Refinaria produz energia com reaproveitamento de resíduos

Processo revolucionário aproveita todo potencial energético da biomassa

Por Bruno de Oliveira, de Lorena

Crédito: Senergen

A empresa Senergen desenvolveu uma planta de refinaria de biomassa que promete revolucionar o mercado de geração de energia elétrica limpa. Por meio da tecnologia Probem (Programa de Biomassa, Energia e Materiais), que envolve processos de ataque termoquímico sob pressão, reatores separam das matérias orgânicas elementos-base que podem ser transformados em combustível para termelétricas a gás, óleo e carvão. O que sobra do processo, ao contrário de outras refinarias e usinas, é reprocessado e transformado em energia consumida pelos equipamentos.

Quem desenvolveu a tecnologia foi a empresa de materiais refratários RM, localizada em Lorena, interior de São Paulo, e que é controlada pelo Grupo Peixoto de Castro e pela Senergen. Há 20 anos, a empresa começou a desenvolver o processo de transformação de biomassa e resíduos de qualquer natureza em energia elétrica, térmica e produtos químicos de ampla utilização industrial.

“Em um determinado momento, percebemos que precisávamos de tecnologia para transformar biomassa em energia elétrica, dada a crescente preocupação com geração de energia sustentável e que resolvesse a questão do lixo urbano. Pesquisamos tecnologias novas nos EUA e Europa, mas não conseguimos encontrar nada que atendesse o que queríamos. No final, acabamos encontrando a solução em Lorena”, conta Roberto Paschoali, sócio da Senergen, empresa que detêm 50% das ações da RM.

No caso das biomassas lignocelulósicas, como madeira e seus resíduos, bagaço e palha de cana-de-açúcar, casca e palha de arroz, capim e matéria orgânica do lixo municipal (MOL), o processo se inicia com a inserção do material no reator de pré-hidrólise, responsável por “desconstruir” as moléculas da biomassa. O material resultante é a celulignina, espécie de pó que dá origem a um gás denominado syngas, que, uma vez transformado em óleo, pode ser queimado em uma caldeira para cogeração de energia elétrica.

Para esse tipo de equipamento, algumas biomassas necessitam de uma preparação prévia. Do lixo urbano, por exemplo, devem ser retirados os materiais recicláveis. O material orgânico é então conduzido a um triturador para a homogeneização da biomassa. Madeira e resíduos florestais devem ser picados. Bagaço de cana e casca de arroz podem ser utilizadas no estado natural.

Por sua vez, as biomassas de origem oleosa, como lodo urbano, dejetos de animais, pneus e materiais plásticos, por exemplo, são processadas em outro equipamento, o reator de conversão a baixa temperatura (CBT). O método utilizado neste equipamento é termo-catalítico, que consiste na conversão da matéria a uma temperatura de aproximadamente 400°C.

É um processo sem oxigênio que transforma, por meio de baixos níveis de energia, as proteínas e lipídios da matéria orgânica em óleo e os carboidratos em carvão. O carvão de qualquer biomassa pode ser utilizado como combustível em caldeiras de baixa temperatura 900ºC. O carvão extraído de pneus, no entanto, tem utilidade apenas na extração do negro de fumo recuperado, espécie de corante industrial de alto valor agregado.

“O que acontece dentro do CBT é como se fosse uma pequena simulação do que houve na Terra durante a formação dos combustíveis fósseis, ou seja, as condições de pressão e temperaturas são quase similares. O que a Terra demorou milhões de anos para formar, nosso equipamento realiza em ciclos de 90 minutos”, compara o engenheiro João Carlos Ferreira, da RM.

Aspectos ambientais e técnicos

Os processos de queima nas caldeiras das termelétricas costumam emitir CO2 e outros gases nocivos ao meio ambiente, resultantes da queima dos combustíveis que as alimentam. Na refinaria da Senergen, os gases resultantes dos processos de pré-hidrólise e conversão a baixa temperatura retornam ao início do ciclo de produção para novamente servirem de matéria-prima e se incorporar a um novo produto. Dessa forma, é possível gerar montantes de energia sem poluição atmosférica e de maneira sustentável por conta da reutilização da biomassa.

A casca de arroz, um dos materiais utilizados como biomassa na refinaria, possui um alto nível de potássio, o que impede, por exemplo, que seja enterrado por indústrias que beneficiam o arroz, já que o potássio é considerado um contaminante de mananciais e lençóis freáticos. O mesmo acontece com dejetos de animais, cujos frigoríficos e abatedouros não sabem o que fazer com o material.

“Principalmente em Santa Catarina e Paraná, existem empresas que enfrentam problemas no tratamento de dejetos de suínos e frango. Nossa tecnologia resolve por completo esse problema ambiental e ainda podemos gerar energia elétrica a partir disso. Estamos conversando com algumas empresas, especialmente empresas de alimentos para mostrar nosso equipamento. O resíduo é zero no ciclo da máquina. Transformarmos o dejeto em bio-óleo, o qual usamos para mover um motogerador e ainda sobra carvão vegetal”, explica Roberto Paschoali.

Plásticos e pneus também são considerados itens prejudiciais quando descartados corretamente após o uso. Segundo Paschoali, há empresas que, por falta de opções e para não responderem por crimes ambientais, acumulam toneladas sem saber qual finalidade dar. “Pneus usados são outro fator de risco. Não pode aterrar por conta dos anos que leva para se decompor. Se picado, nossa tecnologia o transforma em bio-óleo e o carvão serve para extrair negro de fumo, um corante muito requisitado no mercado”.

Fonte: Jornal da Energia