Especial: Telescópio com espelho de 39 metros de diâmetro está em construção no Chile
Observar os objetos mais distantes, conhecer mais sobre a matéria escura e os exoplanetas, aqueles que estão fora do Sistema Solar, são alguns dos desafios aos astrônomos. Mas no que depender de um novo e potente equipamento, operado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO), essas e outras descobertas vão ser possíveis. Estamos falando do Extremely Large Telescope (ELT), ou o maior telescópio do mundo, que está em construção no Deserto do Atacama, no Chile.
Atualmente, o país da América do Sul já é o que apresenta três quartos dos equipamentos de pesquisa astronômica do mundo, incluindo o maior telescópio já construído até hoje, o Very Large Telescope (VLT). O motivo de o Chile ser o local escolhido, mais especificamente no deserto, é devido ao céu ser dos mais limpos, sem nuvens devido à baixa umidade do ar, e ao longo de boa parte do ano, o que facilita as observações.
O ELT será construído no topo do Cerro Armazones, que fica a 1200 km ao norte de Santiago e tem 3046 metros de altitude. A região foi toda preparada para receber a construção do telescópio, desde 2014. A construção de fato teve início em maio de 2017, e a previsão é de que o ELT esteja pronto em 2024, possibilitando uma visão privilegiada e detalhada do Universo, algo antes não alcançado.
As características deste que será o maior telescópio do mundo já impressionam. Ele contará com um sistema de 5 espelhos, sendo que o principal do equipamento terá 39 metros de diâmetro. Atualmente o maior telescópio existente, o VLT, apresenta um espelho primário com 8,2 metros. O ELT – ou também conhecido como E-ELT, abreviatura de European Extremely Large Telescope – terá 790 segmentos hexagonais, cada um deles com 1,4 metros de largura e 5 centímetros de espessura, além de ocupar uma área de 978 metros quadrados e uma estrutura à prova de terremotos. O domo terá 80 metros de altura e 85 metros de diâmetro.
Com esses números já é possível entender o quanto este telescópio infravermelho será diferenciado, com resultados inéditos, captando até 13 vezes mais luz do que o atual VLT, instalado no Observatório do Paranal, a apenas 20 km de distância de onde será construído o ELT. No Chile, há ainda observatórios em La Silla e Alma, correspondendo no total a mais de 700km de extensão dos centros astronômicos.
A importância
O ELT será fundamental para o conhecimento das primeiras galáxias e a evolução das mesmas, bem como medir com que rapidez acontece a expansão do Universo. Portanto, os objetivos são ambiciosos e o conhecimento esperado vai além do Sistema Solar.
Além disso, o estudo da matéria escura é um dos objetivos, por ser tema ainda desconhecido para os astrônomos, e por representar boa parte de tudo que existe no Universo.
O Governo do Chile doou para a ESO a área em que será construído o telescópio, bem como seu entorno, correspondendo a 189 km². A concessão é válida por um período de 50 anos. O custo previsto do projeto é de 1,2 bilhão de euros.
E o Brasil?
Atualmente quinze países europeus fazem parte da ESO: Áustria, Bélgica, República Checa, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Itália, Holanda, Polônia, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça e Grã-Bretanha. No consórcio do projeto do ELT, o Chile faz parte como país sede. A participação do Brasil, entretanto, já passou por diferentes fases e não se concretizou até o momento.
O primeiro passo seria o Brasil se tornar membro efetivo do ESO, o que vem sendo discutido há 7 anos. O ESO faz questão da participação do país, mas a crise econômica e uma não definição por parte dos representantes brasileiros foram alguns dos entraves para que o Brasil passasse a fazer parte do consórcio.
Em 2011, foi assinado um acordo entre a ESO e o Brasil, e o país ficou como “membro em ascensão”. O acordo foi ratificado em 2015 pelo Congresso Nacional, mas não recebeu a sanção presidencial até hoje.
Até março de 2018, pelo fato de o Brasil ser um país membro, os pesquisadores poderiam acessar as instalações do observatório. Mas desde então os brasileiros precisam passar por um crivo mais rigoroso, pois nesse mesmo mês a ESO suspendeu a participação do Brasil.
Além da sanção presidencial do acordo, para concretizá-lo e o país fazer parte do consórcio, seria necessário que o Brasil efetivasse o pagamento de parte do valor do projeto, calculado conforme o PIB de cada país, o que seria equivalente a R$1 bilhão.
Entre as empresas que participam do projeto, a Quadrante, empresa portuguesa de engenharia, será responsável pelos projetos de arquitetura e estrutura de um edifício que servirá de apoio à construção do telescópio, servindo para a limpeza de suas lentes. A notícia foi bem recebida em Portugal, e sem dúvidas é promessa de retorno financeiro e em conhecimento ao país.
Apesar das mudanças, a ESO reitera que a participação do Brasil seria muito importante. O mesmo valeria ao Brasil, que poderia ter o retorno do investimento e estimular financeiramente distintas áreas, além de aumentar o incentivo à ciência e à pesquisa.
Fonte: Engenharia 360