Análise de Sangue em Laboratório: Etapas Detalhadas

Um exame de sangue, também conhecido como hemograma, é uma série de testes realizados sobre uma amostra de sangue do paciente. Indispensável nos exames de rotina, esse teste é capaz de analisar a quantidade dos nutrientes em seu corpo e a possível existência de doenças. 

Hoje iremos entender como são realizadas as etapas e como é feita a interpretação dos resultados.

Recepção e Preparação da Amostra

• Recepção: Ao chegar no laboratório, as amostras de sangue são verificadas para garantir que estejam devidamente rotuladas e identificadas. 
• Preparação da Amostra: Dependendo dos testes a serem realizados, as amostras podem precisar ser preparadas. Isso pode incluir a separação das diferentes frações do sangue, como plasma, soro e células, utilizando centrífugas.

Análises Bioquímicas

Essas análises avaliam componentes químicos no sangue e são essenciais para verificar a função dos órgãos e o equilíbrio metabólico:

• Glicose: . A amostra de sangue é misturada com um reagente que contém a enzima glicose oxidase. Esta enzima reage com a glicose formando ácido glucurônico e peróxido de hidrogênio. O peróxido de hidrogênio reage com outro reagente, produzindo uma cor que é medida por um espectrofotômetro. A intensidade da cor é proporcional à concentração de glicose. Avalia o controle do açúcar no sangue, importante para diagnosticar e monitorar diabetes mellitus.
• Colesterol e Lipídios: A medição do colesterol e dos triglicerídeos envolve a separação das lipoproteínas usando métodos como ultracentrifugação ou técnicas de precipitação. Após a separação, os níveis de colesterol LDL, HDL e triglicerídeos são quantificados utilizando métodos enzimáticos e colorimétricos.. Esses testes avaliam o risco de doenças cardiovasculares e a saúde geral do coração.
• Função Hepática: Envolve testes que medem enzimas como ALT (alanina aminotransferase), AST (aspartato aminotransferase), fosfatase alcalina e bilirrubina. Esses testes ajudam a avaliar a saúde do fígado e a identificar possíveis doenças hepáticas.
• Função Renal: Inclui a medição de creatinina (medida por um método colorimétrico que envolve a reação da creatinina com o ácido píruvico e um reagente colorido)  e ureia (quantificada usando um teste enzimático que mede a ureia no sangue, baseada na reação com a urease e outros reagentes) . Esses testes ajudam a avaliar a capacidade dos rins de filtrar resíduos e manter o equilíbrio de fluidos e eletrólitos.

Análise de Vitaminas no Sangue

As vitaminas lipossolúveis são analisadas por métodos que requerem a extração e a quantificação de suas formas ativas no sangue.

• Vitamina A: é medida principalmente como retinol, a forma ativa da vitamina. O processo geralmente envolve a extração do retinol do plasma sanguíneo usando solventes orgânicos, seguido por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC). A HPLC separa os compostos baseados em suas propriedades químicas e permite a quantificação do retinol com alta precisão. Importante para a saúde ocular, o sistema imunológico e a função celular.
• Vitamina D: é medida como 25-hidroxivitamina D (25(OH)D), a forma circulante mais comum. O teste é realizado por HPLC ou métodos de quimioluminescência. A amostra de sangue é processada para separar a vitamina D dos outros componentes, e a quantidade de 25(OH)D é quantificada. Crucial para a saúde óssea, o sistema imunológico e a regulação do cálcio
• Vitamina E: é medida por HPLC após a extração do plasma sanguíneo. O método separa os diferentes tipos de tocoferóis (alfa, beta, gama e delta) e quantifica a concentração de cada um usando detecção por fluorescência ou espectrometria. É um antioxidante importante para a proteção celular e a função imunológica.
• Vitamina K: é analisada por HPLC, geralmente após a extração do plasma. O teste separa as formas de vitamina K (K1 e K2) e quantifica-as com precisão usando detecção por fluorescência ou espectrometria. Avalia a função de coagulação e a saúde óssea, já que a vitamina K é essencial para a síntese de proteínas envolvidas na coagulação e no metabolismo ósseo.

Ainda é possível analisar as vitaminas hidrossolúveis. Os testes para essas vitaminas geralmente envolvem técnicas de cromatografia ou ensaios imunológicos.

• Vitamina C: é medida por métodos de titulação colorimétrica, onde a vitamina C reage com um reagente para formar um composto colorido. A intensidade da cor é medida por espectrofotometria e é proporcional à concentração de vitamina C no plasma. Essencial para a saúde imunológica, a síntese de colágeno e a proteção antioxidante.
• Vitaminas B: são medidas por HPLC ou métodos de quimioluminescência. Cada vitamina (como B12, B6, B9, entre outras) é analisada individualmente, com técnicas específicas de extração e quantificação.
  • Vitamina B12: Analisada por métodos de quimioluminescência ou imunossorção. A amostra de sangue é misturada com anticorpos específicos que se ligam à vitamina B12.
  • Ácido Fólico (Vitamina B9): Medido por HPLC ou métodos imunoenzimáticos que quantificam a concentração no plasma.
  • Vitamina B6: Analisada por HPLC ou técnicas de fluorimetria após extração do plasma.

