Supercondutividade à temperatura ambiente: desafios e avanços
Em alguns campos, pesquisas exaustivas parecem se arrastar por anos sem que nada de muito significativo, ou realmente radical, apareça. Até que, de repente, tudo parece acontecer ao mesmo tempo, com novidades a todo instante, pulando como pipocas da panela. É o que está acontecendo agora no campo da supercondutividade.
Os supercondutores transportam a eletricidade sem qualquer resistência e, portanto, sem qualquer perda de qualquer natureza. Eles já são usados em alguns nichos, como ímãs para aparelhos de tomografia e aceleradores de partículas. Mas poderiam estar revolucionando praticamente todo o parque elétrico se não precisassem ser resfriados a temperaturas criogênicas para funcionar. Porém, avanços nos estudos sobre supercondutividade despertam os olhar científico ao redor do mundo, mas ao ponto que grandes obstáculos são ultrapassados, novos desafios surgem.
Há poucos dias, uma equipe dos EUA e da China chegou muito próximo de demonstrar a supercondutividade a temperatura ambiente, graças à sintetização do estaneno, uma folha monoatômica de estanho.
Agora, uma equipe alemã, trabalhando em uma frente completamente diferente, descobriu como fazer que um material comum e malcheiroso fique supercondutor a apenas -70º C – alguns até poderiam argumentar que isto já é temperatura ambiente, ainda que na Antártica.
O recorde anterior para um “supercondutor de alta temperatura” era -110º C, mas sempre envolvendo cerâmicas complexas, difíceis de obter e caracterizar, o que tem feito com que muitos comecem a duvidar das atuais teorias que tentam explicar a supercondutividade. Para a “supercondutividade convencional”, com materiais não complexos, o recorde de temperatura continuava na casa dos -234º C.
Gás vira metal, que vira supercondutor
Alexander Drozdov e Mikhail Eremets, do Instituto Max Planck de Química, na Alemanha, trabalharam com um material simples e muito comum, o sulfeto de hidrogênio (H2S), o gás responsável pelo mal cheiro dos ovos podres.
Eles comprimiram o gás em uma bigorna de diamante até 1,6 milhão de vezes a pressão atmosférica, o suficiente para vê-lo transformar-se em um metal, e viram sua resistência à passagem da corrente elétrica desaparecer a meros 203,5 kelvin, cerca de -70º C.
Supercondutores a temperatura ambiente
O experimento gerou uma nova onda de entusiasmo na comunidade científica em busca da supercondutividade a temperatura ambiente, sobretudo porque, há menos de um ano, um grupo de físicos chineses desenvolveu um novo modelo teórico que previa que o H2S poderia se tornar supercondutor a até -69º C quando, sob alta pressão, ele sofre uma transição para H3S.
E, neste campo, novos entendimentos sobre qual seria o gatilho que dispara a supercondutividade podem levar à busca por outros compostos que possam apresentar o mesmo comportamento em temperaturas cada vez mais altas.
“Não há limite teórico para a temperatura de transição dos supercondutores convencionais, e nossos experimentos dão-nos razões para termos esperança de que a supercondutividade pode até mesmo ocorrer a temperatura ambiente,” disse Eremets.
Enquanto os teóricos se debatem com os modelos e a interpretação dos novos dados, os experimentalistas vão continuar comprimindo outros materiais isolantes em busca d
e materiais que se livrem da resistência elétrica a temperaturas cada vez mais distantes da Antártica, rumo ao Equador, indicando que novas pipocas poderão pular da panela nos próximos meses.
Fontes: Inovação Tecnológica