Redes inteligentes: os perigos que vêm do céu
Por Júlio Santos, da Agência Ambiente Energia –Ninguém duvida do poder das redes inteligentes para o nosso dia-a-dia. Seja para o controle do consumo de energia ou pela abertura de uma série de novos serviços, a tecnologia de smart grid carrega um elenco de vantagens. No entanto, é preciso ficar de olho no céu, pois o aumento da incidência de descargas elétricas pode trazer riscos para esta solução.
“Nós estamos colocando na rede de distribuição um conjunto muito grande de equipamentos e dispositivos que usam semicondutores, que, com certeza, vão trazer uma série de vantagens para as pessoas, as empresas e os governos. Só que temos que nos preocupar que estes dispositivos são mais sensíveis aos raios”, alerta Osmar Pinto Junior, coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Segundo o pesquisador, os danos que as descargas elétricas estão causando à sociedade, com a queima de equipamentos, está aumentando vertiginosamente. A solução, aponta Osmar Pinto Junior, é fazer a adaptação dos sistemas à realidade brasileira, em termos de número e intensidade das descargas elétricas. “As realidades podem ser totalmente diferentes. Nós temos aqui 50 milhões de raios. Tem países que têm cinco mil, 10 mil”, compara.
“Nós temos que tocar neste assunto agora, e não quando o problema estiver acontecendo. Aí os custos serão maiores”, diz. “Este é um assunto, hoje, sobre o qual não se quer conversar muito, pois a bandeira é vender a solução. Isso é importante, pois do contrário, corremos o risco de daqui a 20 anos estarmos com uma rede toda implementada e toda hora tudo queimando, tudo saindo do ar”, alerta o pesquisador nesta entrevista exclusiva à Agência Ambiente Energia.
Agência Ambiente Energia – Como as questões climáticas podem afetar as redes inteligentes de energia?
Osmar Pinto Junior – Para entender a preocupação que traz, podemos fazer um paralelo com a nossa casa, com o nosso dia-a-dia. Hoje, na nossa casa, temos uma série de equipamentos potentes e maravilhosos, mas que são sensíveis às descargas atmosféricas. Os danos que elas estão causando à sociedade, com a queima de equipamentos, está aumentando vertiginosamente. Por exemplo, nos Estados Unidos, onde o nível de desenvolvimento é maior, este tipo de dano está muito alto.
Agência Ambiente Energia – Então, quer dizer que as redes serão muito mais sensíveis às descargas elétricas?
Osmar Pinto Junior – A medida que você avança na tecnologia para outra mais sofisticada, ela é mais sensível. E é isso que vai acontecer com as redes inteligentes. Nós estamos colocando na rede de distribuição um conjunto muito grande de equipamentos e dispositivos que usam semicondutores, que, com certeza, vão trazer uma série de vantagens para as pessoas, as empresas e os governos. Só que temos que nos preocupar que estes dispositivos são mais sensíveis aos raios. Este é um assunto, hoje, sobre o qual não se quer conversar muito, pois a bandeira é vender a solução. Isso é importante, pois do contrário, corremos o risco de daqui a 20 anos estarmos com uma rede toda implementada e toda hora tudo queimando, tudo saindo do ar.
Agência Ambiente Energia – Os riscos serão cada vez maiores?
Osmar Pinto Junior – A tendência é que a incidência de descargas elétricas seja cada vez maior. OU seja, os riscos serão cada vez maiores. O número de incidência está aumentando e a rede ficando mais frágil em termos de sensibilidade aos raios. Então, é preciso avaliar isso com cuidado, o que não está sendo feito em nenhum lugar do mundo porque a preocupação é vender a solução.
Agência Ambiente Energia – Com relação às fontes alternativas de energia, que hoje estão na pauta da matriz energética de quase todos os países do mundo, quais são os riscos?
Osmar Pinto Junior – Ao introduizir estas fontes na rede, por meio de sistemas extremamente sensíveis aos raios, tem que haver esta preocupação também. Imagine você injetando os painéis solares na rede, com esta energia daqui a 20 ou 30 anos passado a ser importante para o sistema, o que seria bom para todos. Aí, de repente, estes sistemas começam a pifar por causa das descargas elétricas. E aí como fica? Nós temos que tocar neste assunto agora, e não quando o problema estiver acontecendo. Aí os custos serão maiores.
Agência Ambiente Energia – E qual é a solução?
Osmar Pinto Junior – A solução é fazer a adaptação dos sistemas à realidade brasileira, em termos de número e intensidade das descargas elétricas. Tudo isso tem que ser avaliado para que haja uma garantia de que este sistema, após implantado, vai operar no ritmo que nós esperamos que ele opere. Precisamos saber se o sistema está preparado para as condições brasileiras. As realidades podem ser totalmente diferentes. Nós temos aqui 50 milhões de raios. Tem países que têm cinco mil, 10 mil.
Fonte: Ambiente Energia