Opinião – O que a indústria 4.0 traz de novo para as engenharias?
Definir a Indústria 4.0 é algo um tanto quanto difícil. Além de ser algo extremamente complexo, amanhã existe a possibilidade da minha definição já não ser mais válida. Em algumas palavras, diria que é tudo que engloba as novas aplicações de automação e inteligentização das coisas, seja de forma a aumentar a segurança dos processos, seja para diminuir custos e principalmente para haver maior contato entre todas as etapas de tudo que acontece. Mas, se fosse definir em uma palavra, essa seria: mutante. Assim como o novo coronavírus, a Indústria 4.0 está em constante expansão e inovação. A parte boa é que, na maioria dos casos, é para o nosso próprio bem.
A minha abordagem poderia ter um cunho mais técnico, falando das tecnologias inovadoras, que vão desde o Big Data até geladeiras inteligentes, mas isso estamos todos cansados de ver nos jornais ou artigos científicos que lemos. É sobre isso que vamos falar nos nossos TCCs, que vamos desenvolver ou implementar quando estivermos no mercado de trabalho. Não vamos sentir falta desses assuntos técnicos. Mas o que prefiro dizer é o que deveria estar sendo discutido com exaustão nos colegiados de cursos das áreas correlatas: A Indústria 4.0 traz para nós, engenheiros e estudantes, uma demanda jamais antes vista por um engenheiro do futuro, hoje. E quem esse engenheiro deve ser? As nossas universidades estão formando ele?
A resposta para a segunda não surpreende ninguém (ou talvez sim): Não. Os currículos dos cursos de engenharia no Brasil são extremamente engessados e rígidos. Focam mais em nos fazer revolver, a mão, cálculos e equações que um programa de computador resolve com maior velocidade e menor possibilidade de erro. Claro que é importante que saibamos de onde tudo vem e conheçamos a fundo o raciocínio e a operatória por trás. Mas de nada adianta ser um exímio calculista em pleno século XXI. O importante hoje é ver onde isso pode ser aplicado, como se integra ao restante do mundo e como podemos desenvolver do zero, engenhar.
Na realidade da UFJF, hoje são 10 cursos de engenharia completamente focados em suas próprias áreas e sem muita margem para dialogar com as outras. A engenharia não foi sempre assim. Os romanos tinham uma visão sistêmica há 2000 anos que não temos hoje: da construção de estradas ao aproveitamento da energia hidráulica para mover moinhos. Da Vinci era um inventor nato – não se ateve ao que a física ou a matemática podiam explicar, partindo para a criação do impossível e do inimaginável.
Hoje, infelizmente, ainda temos projetos residenciais que não preveem que um eletroduto e um encanamento não podem ocupar o mesmo lugar. Viadutos como o do Poço Rico que não se atém a requisitos mínimos, como a passagem de pedestres. Finalizo dizendo que a Indústria 4.0 traz para a engenharia demandas. Demandas de uma visão do mundo como um todo e não mais apenas como partes separadas.
Texto por Esteban Aguilar
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