Souza acredita que a solução para a eventual falta de energia elétrica não pode se resumir simplesmente à instalação de geradores. Para ele é preciso que a planta, empreendimento ou edifício passe primeiro por um diagnóstico energético a fim de identificar onde existe espaço para a redução do consumo e, depois, com base em um volume de consumo otimizado, sejam dimensionados os sistemas de gerenciamento.
O gerente da Schneider Electric conta que um dos objetivos da empresa é aproveitar este “problema” de escassez de energia e tarifas elevadas que está sendo vivenciado atualmente para que se torne uma oportunidade real de melhoria para as organizações. “Seja a partir do entendimento correto da contratação da energia, do impacto do custo da energia e das interrupções no negócio ou por meio do oferecimento de estratégias adequadas de compra para isso”, declara. A geração alternativa de energia também é uma possível solução, desde que seja dimensionada na medida certa para o empreendimento.
O gerente destaca também o trabalho da Schneider no desenvolvimento de tecnologias voltadas para gerenciar a energia elétrica utilizada nas plantas fabris e outros tipos de edificações para que o cliente conheça melhor a performance energética dos seus ativos. O monitoramento remoto de energia via internet é uma dessas tecnologias. Isso faz o cliente de uma cadeia de varejo, por exemplo, que tem inúmeras lojas, conseguir, por uma solução na nuvem, obter todas as informações e dados de consumo, de centenas de locais e de centenas de supermercados, interagindo com as pessoas que estão nestes empreendimentos para que elas controlem corretamente a utilização dos ativos e corrijam eventuais falhas.
Outra solução desenvolvida pela empresa diz respeito à gestão específica para estabelecimentos com cargas de missão crítica. A solução, que visa o monitoramento dos ativos de energia crítica – geradores, nobreaks, chaves de transferência –, possui a capacidade de testar ciclicamente e de forma automática estes equipamentos.
Aliás, a falta de uma manutenção periódica nos geradores é um dos principais problemas das instalações com carga de missão crítica, segundo Souza. Na maior parte dos casos, o gerador é acionado apenas e tão somente em situações emergenciais, afirma o gerente. Mas para que ele seja preparado para funcionar corretamente nestes momentos, precisa ser testado com regularidade. “Geralmente, quando não existem ferramentas de gerenciamento para fazer isso automaticamente, grande parte destes empreendimentos acaba negligenciando este trabalho e, no momento necessário, os equipamentos não respondem a contento”, diz. Para a realização desta atividade de manutenção são utilizados medidores de energia, os quais dependem de uma integração com uma série de dados dos disjuntores e dos painéis. Posteriormente, estas informações são coletadas e transmitidas por meio de relatórios de conformidade.
Souza comenta que a principal função do gerenciamento de energia é criar para o usuário o entendimento de como a energia pode ser utilizada, sendo sua base a máxima: “se você consegue gerenciar aquilo que mede, você consegue utilizar aquilo que gerencia”. O grande obstáculo mora no fato de as organizações, conforme o gerente da Schneider, não se preocuparem diretamente com a avaliação da origem do próprio consumo de energia elétrica. Por meio das ferramentas de gerenciamento de energia, o cliente consegue, porém, acompanhar o consumo em tempo real, ao longo do tempo, em vez de verificar o volume de consumo apenas ao receber a conta de energia no final do mês.
Com o acompanhamento automático e em tempo real de seu consumo, a empresa pode, por meio das variações que ocorrem nele, saber, por exemplo, se a operação dos sistemas de ar condicionado está adequada, ou utilizar de maneira mais eficiente os sistemas de iluminação, programando a luz de um determinado escritório para se apagar entre 22h e 23h, faixa de horário em que os funcionários normalmente já deixaram o recinto. Munido dos dados coletados pelas medições, o cliente tem a possibilidade de corrigir seus diversos problemas de consumo.
Os sistemas de gerenciamento de energia podem, em suma, funcionar como ferramentas de medição e verificação do desempenho dos sistemas ou de resultados, servindo como base para implementação de medidas de conservação e de eficiência energética.
Fonte: O Setor Elétrico