Privacidade é desafio para rede elétrica inteligente

Reuters

Por Gerard Wynn

CAMBRIDGE, Inglaterra, 25 de junho (Reuters) – A cautela dos consumidores pode dificultar o lançamento de tecnologias inteligentes se não houver controle sobre os dados e acesso aos aparelhos, disseram executivos esta semana.

As tecnologias de “rede elétrica inteligente” podem ajudar as empresas do setor a controlar melhor o consumo de energia, atenuando os picos de demanda e reduzindo o consumo total.

As tecnologias têm por base medidores de eletricidade que exibem o consumo aos usuários em tempo real e permitem comunicação sem fio com as distribuidoras. Isso torna possível para as empresas prever a demanda, cobrar mais nos horários de pico e até mesmo desligar aparelhos a distância.

A introdução dessas tecnologias está apenas começando e atrai comparações ao lançamento da Internet rápida uma década atrás, mas o ritmo está se intensificando.

O Reino Unido, por exemplo, planeja adotar os novos medidores de eletricidade em todo o país, por acreditar que eles oferecem benefícios em termos de segurança e emissões de carbono.

Mas a capacidade dos relógios para recolher dados gerou comparações com “espiões” nas casas das pessoas.

“Nós, da Siemens, temos a tecnologia para registrar (o consumo de energia) a cada minuto, segundo, ou microssegundo, mais ou menos em tempo real”, disse Martin Pollock, da Siemens Energy, divisão da gigante da indústria alemã que oferece serviços de medição de consumo de eletricidade.

“Com base nisso somos capazes de inferir agora quantas pessoas estão na casa, o que fazem, se estão no andar de cima ou de baixo, se têm um cachorro, quando costumam sair da cama, quando saíram da cama no dia em questão, a que horas tomam banho, são massas de dados privados”, disse.

“Acreditamos que as autoridades regulatórias precisem enviar um forte sinal indicador de que os dados pertencem aos consumidores e só a eles. Acreditamos que de outra forma isso bloqueará a adoção da tecnologia pelas pessoas”, disse ele durante a conferência Smart Grids and Cleanpower, em Cambridge.

Máquina de Lavar

Os simpatizantes da tecnologia apoiam benefícios como a possibilidade de se programar eletrodomésticos individuais a ligarem quando a energia está mais barata ou quando seus paineis solares não estão funcionando.

A tecnologia também permite que as distribuidoras de energia elétrica incentivem os consumidores a usarem máquinas de lavar ou a carregar carros elétricos à noite, por exemplo, quando as tarifas cobradas podem ser mais baratas.

“Uma caixa cinza que te espiona e torna suas contas maiores não cai bem, mas a tecnologia não precisa ser vista sob essa perspectiva”, afirma Pilgrim Beart, fundador da AlertMe, especializada em mostradores digitais.

Beart citou preocupações na Holanda sobre a propriedade dos dados e reclamações na Califórnia sobre aumento nas contas de luz.

Outra preocupação, no entanto, é sobre um potencial mau uso pelas companhias de energia da nova capacidade de ligar e desligar equipamentos remotamente.

“Haverá muita resistência sobre a ideia de uma companhia de energia dizer às pessoas quando elas têm que lavar a roupa”, disse Chris Wright, vice-presidente de tecnologia da Moixa Technology.

Em um piloto do sistema nos Estados Unidos, consumidores se mostraram satisfeitos em alterar os horários em que usam o microondas, mas não de lavadoras de roupas, afirmou Martin Ansell, da GE.

Fonte: Portal G1

Leonardo Magalhães