Análise de células sanguíneas

É uma etapa que é essencial para diagnosticar condições como anemia, leucemia e distúrbios de coagulação:

• Contagem de Glóbulos Vermelhos (Eritrócitos):  Avalia a quantidade de glóbulos vermelhos no sangue por meio de um contador automático de células que usa a técnica de impedância elétrica ou análise de imagem para contar e medir o volume dos glóbulos vermelhos. É importante para o transporte de oxigênio.
• Hemoglobina e Hematócrito: Medem a capacidade de transporte de oxigênio (medida usando métodos como o teste colorimétrico de cianomethemoglobina, que envolve a conversão da hemoglobina em um composto colorido que é quantificado por espectrofotometria) e o volume percentual de glóbulos vermelhos no sangue (geralmente medido pelo método de centrifugação do sangue), respectivamente. São indicadores chave da saúde do sangue e podem indicar anemia ou outras condições hematológicas.
• Contagem de Glóbulos Brancos (Leucócitos): Utiliza a contagem automatizada por impedância elétrica ou métodos de citometria de fluxo, que os quantificam com base em propriedades físicas e de luz. Avalia a resposta imunológica do corpo. Contagens elevadas podem indicar infecção, inflamação ou leucemia, enquanto contagens baixas podem sugerir problemas na medula óssea ou condições autoimunes.
• Plaquetas: Usa -se a contagem automática por impedância elétrica ou citometria de fluxo. São responsáveis pela coagulação do sangue. Níveis baixos podem levar a problemas de sangramento, enquanto níveis elevados podem aumentar o risco de trombose.

Análises de Eletrólitos e Outros Componentes

Esses testes medem a concentração de minerais e outros componentes importantes para o equilíbrio eletrolítico e a função celular:

• Sódio, Potássio e Cloreto: Esses eletrólitos são cruciais para o equilíbrio de fluidos, função nervosa e muscular. Os dois primeiros são medidos por espectrometria de emissão atômica ou métodos eletroquímicos como eletrodos seletivos de íons. O cloreto é medido por métodos como titulação direta ou eletrodos seletivos de íons. Alterações nos níveis podem indicar problemas renais, desidratação ou condições endócrinas.
• Cálcio e Fosfato: Medem os níveis de minerais importantes para a saúde óssea e o metabolismo.São medidos por métodos colorimétricos: para o cálcio utilizam complexação com um corante específico, para o fosfato utilizam reações com molibdato para formar um composto colorido. Alterações podem sugerir problemas nas glândulas paratireoides ou no metabolismo ósseo.

Testes Específicos

Dependendo dos sintomas ou histórico médico, podem ser realizados testes adicionais:

• Marcadores Cardíacos: Como a troponina e a creatina quinase (CK-MB), que ajudam a diagnosticar infarto do miocárdio e outras condições cardíacas. Em geral, são utilizadas enzimas ou anticorpos que são identificados por um equipamento. 
• Hormônios: São medidos, em geral, por quimioluminescência. Hormônios, como TSH (hormônio estimulante da tireoide), são usados para avaliar a função da glândula tireoide e hormônios, como os sexuais, são usados para avaliar questões relacionadas ao sistema reprodutivo.

Controle de Qualidade e Validação

• Controle de Qualidade: O laboratório segue rigorosos protocolos para garantir a precisão e a confiabilidade dos resultados. Amostras de controle e padrões são usados para verificar o desempenho dos equipamentos e reagentes.
• Validação dos Resultados: Os resultados são revisados por técnicos e patologistas para garantir que sejam precisos e interpretáveis antes de serem enviados ao seu médico.

Emissão do Relatório e Interpretação

• Relatório: Os resultados dos testes são compilados em um relatório detalhado que inclui valores medidos e comparações com intervalos de referência normais.
• Discussão com o Médico: O relatório é enviado ao seu médico, que interpreta os resultados no contexto do seu histórico médico e sintomas. O médico pode solicitar exames adicionais, mudanças no tratamento ou ajustes no estilo de vida com base nos resultados.

Conclusão

Percebe-se então, que a análise laboratorial do sangue é possível não só pelos avanços da medicina, mas também pelos avanços em engenharia, com a maior capacidade de criar aparelhos para medições precisas. Também é importante destacar a necessidade de realizar esse exame frequentemente, para que a sua saúde possa sempre estar em dia e complicações futuras possam ser evitadas.