Indígenas voltam a protestar contra usina de Belo Monte, no Rio Xingu (PA)
Os manifestantes dizem que a obra é cara e desnecessária, gera grande passivo ambiental e trará impactos sociais; concessionária diz que “nenhuma terra indígena será inundada”
Até a próxima quinta-feira (12), cerca de 500 pessoas são esperadas no acampamento ao lado do cais do porto de Altamira (PA) em protesto à construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), e outros empreendimentos na Amazônia. A mobilização é organizada por entidades como o Movimento Xingu Vivo para Sempre (MXVPS), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
Segundo essas entidades, a obra é desnecessária e de alto custo; gera grande passivo ambiental; trará impactos sociais e as populações supostamente mais afetadas como os indígenas, ribeirinhos e pequenos agricultores não são ouvidas pelo governo federal nem pelos empreendedores da obra. “É a mesma coisa que fizeram com Tucuruí”, disse a índia Sheyla Yakarepi Juruna, da comunidade Aldeia Boa Vista, em Vitória do Xingu (PA), fazendo referência à hidrelétrica construída durante a ditadura militar (1964-1985).
A índia teme que a obra gere impactos sociais como o aumento da prostituição na região e até mesmo da exploração sexual de crianças e adolescentes, como estaria ocorrendo nas proximidades das obras de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira (RO).
“Eles vão fazer um canal do Panamá aqui dentro”, comparou Claudemir Monteiro, da coordenação do Cimi no Pará e Amapá. “Não adianta gerar energia limpa com a destruição da floresta”, criticou o indigenista, ao dizer que a obra está saindo “por capricho do [presidente] Lula”. Claudemir avaliou que Belo Monte é um “projeto emblemático” e depois dele outras obras de grande impacto ambiental se seguirão.
Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental (ISA), espera que, nas futuras obras na Amazônia, o governo “reveja suas práticas”, e faça novas usinas e qualquer outro empreendimento “com planejamento e consulta”, reclamou. Segundo ela, o licenciamento ambiental da obra “foi político” e imposto.
Adriana Ramos lembrou que ainda estão pedentes para a construção de Belo Monte as medidas compensatórias para as populações afetadas e o problema de redução de diminuição da vazão e perda da qualidade da água. Segundo ela, “os indígenas estão insatisfeitos, porque o processo de instalação não os levou em conta. A Funai [Fundação Nacional do Índio] autorizou a obra sem fazer consulta aos índios”, afirmou.
A Agência Brasil também ouviu a concessionária da hidrelétrica, a Norte Energia S.A. Segundo o diretor socioambiental da empresa, Antônio Coimbra, “nenhuma terra indígena será inundada. Não haverá um metro quadrado inundado”, garantiu. Conforme o executivo, Belo Monte terá uma das melhores relações entre o tamanho da área alegada e a quantidade de energia gerada: 23 megawatts por km², abaixo apenas da hidrelétrica de Xingó, no Rio São Francisco (AL e SE), para a qual a relação é de 50 megawatts por km².
Na sua opinião, “o País não pode abrir mão da energia limpa e renovável das hidrelétricas, e o maior potencial está na Amazônia”. Antônio Coimbra contabilizou que o Brasil tem no total um potencial de 260 gigawatts (hidrelétricas em funcionamento e obras futuras) e que quase a metade desse potencial está na região amazônica (115 gigawatts). De acordo com o diretor da Norte Energia S.A, apenas 6% do potencial hidrelétrico da Amazônia está sem operação.
Fonte: abril