Fazendas Verticais: Sustentabilidade e Tecnologia
A idealização de fazendas verticais não é exatamente uma grande novidade e o leitor provavelmente já ouviu falar sobre esse tema. Este assunto vem ganhando certo destaque diante do cenário atual no qual a população mundial cresce constantemente, sendo a estimativa da ONU em torno de 10 bilhões de habitantes na terra até 2050, e todas essas pessoas precisam de uma nutrição adequada para ter uma condição de vida decente. Simultaneamente, as condições ambientais do planeta estão se deteriorando a cada dia mais devido a diversos fatores associados à civilização, sendo um dos principais deles o modelo atual da indústria do agronegócio.
Levando em consideração que 80% das terras cultiváveis do planeta já estão em uso e que cerca de 15% delas já foram comprometidas pelo mau uso e, portanto, estão inutilizáveis pelo momento, é necessário encontrar uma forma alternativa de produzir alimentos para a população.
Como as fazendas verticais podem auxiliar na solução desses problemas?
A promessa é de que apenas um acre de fazendas verticais consiga produzir o equivalente a 360 acres de um modelo tradicional. Ou seja, centenas de vezes mais em uma área bem menor.
Outra característica da civilização atual é a concentração da população em grandes centros urbanos. Como as fazendas verticais são construídas para funcionar em galpões com o ambiente controlado, é possível produzir os alimentos próximos aos consumidores. Isso reduz imensamente a pegada do carbono deixada pelo transporte dessas commodities, além de reduzir custos logísticos e garantir mais qualidade e frescor dos alimentos.
Como essas fazendas funcionam?
O questionamento é pertinente, afinal é ensinado nas escolas que as plantas precisam de luz do sol e terra fértil para crescer. Todavia, é possível criar uma situação adequada artificialmente através de leds e irrigação, além disso, as fazendas verticais geralmente utilizam sistemas hidropônicos ou aeropônicos. Existem também algumas fazendas verticais que utilizam a luz natural do sol, semelhante a uma estufa, e apenas realizam a complementação, quando necessário, com a iluminação artificial.
Quando se fala de aeropônicos surgem algumas questões, afinal é um modelo mais inovador que consiste em crescer as plantações sem o uso de terra e praticamente nenhuma água, a economia desse recurso chega a ser de 95%. As raízes das mudas ficam em um tipo de material poroso que é exposto a uma névoa de água com nutrientes. Surpreendentemente, essas plantas conseguem ter um maior aproveitamento do fertilizante e chegam a ser mais saudáveis e a crescer mais rápido do que as cultivadas com outros princípios.
Para isso ser possível, foi necessário um trabalho multidisciplinar envolvendo engenharia genética, data science, segurança alimentar e nutricional.
Uma grande precursora desse modelo é a Aerofarms, a maior fazenda vertical do mundo, que visa crescer alimentos saudáveis para toda a população e de maneira a proteger o meio ambiente. Localizada em Nova Jersey e ocupando uma área de 6410m², a gigante já atrai investidores de todo o mundo, principalmente do Oriente Médio.
Quanto a todos os modelos, em geral, todo o procedimento de controle do ambiente é realizado por uma IA, através da qual é feito o monitoramento da temperatura, da umidade, do nível de nutrientes, da qualidade e da quantidade de água utilizada. É possível até mesmo monitorar o comprimento de onda mais adequado para o melhor aproveitamento da plantação.
Além disso, os processos podem ser ainda mais envolvidos com tecnologia. Algumas fazendas usam robôs para fazer a alocação e a movimentação das plantas para determinados andares do ambiente. O uso de drones para auxiliar o monitoramento também é viável, afinal, dependendo da altura da fazenda vertical, não é simples alcançar e analisar o estado das mudas.
Estes sistemas são um ótimo exemplo de como a indústria 4.0 está alcançado todos os níveis da economia e como a Internet das coisas (IOT) pode ser aplicada em praticamente todos os processos.
Todo esse aparato, porém, cria um alto consumo de energia. As luminárias geram calor e isso demanda um desempenho elevado do sistema de refrigeração. O custo dos equipamentos também não é baixo, mas com o avanço atual da tecnologia, espera-se que o barateamento dos meios ocorra rapidamente.
O Brasil já inovou nesse campo e é em São Paulo que fica localizada a primeira fazenda vertical da América Latina. A Pink Farms, empresa fundada por três engenheiros que decidiram investir na área das agtechs (Startups que buscam melhorar a produtividade e a inovação na era da agricultura digital), produz uma safra 100% orgânica e hidropônica, que cresce em um galpão ambientado de oito andares com auxílio de LEDs azul e rosa que aceleram a fotossíntese.
O potencial é inegável, afinal a produção contínua independente das condições meteorológicas e não necessita do uso exacerbado de agrotóxicos, isso quando precisa.
Ademais, por essas vias, o gasto de água, que geralmente é um problema nas plantações tradicionais, aqui é motivo de comemoração. Atualmente, é possível que até 95% da água seja aproveitada, pois, graças ao ambiente fechado, é possível fazer a captação e reutilização dessa.
Ou seja, para esse processo ficar praticamente perfeito, seria preciso assegurar que a energia consumida pela empresa também não é advinda de uma fonte de poluição e que o descarte de água com fertilizantes, quando necessário, não fosse feito de maneira inadequada.
Quem diria que algo tão básico e ancestral como a agricultura iria passar por essa revolução? Talvez, no futuro próximo, realmente seja possível produzir carne em laboratórios e finalmente colocar um fim na crueldade da indústria pecuária.
Matéria por: Júlia Amin
Fontes:
https://www.alemdaenergia.com.br/fazendas-verticais-podem-revolucionar-producao-de-alimentos/
https://www.ecycle.com.br/fazenda-vertical/
https://www.ft.com/content/48aff9a0-47b1-4456-a60f-a1c0d48be2c2