Davi Kopenawa Yanomami e o reconhecimento da sabedoria nativa ancestral
Davi Kopenawa Yanomami é a principal liderança do povo Yanomami, um dos maiores povos indígenas relativamente isolados da América do Sul. Além disso, ele é reconhecido internacionalmente por sua defesa dos povos indígenas e da conservação da floresta amazônica.
O líder índigena nasceu por volta de 1956 em Marakana, uma comunidade Yanomami no estado de Amazonas. Ao longo de sua vida, Kopenawa presenciou a morte de diversos parentes por doenças fatais trazidas por povos de fora, em especial por missionários norte-americanos. Por muito tempo trabalhou como intérprete da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), o que lhe permitiu bastante contato e experiência em lidar com autoridades do governo e pessoas de fora.
Em 1983, Davi começou a lutar pelo reconhecimento do território Yanomami nos estados de Roraima e Amazonas. Esse foi um período trágico, marcado pela ação do garimpo ilegal que resultou na morte de 20% da população de seu povo através de doenças e ataques.
Os frutos foram colhidos em 1992, onde o território Yanomami foi oficialmente reconhecido pelo governo. A sua área é de 9,6 milhões de hectares, aproximadamente o dobro do tamanho da Suíça, capaz de abrigar cerca de 40 mil indígenas e tem uma das maiores biodiversidades do planeta.
Há muitas décadas a luta de Davi Kopenawa tem obtido reconhecimento internacional, tendo obtido prêmios e distinções como o United Nations Global 500 Awards, o Right Livelihood Award, a Ordem do Mérito Cultural do Brasil, entre diversos outros. Em 2004, fundou a Hutukara, uma associação que defende os direitos do povo Yanomami e desenvolve projetos de proteção da terra, educação e saúde. Em 2010, publicou o livro A Queda do Céu: palavras de um xamã Yanomami, uma espécie de relato autobiográfico e manifesto xamânico contra a destruição da floresta amazônica e pela manutenção das vidas indígenas e das sabedorias nativas.
Recentemente, Davi Kopenawa foi escolhido para a Acadêmia Brasileira de Ciências(ABC), em reconhecimento a sua contribuição na expansão do conhecimento científico, das possibilidades da ciência no país e da valorização de saberes ancestrais. Em todo o globo, o saber indígena tem preservado e restaurado de forma satisfatória a biodiversidade. Apesar de não ter formação acadêmica, Davi apresenta um conhecimento profundo em relação ao equilíbrio com a natureza, métodos de cura a partir de plantas medicinais, e do respeito à fauna e flora do país. Segundo o diretor da ABC, Ruben Oliver, a indicação é de grande importância no momento atual, em que o meio ambiente e os próprios indígenas correm risco. Apesar da indicação não ter gerado resistência, a contribuição dos indígenas ao conhecimento já sofreu bastante hostilidade no meio acadêmico, o que torna a indicação de Kopenawa um marco histórico.
Atualmente, o líder vem se preocupando bastante e chama a atenção do país para a votação da tese do marco temporal no STF e do Projeto de Lei 490 na Câmara dos Deputados. Tais pautas podem definir um novo patamar de ameaça à sobrevivência das populações indígenas no Brasil, uma vez que o marco temporal delimita a demarcação de terras indígenas àquelas que estavam em posse dos povos originários no dia da promulgação da constituição, em 1988. Já o PL 490 busca inviabilizar novas demarcações e permitir o uso de áreas já demarcadas para empreendimentos econômicos. Devido a isso, milhares de indígenas encontram-se em Brasília protestando contra o avanço dessa agenda.
Texto por: Gustavo Elias Cândido
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