Suspensão das atividades acadêmicas devido a Covid-19 levanta discussão sobre a implementação do EAD
No dia 28 de maio, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) disponibilizou no Siga o formulário de Diagnóstico das Condições de Acesso Digital, para que estudantes, professores e técnico-administrativos (TAEs) possam responder questões sobre acesso à internet e aos recursos digitais. Além disso o usuário também responde sobre suas condições socioeconômicas e de saúde.
O formulário tem por objetivo compreender a real condição dos alunos, para posteriormente debater sobre as possibilidades de implementação ou não de atividades à distância. A UFJF também ressalta que os resultados serão amplamente discutidos com a comunidade acadêmica, pelos conselhos setoriais e pelo Conselho Superior (Consu).
O isolamento social, a fim de evitar a propagação do novo coronavírus, fez com que o Brasil suspendesse as aulas presenciais em todo território nacional com o objetivo de evitar aglomerações. Diante disso, surgiu o embate acerca da necessidade de dar continuidade ao ensino durante esse período.
Dessa forma, o Ministério da Educação (MEC) aprovou, no dia 18 de março, o ensino remoto emergencial de nível superior. A medida foi adotada para que os alunos não ficassem parados durante a pandemia do novo coronavírus. Contudo, atualmente apenas 13 das 69 universidades federais do Brasil não estão com suas atividades suspensas. As informações são do próprio MEC, que criou uma página na internet para divulgar o status de funcionamento das instituições federais de ensino.
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A suspensão das aulas em universidades públicas reabre discussões sobre o ensino à distância (EAD) e inclusão digital. Hoje em dia apesar da modalidade de ensino à distância ser amplamente divulgada e conhecida, é necessário cautela em sua implementação, avaliando os diversos dilemas que surgem devido a aplicação deste modelo de ensino.
Dificuldade no acesso às aulas
Um dos principais pontos a serem analisados no ensino à distância em universidades federais é o acesso às aulas. A Universidade Federal de Pernambuco, por exemplo, optou por não aderir ao programa de ensino virtual substituindo a graduação presencial, por alegar em nota que 35% dos alunos vêm de famílias com renda igual ou inferior a um salário mínimo e meio por pessoa, possuindo desta forma dificuldades de acesso à computadores e internet de qualidade.
Além de dificuldade de acesso por parte dos estudantes, muitas instituições de ensino também não possuem infraestrutura tecnológica suficiente para suprir a alta demanda de aulas online, bem como carecem de um corpo docente com habilidades pedagógicas e tecnológicas para adaptar sua didática através do EAD. Em universidades como a UFRGS há treinamento online para os professores desde 2010, apesar disso, poucos são os que continuaram com as aulas online.
O impasse do ensino à distância ainda pode representar uma barreira para pessoas com deficiência (PCDs). A reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), instituição que tem o maior número de alunos entre as federais no Brasil, divulgou uma nota salientando que alunos com deficiência “necessitam de recursos que ainda não podem ser oferecidos nessa modalidade”.
Segundo o estudo recente, o CensoEAD.BR da Associação Brasileira de Educação a Distância, mostra que apesar do crescimento desta modalidade de ensino em todo o país, as instituições formadoras de EAD no Brasil apresentam números baixos de investimentos na inclusão.
Projeto da USP permite aulas práticas de engenharia à distância
A Universidade de São Paulo (USP) foi uma das poucas universidades do brasil que não suspenderam suas atividades. Em uma nota divulgada no dia 17 de março, o reitor afirmou que a universidade espera formar cerca de 15 mil profissionais neste ano e que as aulas online não trazem nenhum risco para a saúde dos alunos, professores e funcionários.
No mês de abril a USP distribuiu chips de celular e modem portátil por USB para alunos com maior vulnerabilidade social. A previsão é que os equipamentos funcionem por seis meses para os alunos das residências estudantis e para os que se cadastraram no site.
Recentemente, a instituição desenvolveu o projeto Laboratório Digital EAD (LabEAD) que permite aulas práticas de engenharia a distância. O projeto utiliza a tecnologia da Internet das Coisas e permite que estudantes de engenharia se conectem, utilizando seus computadores, a equipamentos de laboratório e realizem as aulas práticas do curso à distância. Em parceria com Universidade Federal do ABC (UFABC), a USP afirma que o projeto LabEAD foi classificado como open source, o que significa que todos os programas estarão liberados para uso gratuito por outras universidades.
Confira o vídeo de apresentação do projeto que será aplicado em setembro deste ano.
A UFJF
Segundo o site da instituição, o reitor da UFJF, Marcus Vinicius David, acredita que a suspensão das atividades presenciais em virtude do novo coronavírus trouxe um novo desafio para o conjunto a Universidade.
“Cada vez mais precisamos refletir sobre os caminhos a tomar para que a essência da Universidade – suas atividades de ensino, pesquisa e extensão – permaneça viva em condições tão adversas. Somos cientes de que existem estratégias muito diferentes e devemos estar atentos às múltiplas possibilidades de formação, entre as quais o acesso e a ação pela via das plataformas digitais são instrumentos que não devem ser ignorados. A UFJF defende que a experiência pedagógica na sala de aula e nos laboratórios continue sendo o eixo fundamental do ensino-aprendizagem. Mas, no presente e no futuro próximo, diagnosticar o acesso às tecnologias digitais e as condições para este acesso é um do instrumentos estratégicos para o planejamento das atividades.” reforça o reitor.
O formulário para preenchimento do diagnóstico ficará disponível até dia 11 de Junho e a UFJF reitera que participar do formulário não significa que o usuário concorda com aulas online ou qualquer outra forma de ensino à distância.
Em virtude dos fatos apresentados, é fundamental que antes da implementação de qualquer modelo de ensino remoto, é necessário capacitar e viabilizar total acesso aqueles que, devido a uma vulnerabilidade social, não possuem condições de adaptação sem o apoio público.
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Por Juliana Quinelato.
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