Amazon FACE: a tecnologia de aceleração do aquecimento global

Amazon FACE: a tecnologia de aceleração do aquecimento global

Cada vez mais, com o passar dos anos, estamos percebendo a grande mudança no meio ambiente devido à intensificação do efeito estufa, perdurando no aquecimento global. Vemos esse tipo de atividade quando falamos de derretimento de geleiras, mudanças de clima e cidades – ou até mesmo países – que provavelmente em alguns anos deixarão de existir devido ao aumento do nível dos oceanos. Um dos maiores vilões desse sistema é o Dióxido de Carbono e como ele impacta as florestas atuais. Mas será que ele tem sido tão prejudicial assim nas florestas ou ele pode ajudar a gente na luta contra o aquecimento global? Esse é o objetivo primordial da nova tecnologia do Amazon FACE, observar de forma prática e objetiva, os impactos que o carbono fornecerá para a nossa maior fonte de vida, que sustenta a Terra, a floresta Amazônica.

O que é Amazon FACE?

Amazon FACE – Amazon Free Air Carbon Dioxide Enrichment -, como o próprio nome indica, é um projeto que planeja obter informações, com clareza e mais certeza, de como a Floresta Amazônica reagirá com o aumento de 50% de emissão de dióxido de carbono na atmosfera. Tal situação, que, de acordo com estatísticas, será realidade em 2100. Esse projeto criará artificialmente, a partir de câmaras de superfície aberta, as condições atmosféricas que esperamos ter no futuro, conseguindo analisar como a floresta responde a essa realidade, por meio do maior laboratório a céu aberto do mundo.

O que é o sistema FACE?

O sistema é composto de câmaras circulares ligadas a um tanque de armazenamento de CO2 líquido. Ela é interligada a um sistema complexo de válvulas e sensores que controlam a quantidade de ar sendo liberada, a depender da velocidade e direção do vento, para que se obtenha a concentração desejada de CO2(50% maior do que o dos dias atuais). Cada um dos anéis deve ser estritamente monitorado a fim de se obter toda e qualquer resposta de como a floresta está reagindo ao estímulo de dióxido de carbono.

A tecnologia FACE, sendo usada em partes da Amazônia, é conhecida como Amazon Face. No entanto, essa tecnologia já foi usada outras vezes em outras florestas do mundo, como é o caso  de Oak Ridge National Laboratory FACE e Duke FACE, localizadas nos EUA, sendo ambas florestas temperadas. Existem ainda, experimentos como EucFACE, na Austrália e BiFor-FACE, na Inglaterra, que também vêm usando a tecnologia FACE. Portanto, a Amazon FACE será o primeiro experimento de tecnologia FACE realizado em uma floresta tropical, trazendo informações valiosas sobre o futuro do mundo que conhecemos hoje.

Como acontecerá?

O projeto em si, foi dividido em duas fases. A primeira ocorreu entre 2015 e 2020 e foi de extrema importância para o desenvolvimento da segunda fase e a necessidade dela. Durante esse tempo foram estudados processos ecológicos que ocorrem abaixo do solo, que são processos importantes do ecossistema. Nela, percebemos que em um meio ambiente com o aumento de CO2, árvores menores aumentam sua fotossíntese, aumentam o tamanho de suas folhas e não mudam seus padrões de transpiração. Com relação a árvores de grande porte, mudanças podem ser percebidas somente após a segunda fase. 

Ainda na primeira parte do experimento, foi descoberto que as raízes conseguem estocar mais carbono, mas o solo amazônico, por possuir uma deficiência em fósforo, pode reduzir a capacidade de absorção da floresta. 

Já na segunda parte do projeto, foram instaladas 6 estruturas de torres circulares – de 35 metros de altura, 30 metros de diâmetro, que abrigam em torno de 50 árvores maduras cada uma – com a superfície aberta que libera dióxido de carbono a níveis de concentração de 2100. Em metade delas, será liberado um ar enriquecido com gás carbônico em concentrações futuras e na outra metade, com concentrações atuais.

