Empresas estão divididas sobre o impacto indireto dos biocombustíveis
Produtores europeus de bioetanol pediram a legisladores que introduzam regras sobre os impactos climáticos indiretos dos biocombustíveis, distinguindo entre “bons e maus”, reportou a Reuters.
A demanda é o primeiro sinal de uma divisão no setor europeu de biocombustíveis em relação à questão controversa dos usos indiretos da terra, que ameaçam minar as credenciais ‘verdes’ dos biocombustíveis devido ao seu papel no direcionamento de alimentos para os tanques de combustível.
Em uma carta para os principais oficiais em clima e energia da União Européia, vista pela Reuters, o órgão do setor de bioetanol ePURE disse que apóia a introdução de regras que lidem diretamente com a questão.
Uma abordagem direta, que penalize cultivos de biocombustíveis específicos pelos seus efeitos colaterais indiretos pode acabar com grande parte do setor europeu estimado em € 13 bilhões ao ano.
“A ePURE apoiará uma política que…diferencie entre caminhos bons e maus dos biocombustíveis (e) lide diretamente com o uso indireto da terra”, diz a carta enviada ao chefe de energia da UE Guenther Oettinger e a comissária de mudanças do clima Connie Hedegaard em julho.
As mudanças indiretas no uso da terra podem ocorrer quando cultivos antes direcionados à alimentação passam a suprir a fabricação de biocombustíveis, assim as toneladas de comida terão que ser produzidas em outro local.
Se os cultivos para cobrir o déficit são realizados em novas áreas agrícolas criadas a partir do corte de florestas ou drenagem de turfeiras, isto pode liberar emissões de gases do efeito estufa suficientes para cancelar qualquer economia dos biocombustíveis.
No inicio do ano, quatro estudos europeus demonstraram que a produção de biodiesel a partir de colza, óleo de palma asiático e soja sul-americana têm um impacto climático maior do que o diesel normal quando as emissões das mudanças indiretas no uso da terra são levadas em conta.
Ao contrário, os estudos alegam que as emissões são muito menores para o bioetanol de milho, trigo ou cana de açúcar, assim como biocombustíveis de segunda geração produzidos com matérias primas não alimentícias, como palha e outros resíduos agrícolas.
Opções de políticas
A Comissão Européia está decidindo como lidar com a questão dentro do contexto da sua meta de aumentar o uso de biocombustível para alcançar 10% da frota até 2020 dos atuais 3%.
Minutas internas de um encontro entre Oettinger e Hedegaard em julho indicam que a Comissão está planejando adiar a regulamentação das mudanças indiretas no uso da terra, favorecendo uma abordagem que penaliza todos os bicombustíveis igualmente.
Isto envolveria aumentar o limiar de economia de carbono que os biocombustíveis têm que alcançar em comparação com combustíveis convencionais para descontar da meta da UE, atualmente estabelecida em 35% a partir de 2013 e 50% em 2017, apesar de não terem sido ditados valores específicos.
Tal abordagem é vista como uma forma de proteger a renda dos agricultores em grandes produtores de colza, como Alemanha e França, e salvaguardar investimentos existentes no setor.
Mas segundo os críticos desta abordagem, apesar das incertezas cientificas em torno da modelagem das mudanças indiretas no uso da terra, as políticas européias devem sim diferenciar entre os biocombustíveis menos e mais prejudiciais.
“Alcançar um consenso é desafiador já que a modelagem está incompleta. Porém, é uma oportunidade para incentivar bons biocombustíveis convencionais e dar o chute inicial para um novo setor de biocombustíveis avançados”, disse à Reuters o presidente europeu da empresa Novozymes, Lars Christian Hansen.
Traduzido por Fernanda B. Muller
Fonte: Instituto CarbonoBrasil