O 5G pode ajudar a trazer tecnologia para o saneamento básico?

O saneamento básico é um dos principais assuntos relacionados ao desenvolvimento social e econômico do País, por causa disso existe grande pressão de seu alinhamento com foco nos resultados ambientais, sociais e de governança (ESG). 

Com o avanço das implantações de 5G SA – Standalone (ou também chamado de 5G autônomo, que nos permite ter uma rede 5G inteiramente independente da rede 4G) a tecnologia aplicada com todas as suas funcionalidades estão previstas para acontecerem até o dia 31/07/2022 nas capitais, e as discussões e projetos de redes privadas de concessionárias de água e esgoto, começam a se materializar e os casos de aplicação apoiados em comunicações 5G vêm sendo amplamente discutidos.

A fim de contextualizar

Dados publicados pelo Ministério do Desenvolvimento Regional no SNIS – O Sistema Nacional de Informações sobre a performance do setor de saneamento:

  • 84% da população brasileira possui abastecimento de água tratada (83,7% em 2019);
  • 55% da população possui acesso à coleta de esgoto (54,1% em 2019);
  • 50,8% do esgoto gerado é tratado (49,1% em 2019);
  • As perdas de água nos sistemas de distribuição registraram aumento, oficializando em 40,1% (39,2% em 2019).

Preste atenção no último dado. Perdas de água no sistema de distribuição são calculadas entre a diferença da água que sai das estações de tratamento e a que chega nos medidores dos consumidores e é faturada. Essa perda pode ter duas principais origens: vazamentos ou perdas não-aparentes e fraudes comerciais ou as famosas ligações ilegais.

O uso de tecnologias como Inteligência Artificial, Big Data e de dispositivos IoT (Internet das Coisas) entram como artifício fundamental na gestão de perdas, tanto técnicas quanto comerciais, e trazem a possibilidade de rastrear e coletar dados para apoiar na tomada de decisão, na predição de eventos, no combate aos vazamentos, nas falhas nos sistemas de medição e nas ligações clandestinas entre outros indicadores.

Existem no mercado diversas soluções e equipamentos de campo e software que podem ajudar nessa tarefa. Obter apoio de redes 4G/5G, pode fazer muita diferença, como do ponto de vista tecnológico:

Smart Metering

A utilização de aparelhos de medição inteligente que afiram a vazão de água e esgoto nas redes de distribuição de forma online:

  • Hidrômetros conectados: conectados a um sistema munido de inteligência artificial, automatiza o envio das informações para geração das faturas de consumo mensais, sendo possível também detectar fraudes comerciais, o famoso gato, comparando padrão de consumo histórico e esperado;
Medidor conectado NB-IoT – Fonte: Technoton Engineering
  • Flow meters: para levar água potável até as nossas residências há uma complexa rede de distribuição de água a partir da saída das estações de tratamento até às nossas casas. Para controlar essa rede estão espalhadas válvulas de controle de fluxo que também podem estar medindo o fluxo. Conectando os flow meters, pode-se mapear os setores onde há mais perda de água;
Flow meter conectado – Fonte: Trimble Water

Drones Aqua Bots

Também podemos aplicar drones no saneamento! Podendo navegar em rios, lagos e reservatórios para medir a qualidade da água. Essa informação pode gerar insights de onde estão as fontes mais poluentes, como excesso de químicos industriais ou fertilizantes. Por que não usar a conectividade para enviar essas informações em tempo real?

AquaBOT – Fonte: Laboratório Nacional de Oak Ridge

Gerenciamento de ativos

As redes de saneamento tem uma característica bastante peculiar, grande parte dos seus ativos: tubulações, válvulas, bombas, entre outros, estão enterrados onde a supervisão visual se torna um grande desafio. Portanto contar com ferramentas que a partir de características dos ativos, bem como o regime de operação dos mesmos, aliados a coordenadas geográficas, é possível saber a localização exata dos ativos;

Mapa de distribuição de água – Fonte: ESRI

Automação de equipes de trabalho

Quando há um vazamento de água, se desperdiça muito desse recurso tão precioso, onde cada minuto a mais significa o aumento no desperdício. Portanto, a determinação inteligente de equipes de campo correta, que está mais próxima e disponível, com equipamentos e software conectados a rede 5G voltados ao saneamento básico é chave para manter um tempo de resposta eficiente para correção de incidentes;

Equipes de trabalho – Fonte: Ética-ambiental

Entre vários outros.

Como citado acima, não só setor que é a água tratada, mas também pela outra parte, não menos importante tem a coleta e o tratamento do esgoto, que é um tema bastante sensível, pois além de contaminar o meio ambiente quando descartado de forma incorreta, o contato com ele pode trazer doenças terríveis para a população.

Os principais obstáculos…

Enfrentados pelas empresas responsáveis pelo saneamento básico nas cidades, incluem desde possibilitar a correta distribuição de água de qualidade, o monitoramento de desperdícios e falhas e a correta coleta e tratamento do esgoto que possuem alto risco para o meio ambiente. O uso das redes móveis ajuda a simplificar esses processos.

Além de possibilitar uma gestão mais eficiente para as empresas de saneamento, a rede de tecnologias em comunicações de dados através do uso do 5G gera diversos ganhos, como a economia direta em energia, que corresponde a 40% dos custos do tratamento de água, produtos químicos, uso de equipamentos desnecessários, diminuição de atividades sobrepostas e melhor direcionamento de seus investimentos, entre outros aspectos.

Reflexões finais

E, embora o setor ainda tenha um relativo atraso em evolução tecnológica, a projeção é de que o saneamento receba nos próximos anos um montante de recursos em um ritmo nunca observado. 

A necessidade de investimentos rápidos e certeiros é puxada pelo Marco Legal do Saneamento Básico, que prevê redução do nível de perda de água de 51% para 33% até 2033. Pelo Marco Legal, empresas do setor precisam atender 99% da população com água potável e 90% com coleta e tratamento de esgotos até 31 de dezembro de 2033.

Estes desafios só serão possíveis objetivando a melhoria de processos e o investimento em infraestrutura e inovação. Melhorando até a disponibilidade desse bem tão precioso em tempos de crise hídrica.

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Autora: Tamara Machado

Referências