Enedina Marques, a primeira mulher negra a formar em engenharia no Brasil
Filha de um casal de negros que, após a abolição da escravatura mudaram-se para Curitiba em busca de melhores condições de vida, Enedina Alves Marques se tornou a primeira engenheira mulher do estado do Paraná e a primeira engenheira negra do Brasil. Ela nasceu em 1913 e recebeu instrução educacional em troca de ajudar sua mãe nas tarefas domésticas na casa do militar e intelectual republicano Domingos Nascimento.
Enedina teve de trabalhar como babá e empregada doméstica para pagar seus estudos até 1932, quando recebeu seu diploma de professora e passou a lecionar em várias escolas públicas no interior do Paraná.
Porém, seu sonho de se tornar uma engenheira civil nunca deixou de existir. Para cumprir esse objetivo, teve que lutar contra os preconceitos, sendo mulher e principalmente, a única negra da classe. A sociedade era extremamente segregadora, mesmo com a abolição da escravatura ela estudava em uma região do país com população predominantemente branca de descendência europeia.
Em 1946, foi exonerada da Escola da Linha de Tiro e tornou-se auxiliar de engenharia na Secretaria de Estado de Viação e Obras Públicas do Paraná. No ano seguinte foi deslocada para trabalhar no Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica, após ser descoberta pelo então governador Moisés Lupion. Participou de diversas obras importantes, como da atual Usina Governador Pedro Viriato Parigot de Souza, maior central hidrelétrica subterrânea do sul do país, e a construção do Colégio Estadual do Paraná.
Enedina era energética e rigorosa e, para conquistar o respeito entre os homens, ela teve que tomar uma medida inusitada: nas obras, ela sempre carregava na cintura de seu macacão um revólver. Sempre que ela julgava necessário, ela atirava para cima, fazendo com que os homens lhe dessem a atenção e o respeito necessário.
Depois de uma carreira sólida, viajou pelo mundo para conhecer culturas, e se aposentou em 1962, reconhecida como uma grande engenheira. Eneida Alves Marques faleceu em 1981, aos 68 anos, deixando não somente um importante legado para a engenharia brasileira, como para a cultura negra e a luta por um país mais justo, igualitário e menos racista. Seu túmulo é um dos principais pontos da visita guiada pela pesquisadora Clarissa Grassi, no cemitério Municipal de Curitiba.
Já foram publicadas reportagens, escrito livros e feito trabalhos acadêmicos e documentários a seu respeito. Enedina recebeu, após sua morte, importantes homenagens que lembram seus feitos. Por exemplo, em 1988, uma importante rua no bairro Cajuru em Curitiba recebeu o seu nome: Rua Engenheira Enedina Alves Marques e, em 2006, foi fundado o Instituto de Mulheres Negras Enedina Alves Marques, em Maringá.