Pesquisa: China investiu mais nas energias verdes que os EUA
No ano passado, a China investiu pesadamente na fabricação de energia renovável como painéis solares e turbinas de vento, ultrapassando os Estados Unidos como o maior investidor nessas tecnologias, segundo um relatório divulgado sexta-feira pelo Instituto americano Pew. Os Estados Unidos ainda mantêm uma pequena liderança na capacidade total instalada, mas se a tendência atual continuar em 2010, a China deverá ultrapassar o país ainda neste ano.
Os pesquisadores do instituto calculam que no ano passado a China investiu cerca de R$ 62 bilhões em energias limpas, quase o dobro da cifra direcionada pelos Estados Unidos, onde os investimentos caíram em 40% de 2008 para 2009.
O Brasil ficou em quinto lugar na lista entre os países do G20, tendo investido aproximadamente R$ 13,2 bilhões, atrás apenas de China, EUA, Grã-Bretanha e Espanha. O crescimento mais espetacular ocorreu na Coreia do Sul, onde a capacidade instalada cresceu 250% nos últimos cinco anos.
Apesar da crise econômica, globalmente os investimentos no setor mais do que dobraram nos últimos cinco anos, indicou o Pew. “Mesmo em meio a uma recessão global, o mercado de energia limpa passou por um crescimento impressionante”, afirmou à BBC Phyllis Cuttino, diretora da campanha sobre mudanças climáticas da instituição. “Os países sabem que o investimento neste setor pode renovar suas bases manufatureiras e criar oportunidades de exportação, empregos e negócios.”
Vento
Como prova que o investimento em energias renováveis pode opotunidades de negócios, a energia eólica foi o setor dominante na maioria dos países que realizaram altos investimentos em energias renováveis, com exceção da Espanha, Alemanha e Itália, onde a energia solar foi a campeã de investimentos.
De um modo geral, o investimento da Espanha caiu em consequência da recessão depois de vários anos de rápido crescimento, motivado pelo desejo de diminuir as emissões dos gases causadores do efeito estufa para atingir as metas estabelecidas no Protocolo de Kyoto.
As políticas de favorecimento de companhias domésticas e de imposição de barreiras a concorrentes estrangeiros transformaram a China em um dos líderes mundiais na fabricação de turbinas para geração de energia eólica. Em 2004, 60% do mercado local era dominado por empresas estrangeiras. No ano passado, o porcentual havia caído para 15%. Nesse período, o governo deu preferência à aquisição de turbinas domésticas e impôs um índice mínimo de conteúdo nacional de 70% para as estrangeiras. O número de fabricantes domésticos saltou de 4 para 78.
Com isso, a China conseguiu desenvolver fabricantes gigantescos, como Goldwind, Sinovel e Dongfang. O país dobrou a capacidade instalada para produção de energia eólica em cada um dos últimos cinco anos e caminha para ter a segunda maior potência mundial em 2010, atrás apenas dos EUA, com geração de 30 gigawatts (GW) – meta que será atingida uma década antes do previsto originalmente.
Agora, Pequim trabalha para gerar 100 GW de energia do vento em 2020, cifra que equivale a toda a capacidade instalada de geração de energia do Brasil – incluindo a usina de Itaipu, que gera 14 GW.
As turbinas chinesas são mais baratas que a de seus concorrentes estrangeiros, o que dificulta ainda mais a concorrência. Mas as multinacionais afirmam que possuem vantagens tecnológicas e de qualidade em relação aos chineses.
A política de preferências também provocou distorções, com um superinvestimento que gerou a capacidade ociosa de 40% no setor. Isso ocorre porque a rede de distribuição da China não tem condições de absorver toda a energia gerada por plantas de energia renovável. Diante desse cenário, as multinacionais temem a exportação de turbinas chinesas, que têm qualidade inferior, mas preço muito mais baixo.