Robotização é caminho sem volta, diz executivo da Microsoft
Os robôs já estão entre nós – e esse é um caminho sem volta. Richard Chaves, diretor de novas tecnologias e inovação da Microsoft Brasil afirmou que podemos não viver em um cenário como o filme Ela (no qual um homem se apaixona pelo sistema operacional de seu computador), mas os robôs são parte do nosso cotidiano. “Quando ligamos para uma rede de atendimento, estamos falando com robôs, com chatbots”, falou Richard Chaves a EXAME.com.
Para explicar o presente, Chaves volta ao passado. “O robô não é algo novo. O primeiro chatbot (robô de conversação) foi um projeto chamado Eliza, do MIT, em 1966.” Eliza foi um dos primeiros exemplos de processamento de linguagem natural primitivo. Ela era operada por um processo de respostas dos usuários para scripts.
“Eliza respondia perguntas abertas e não interpretava nada”, lembra o diretor. “Porém, ela gerou uma conexão pessoal que, para mim, é onde acontece a mágica: quando a tecnologia fica transparente e a pessoa não sabe se está conversando com um robô ou um indivíduo.”
O que mudou de 1966 para cá, segundo Chaves, é a capacidade dos robôs de interpretar emoções humanas. “A linguagem pessoal não pode ser pré-programada, mas com o machine learning o robô vai aprender rapidamente em tempo real como melhorar isso.”
Para o diretor, essa interação entre homem e máquina será feita por três atores: o ser humano, os robôs e as assistentes pessoais. “O indivíduo irá conversar com os robôs que, por sua vez, irão interagir com as assistentes pessoais para entregar serviços e produtos para o usuário”.
Por acreditar nisso, a Microsoft está apostando cada vez mais na criação de robôs de conversação para empresas. No entanto, segundo Chaves, para que essa tecnologia seja adotada pelos empreendimentos, a companhia precisou investir ainda mais em computação em nuvem. “A nuvem é uma plataforma democrática e econômica, por isso a adesão está sendo rápida. É literalmente desligar de um lado e ligar do outro”.
A companhia fundada por Bill Gates tem números que provam esse crescimento. A receita da divisão Azure, solução de nuvem da Microsoft para empresas, cresceu 102% no último trimestre do ano final de 2016 (abril a junho). De acordo com a Microsoft, esse número é mais que o dobro em comparação com o mesmo período do ano fiscal de 2015.
Para o diretor de inovações, a única coisa que impede a nuvem de crescer ainda mais entre as empresas é a perda de infraestruturas já estabelecidas. “A implementação da nuvem significa reescrever processos e milhões de reais em investimento para algumas companhias.”
Nesse caso, as startups saem na frente — afinal, elas têm a nuvem como seu principal centro de dados desde a concepção. Além disso, para Chaves, a computação na nuvem ajudou os empreendedores a remover barreiras de entrada. “A gente não podia pensar no NuBank, por exemplo, sem computação na nuvem. O aporte inicial para comprar uma estrutura já os eliminaria da jogada.”
Data centers e aplicativos
Apesar de acreditar em um futuro na nuvem, o diretor não acha que os data centers irão acabar. “Vai haver mudanças para cada empresa, dependendo de sua realidade e dos investimentos que foram feitos em estruturas no passado”, aponta.
Segundo ele, quando a Microsoft foi criada, em 1975, muitas pessoas falavam que o mainframe (computador industrial) iria morrer, pois todo mundo poderia ter um PC em casa. “Quarenta anos depois, ainda existe o mainframe. Assim, o que eu acredito é que as infraestruturas locais dentro de empresas vão diminuir muito e, não, simplesmente acabar.”
O diretor tem uma concepção mais fatalista quando o assunto é a substituição dos aplicativos por robôs de conversação. Para ele, todos os apps que são muito específicos irão perder espaço ou serão extintos daqui cerca de três anos.
“Bem na verdade, por que eu preciso de um app de tempo se eu posso perguntar para o bot qual é a temperatura?”, brinca. Contudo, admite: “eu não acho que vou deixar de baixar meu jogos no smartphone.”
Futuro robótico
O futuro será robótico, mas bem diferente do mostrado pelos filmes de ficção científica, segundo o diretor. “Eu não acredito em um apocalipse no estilo exterminador do futuro ou que os robôs irão criar consciência.”
O que preocupa Chaves, na realidade, é como empregar as pessoas que serão substituídas pela tecnologia. “Toda vez que tivemos uma inovação muito forte, profissões foram extintas”, explica. “Por isso a preocupação dos taxistas com Uber não é novidade. Você acha que os bancários também não protestaram quando o primeiro caixa eletrônico foi instalado?”
Contudo, para ele, isso não é desculpa para não inovar. “Um estudo mostrou que quando os caixas eletrônicos foram instalados, o nível de empregabilidade da rede bancária aumentou”, diz. “Isso foi possível pois os custos em uma área foram reduzidos para que o dinheiro pudesse ser investido em outro setor.”
Para Chaves, o problema no caso da robotização é que a dinâmica tecnológica está cada vez mais veloz. “Não é uma receita de bolo e a gente não tem grandes referências do passado.”
Fonte: Exame