Esse experimento promete nos fazer entender melhor como a floresta reagirá: de forma positiva ou negativa, nos responder se a floresta irá ajudar a diminuir a mudança climática ou realmente será destruída. Ele nos traz uma resposta também sobre quão urgente necessitamos de diminuir nossas concentrações emitidas de CO2, alterando também negociações internacionais para os próximos anos, principalmente na conferência do COP26. 

A segunda parte desse projeto deve dar início, nas primeiras duas câmaras, em julho e agosto de 2024, uma vez que já estão em fase final de construção. As outras torres devem estar prontas até o final desse mesmo ano. 

O projeto, deve durar longos anos para a sua finalização, pelo ou menos 10, uma vez que existem resultados que devem ser medidos de forma mais lenta, para obter a resposta da floresta em um longo prazo de tempo. 

De acordo com o site do Governo Federal, o ministro das Relações Exteriores, Commonwealth e Desenvolvimento do Reino Unido, James Cleverly, confirmou investimento do país de 12,3 milhões de reais no projeto, que, somado ao já investido anteriormente, resultam em 45 milhões de reais aplicados no projeto desde 2021. Além disso, o Governo Brasileiro liberará uma quantia de 32 milhões de reais do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, como anunciado pela ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos. 

Vale destacar também que é um programa de pesquisa do MCTI, coordenado por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa/MCTI) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em cooperação com o governo britânico e implementado pelo Met Office (serviço de meteorologia britânico). 

De que forma a liberação do gás carbono pode influenciar de maneira positiva a Floresta Amazônica?

Ao longo dos anos, diversas pesquisas nos trouxeram a ideia de que o aumento do CO2 contido na atmosfera acarretaria em um colapso das florestas. Traria a morte da floresta e de todo o ecossistema que por ela é sustentado. No entanto, essa ideia vem sendo insustentada, ou então debatida por alguns cientistas devido ao chamado “efeito de fertilização por CO2”.

Esse efeito explica que o CO2 é combustível direto para a realização da fotossíntese, portanto, espera-se que com o aumento do gás carbônico atmosférico, as árvores sejam estimuladas a maior produção de fotossíntese (processo de alimentação das plantas). Com esse efeito comprovado em altas concentrações de CO2 – como é o caso de que teremos em 2100 – esse processo pode nos ajudar com relação ao combate ao aquecimento global.

É notório também, a partir de experimentos nos últimos anos, que a Amazônia possui um alto nível de absorção de CO2, armazenando-o na sua biomassa. Contudo, essa absorção atmosférica do carbono vem diminuindo cada vez mais ao longo dos anos, nos levando a entender que seja possivelmente devido à mudança climática, saturação do efeito de fertilização do carbono por excesso do mesmo ou devido a deficiência de fósforo no solo amazônico, que pode limitar a contenção de gás carbônico pelas plantas. 

Portanto, tais hipóteses precisam de experimento para sua comprovação, resposta que será dada pelo Amazon FACE. Uma vez experimento realizado, podemos perceber a urgência e necessidades da floresta e do mundo atual em si, com relação a, principalmente, contenção do aquecimento global.

Conclusão

O Amazon Face, portanto, é um experimento de extrema importância para a determinação das atitudes a serem tomadas pelo mundo, uma vez que determinará não só a resposta das florestas tropicais em função das mudanças climáticas e aumento em 50% de CO2 com relação ao que temos hoje, mas também nos mostrará os principais problemas que influenciam a diminuição de absorção de carbono pela amazônia. Tal fato, pode, ou não, nos trazer novos eixos de solução do problema, novos experimentos, estudos e/ou decisões a serem tomadas, para conter ao máximo o aquecimento global. Isso pode também afetar a política internacional como um todo, devido a discussões e tomada de decisões necessárias, dependendo do resultado e andamento do projeto, englobando diversas outras questões muito delicadas. 

De maneira sucinta, vale destacar também, que independente da floresta tropical reagir, ou não, de maneira positiva aos estímulos de carbono, o aquecimento global já é realidade no mundo atual e, para que consigamos o conter, precisamos da contribuição de um mundo como todo, não somente no que tange os deveres das nações – que são os mais urgentes – , mas também há necessidade de um levantamento coletivo da população mundial, o que torna a situação cada vez mais complicada, devido às diferentes realidades que abrangem a vida cotidiana de todas as pessoas.

Anna Ridzi