Robótica, Hiper-realismo e a Humanidade

Robótica, Hiper-realismo e a Humanidade

Algum tempo atrás, um novo vídeo viralizou na internet, e com ele, vieram também opiniões divergentes sobre o assunto. Este apresentava a mais nova tecnologia da empresa britânica Engineered Arts: Ameca, um robô hiper-realista capaz de simular as expressões humanas. 

Enquanto parte dos internautas se viu animada e surpresa com a novidade, outra parte se viu assustada, fazendo menção à noção Hollywoodiana da dominação mundial das máquinas, vista em diversas obras da ficção científica. Outras pessoas chegaram a se questionar se o vídeo era de fato real ou um produto da computação gráfica. Aqui no Brasil não faltaram piadas com o nome do dispositivo, já que ele se parece com a palavra do português “ameaça”, reforçando ainda mais o estereótipo. Confira o vídeo:

Mas o que é Ameca ?

A inovação é sim real e foi oficialmente apresentada ao mundo na CES 2022 (Consumer Electronics Show), onde roubou a cena ao interagir com o público, respondendo perguntas, atendendo pedidos e até mesmo reagindo fisicamente se alguém invadisse seu espaço pessoal. Segundo a empresa, esse é o robô humanoide mais avançado atualmente.

A Engineered Arts surgiu como uma desenvolvedora de projetos mecânicos mais simples, com fins de entretenimento, mas tem se desenvolvido bastante nos últimos anos. Outros projetos de sua autoria já estão em circulação no mercado e a empresa já prestou serviço para nomes como Amazon Prime Video e National Geografic. 

Embora Ameca tenha também um propósito de entretenimento, o diferencial dos demais projetos da empresa está no seu potencial. A ideia é construir uma plataforma que servirá de alicerce para novas tecnologias da robótica, podendo se adequar às necessidades de cada projeto. Sua programação é bastante didática e também conta com:

  • Hardware e software que permitem atualizações constantes;
  • Conexão em nuvem: dados ficam disponíveis remotamente;
  • Montagem modular,  ou seja, permite que cada parte funcione separadamente e assim,  facilitando a troca de peças caso necessário.

O protótipo atualmente é equipado com câmeras no lugar dos olhos e apresenta visão computacional, podendo distinguir objetos e manter contato visual durante uma conversa. É até mesmo capaz de dizer a idade, gênero e emoções de alguém. Sensores em suas orelhas também permitem determinar a localização de um som e reagir de acordo, assim como reconhecer quando múltiplas pessoas estão falando. Seus movimentos são baseados em algo que a empresa chama de graus de movimento (degrees of movement) e que estão presentes em suas mãos, braços, cabeça e torso, assim como nas alterações do rosto, o que permite o movimento fluido.

Visual

A estrutura tem 1,87 metros de altura e seus braços esticados chegam a medir 1,8 metros, conta com 52 motores e 51 movimentos articulados,  somado, tudo isso pode chegar a 49 quilogramas. 

Em uma entrevista, o diretor de operações Morgan Roe explica o porquê da aparência escolhida pela equipe. A cor de pele acinzentada, os circuitos à mostra, o plástico e o metal fazem com que Ameca passe uma impressão de “meio-humano meio-robô”. Essa tática foi escolhida para evitar o “uncanny valey”, conceito estudado na robótica e em outras áreas do conhecimento onde algo muito parecido com a aparência humana, mas que não seja totalmente realista, pode causar uma sensação de estranheza e desconforto. Então ao invés de forçar no realismo, a solução foi voltar um pouco na escala e permitir que a distinção fosse bem marcante.

Em breve

Apesar de haver planos para a implementação no futuro, ainda não possui uma inteligência artificial própria, mas se utiliza de outras ferramentas para se comunicar com o público. Também já tem uma área reservada para o machine learning, mas que foi menos testada. A tecnologia é bem impressionante, no entanto, ainda há o que aperfeiçoar, por exemplo, o alto falante que atualmente se encontra na região do peito, pois os 17 motores da face não deixaram espaço suficiente para o mesmo. Também existem planos futuros para fazer Ameca andar, e talvez até mesmo desfilar, tornando o conceito popular de como um androide se comportaria, cada vez mais próximo da realidade.

Tudo isso levou cerca de 15 anos de pesquisa, e ainda pode levar muito mais para chegar ao resultado final, mas logo será possível ver Ameca em funcionando. Segundo a empresa, o aparelho pode ser alugado para eventos e o preço de compra chega a mais de 100 mil libras.

Outros exemplos 

Mas Ameca não é o único robô ultra-realista que existe, sendo o Japão um dos países mais predominantes na área.

Geminoid DK

Geminoid DK é um exemplo a se seguir em questão de semelhança à aparencia humana. O Android é fruto da colaboração entre a Unversidade Osaka e uma firma privada, e é baseado tanto na aparência quanto nos movimentos mais sutis do professor dinamarquês Henrik Scharfe.

A aparência não é a única coisa que essas máquinas podem mimicar. A ideia de um robô devagar, enguiçado e sem articulações já se tornou obsoleta, como pode ser demonstrado pelo Atlas, produto da BostonDynamics que já consegue andar, pular, fazer acrobacias e até mesmo dançar, mesmo que não tenha uma forma humanoide. Seus movimentos são muito parecidos com aqueles que podemos ver no dia a dia, com 28 articulações hidráulicas, consegue chegar a uma velocidade de 2,5 metros por segundos e fazer Parkour.

Algumas vezes os movimentos são algo extraordinário para o ser humano, extrapolando as nossas limitações físicas, mesmo assim, a fluidez e similaridade da performance torna aquilo algo verossímil aos nossos olhos. É o caso dos Stuntronics (stunt-double + animatronics), projeto sendo elaborado pela Disney que emula a atividade dos dublês. Um deles é atualmente usado em uma das instalações dos parques e mesmo fazendo manobras a vários metros acima do chão, muitas pessoas ainda não sabem que se trata de uma máquina.  

Reflexão 

A ideia de um Andróide como conhecemos ainda é algo bem distante, sendo necessário ainda, muita pesquisa, então não, não precisa preparar o seu teste Voight-Kampff, não pela próxima década pelo menos. Mas de fato, os exemplos apresentados nos fazem refletir quais serão os próximos passos e até onde se pode avançar. 

Acima de tudo, é impressionante como, mesmo com fios, plástico e metal, é possível enxergar traços da humanidade nessas tecnologias. Mais que um exterior semelhante ao do Homo sapiens, é a criatividade, inteligência e o empenho de buscar o novo que se deixam transparecer.

Texto por: Victória Leal

Referências:

https://www.engineeredarts.co.uk/robot/ameca/

https://www.cnet.com/news/you-have-to-distance-yourself-from-it-being-a-human-ameca-engineered-arts/

https://en.wikipedia.org/wiki/Sophia_(robot)

https://www.bostondynamics.com/atlas

https://la.disneyresearch.com/stuntronics/

Victoria Leal Pinheiro