Do Corpo à Tecnologia: A Revolução das Tatuagens Eletrônicas

Do Corpo à Tecnologia: A Revolução das Tatuagens Eletrônicas

Introdução

“Celulares serão substituídos por tatuagens eletrônicas”, afirma Bill Gates. Reconhecido por suas previsões audaciosas e sua influência no mundo da tecnologia, Bill Gates, cofundador da Microsoft e filantropo, sugere que as tatuagens eletrônicas podem vir a substituir os celulares. Com uma visão sempre otimista sobre o futuro tecnológico, Gates frequentemente antecipa inovações que ainda parecem distantes, posicionando-se como um verdadeiro visionário das novas realidades digitais.

Embora as tatuagens eletrônicas sejam uma inovação recente, a prática de marcar a pele tem uma longa história, que pode ser rastreada há mais de 5 mil anos. Um dos mais antigos exemplos é o corpo mumificado de Ötzi, a múmia do Similaun, que possui 61 marcações incisas a carvão, consideradas as tatuagens mais antigas do mundo. Foi somente no século XVIII, após a expedição do Capitão James Cook pelo Pacífico Sul, que a prática de tatuar-se foi introduzida ao Ocidente. Durante suas viagens, os marinheiros ingleses tiveram contato com culturas polinésias, como as dos taitianos, conhecidas por suas práticas de tatuagem. Cook e sua tripulação trouxeram para a Europa tanto a prática quanto a terminologia associada à tatuagem, ajudando a popularizar a arte na sociedade ocidental. O termo “tatuagem” em si deriva da palavra polinésia “tatau”, que descrevia o processo de marcação da pele com tinta.

Inicialmente associada à marginalidade e à vida dos “desajustados”, a tatuagem foi gradualmente transformada em uma forma de expressão pessoal apreciada por pessoas de todas as idades e origens, transcendendo seu caráter rebelde e se estabelecendo como uma via legítima de expressão subjetiva. Hoje, as tatuagens eletrônicas representam uma nova fronteira. Apesar do nome, essas tatuagens não têm semelhança com as tatuagens convencionais, que são permanentemente inscritas na pele com tinta. Em vez disso, são dispositivos modernos utilizados principalmente na medicina, mas com um potencial promissor para aplicações muito mais complexas. Neste texto, exploraremos como as tatuagens eletrônicas podem revolucionar o mundo em que vivemos.

O que são tatuagens eletrônicas?

A tatuagem eletrônica é uma inovação tecnológica que se diferencia das tatuagens tradicionais ao utilizar adesivos poliméricos em vez de agulhas e tinta. Esses adesivos  contêm circuitos eletrônicos que geram sua própria carga elétrica e permitem o monitoramento de sinais vitais, como pressão sanguínea e níveis de hidratação. 

Um componente chave das tatuagens eletrônicas é o grafeno, um material extremamente forte e fino, semelhante ao grafite encontrado em lápis, mas organizado em camadas ultrafinas. O grafeno é utilizado devido à sua elasticidade e condutividade, que são ideais para criar um material pegajoso e elástico que envolve os sensores eletrônicos. Esse design não só garante que a tatuagem se mantenha no lugar, como também oferece flexibilidade, permitindo que a tatuagem se adapte à pele, deformando-se ou enrugando-se sem danos, e proporcionando conforto e precisão ao longo do uso.

Aplicações atuais

Apesar de parecerem uma inovação futurista, as tatuagens eletrônicas já estão em uso e oferecem uma variedade de funções e tipos para diferentes aplicações. Veja alguns exemplos desses dispositivos:

  • Monitorador de glicose:

Desenvolvida pela Universidade da Califórnia em San Diego, a tatuagem eletrônica para monitoramento de glicose é composta por dois eletrodos impressos em um adesivo temporário. Esses eletrodos aplicam uma leve corrente elétrica que faz com que as moléculas de glicose presentes abaixo da pele se movam para a superfície, permitindo a medição dos níveis de açúcar no sangue. Além deste dispositivo, a mesma universidade também criou uma tecnologia semelhante que, além de medir a glicose, pode avaliar os níveis de álcool e lactato no corpo.

  • MC10:

O MC10 é um dispositivo feito de silicone, resistente à água e quase invisível que pode ser aplicado diretamente sobre a pele para medir várias funções biométricas. Quando em uso, ele monitora uma variedade de parâmetros fisiológicos, incluindo movimentos e o desempenho muscular, sinais vitais relacionados ao coração e atividade cerebral. Ao contrário de outras tatuagens eletrônicas, o MC10 possui uma pequena bateria e conexão Bluetooth, permitindo a transmissão dos dados coletados para dispositivos externos, como smartphones ou computadores. Essa conectividade facilita o acompanhamento em tempo real e a análise dos dados biométricos.

  • Monitorador de pressão arterial:

Recentemente, pesquisadores da Universidade do Texas em Austin desenvolveram um protótipo de tatuagem eletrônica capaz de ser usada no pulso por várias horas para monitorar continuamente a pressão arterial. Denominado e-tattoo, o dispositivo realiza funções semelhantes às dos equipamentos convencionais, mas com a vantagem de possibilitar medições em diversas condições, como momentos de estresse, durante o sono e durante a prática de atividades físicas. O e-tattoo demonstrou a capacidade de fornecer dados precisos por até cinco horas seguidas, oferecendo um número muito maior de medições em comparação com os dispositivos tradicionais.

Desafios

Como qualquer avanço tecnológico, as tatuagens eletrônicas enfrentam desafios significativos que precisam ser superados para que possam se tornar amplamente adotadas. Um dos principais empecilhos é a segurança e a privacidade dos dados. Esses dispositivos coletam e transmitem informações biométricas sensíveis, o que exige a implementação de medidas rigorosas para proteger os dados pessoais dos usuários contra acessos não autorizados. Garantir que as tatuagens eletrônicas estejam em conformidade com as regulamentações de proteção de dados é essencial para preservar a confiança dos consumidores e evitar possíveis riscos.

Outro desafio importante é a durabilidade e o conforto dos dispositivos. Apesar de serem projetadas para se adaptar à pele, as tatuagens eletrônicas precisam ser resistentes ao desgaste e manter a precisão dos sensores ao longo do tempo. A adaptação da tecnologia para que os dispositivos possam ser usados por períodos prolongados sem comprometer o conforto ou a funcionalidade é uma área em contínuo desenvolvimento.

Conclusão

As tatuagens eletrônicas representam um avanço revolucionário na integração da tecnologia com a biologia humana, oferecendo um novo paradigma para o monitoramento contínuo da saúde. Com a capacidade de fornecer dados precisos e em tempo real, essas inovações têm o potencial de transformar a saúde personalizada e o cuidado remoto, permitindo uma gestão mais eficaz e contínua das condições de saúde.

Além dos benefícios atuais para a medicina, o futuro das tatuagens eletrônicas promete expandir suas aplicações de maneira ainda mais inovadora. À medida que a tecnologia evolui, podemos antecipar seu uso em áreas além da saúde, como o controle de dispositivos inteligentes e a integração com sistemas de pagamento, aproximando-se da visão de Bill Gates sobre sua possível capacidade de substituir funções dos smartphones. A exploração contínua dessas possibilidades pode não só melhorar nossa interação com a tecnologia, mas também redefinir a forma como vivenciamos e gerenciamos nosso cotidiano.

Em resumo, as tatuagens eletrônicas não apenas oferecem novas ferramentas para o monitoramento da saúde, mas também sinalizam o início de uma era em que a tecnologia e a biologia se entrelaçam cada vez mais, abrindo portas para um futuro inovador e interconectado.

Mariana Saar