Pedro Gomes Barbosa: Um Visionário na Engenharia Elétrica e na Marinha
Pedro Gomes Barbosa é um profissional com uma trajetória impressionante que abrange a Engenharia Elétrica e a Marinha. Ele concluiu sua graduação em Engenharia Elétrica na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em 1986. Após sua formatura, Pedro ingressou na Marinha, onde trabalhou de 1987 a 1992. Durante esse período, desempenhou um papel fundamental na equipe responsável pela construção e comissionamento dos sistemas elétricos e eletrônicos da Converta Jaceguai e Inhauma, duas embarcações de 110 metros da Marinha do Brasil.
Após sua experiência na Marinha, Pedro atuou como pesquisador em diversos projetos no Laboratório de Eletrônica de Potência do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE-UFRJ) de 1992 a 1999.
Desde 1999, ele integra o corpo docente do Departamento de Energia Elétrica da UFJF. Lá, leciona disciplinas como Eletrônica de Potência, Máquinas, Acionamentos Elétricos, Conversão Eletromecânica, Modelagem e Controle de Conversores Estáticos de Potência para cursos de graduação e pós-graduação. Pedro atualmente detém o cargo de Professor Titular, com especialização em áreas que incluem filtros harmônicos ativos, integração de fontes de energia renovável na rede e aplicação de conversores eletrônicos de potência em sistemas elétricos de potência, como controladores FACTS e sistemas HVDC.
Pedro Gomes Barbosa é membro do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), da Sociedade Brasileira de Eletrônica de Potência (SOBRAEP) e da Sociedade Brasileira de Automação (SBA). Ele também é um profissional registrado no Conselho Brasileiro de Engenharia (CREA/COFEA).
A extraordinária jornada de Pedro é um exemplo inspirador de sucesso na Engenharia Elétrica e destaca a importância de sua carreira na Marinha. Nesta entrevista, exploraremos mais a fundo suas motivações e conselhos para estudantes de Engenharia Elétrica, bem como para aqueles que aspiram seguir esse caminho emocionante.
O que te motivou a cursar engenharia?
Minha história não é diferente da maioria dos alunos. No ensino médio, eu me identificava com as matérias de exatas, como matemática e física. A partir disso, já tinha uma clara intenção de cursar alguma faculdade nessa área. Naquela época, fiquei bastante indeciso sobre qual curso seguir, pois o Brasil estava construindo usinas nucleares, e havia uma grande propaganda de que o país estava entrando na era nuclear, precisando de muitos físicos nucleares. Isso me encantava.
No entanto, com o amadurecimento e o conhecimento, no 2º ano do ensino médio, tive contato com a eletricidade, onde tive um forte interesse e isto foi me motivando, então gradualmente comecei a estreitar minhas opções para o ensino superior. E acabei escolhendo engenharia.
Dentro do campo da engenharia, por que você escolheu a elétrica?
Como disse anteriormente, escolhi a engenharia elétrica porque fiquei fascinado com os conceitos que estudei durante o ensino médio, especialmente as interações relacionadas ao campo elétrico, carga elétrica e corrente elétrica. Essa paixão foi um fator determinante na minha escolha pela engenharia elétrica.”
Qual foi o momento mais desafiador dentro da sua graduação?
Eu preciso admitir que o início do curso foi muito difícil, acho que para todos os alunos, é muito difícil. Logo após a aprovação, eu esperava começar imediatamente a estudar engenharia, o que gerou um grande impacto em mim. Por um longo período, fiquei me questionando, cerca de dois anos, para ser mais preciso. Eu pensava: “Poxa vida, passei para engenharia e agora tenho que me dedicar à matemática, física e tantos cálculos.” No entanto, era um conteúdo que eu gostava. Tenho que confessar que demorei um pouco para enxergar uma luz no fim do túnel, porque meu desejo era estudar engenharia, mas primeiro precisava passar por toda a formação básica, que incluía física, matemática, química e outras disciplinas.
Qual foi o momento que mais te marcou dentro da sua graduação?
Teve um acontecimento bastante interessante durante esse período de formação básica, que hoje talvez vocês não sintam o mesmo impacto, que foi a parte de computação e cálculo numérico. Na minha época, não tínhamos computadores pessoais, nem laboratórios com computadores. A universidade possuía apenas um computador, um grande BM1130 que ficava no ICE, e todos os processamentos eram realizados lá. Nós perfurávamos cartões, você provavelmente já ouviu essa história. Digitávamos em uma máquina, onde cada cartão era como uma linha de código, e depois levávamos para o processamento.
Isso foi muito interessante, pois abriu novos horizontes, especialmente na área de processamento de dados. Outra coisa que me impactou profundamente durante a formação básica, foi quando estudei cálculo pela primeira vez. Eu não tinha noção de cálculo, mas quando começaram a falar sobre integrais, delta x reduzindo tendendo a infinito, aquilo me deixou perplexo na época.
No campo do processamento de dados, quando cheguei na engenharia, os computadores pessoais estavam começando a ser desenvolvidos. Na verdade, nos Estados Unidos, já estavam bem avançados, e aqui no Brasil, o desenvolvimento estava começando. Em Juiz de Fora, tínhamos um laboratório chamado Labmicro, que tinha um microcomputador. Para você ter uma ideia, a unidade de disquete era do tamanho de um frigobar.
Nesse laboratório, aquele computador tornou-se acessível para nós. No entanto, havia apenas um computador para todos os estudantes de engenharia elétrica, e a reserva era possível, mas tinha que reservar de 15 em 15 minutos. Esse momento foi marcante para mim e é, hoje, de grande importância para a engenharia elétrica, especialmente para simulações e análises de comportamento de circuitos. Foi emocionante ver essa revolução tecnológica se iniciando.
O que decidiu fazer depois que se formou?
Essa é uma pergunta interessante, pois, na verdade, não decidi exatamente quando me formei. Naquela época, eu tinha algumas opções: fazer mestrado, um curso de especialização, buscar oportunidades no mercado de trabalho ou concorrer em concursos.
Em dezembro, logo após minha formatura, houve um concurso para a Petrobras, voltado para engenharia de produção de petróleo. Isso não era um problema, então eu e meus colegas fizemos o concurso. No entanto, eu não passei, embora um dos meus colegas tenha sido aprovado.
A partir daí, comecei a enviar meu currículo para algumas empresas. O mestrado só iria começar em março, e em Juiz de Fora não havia curso de pós-graduação. Foi quando, em dezembro, surgiu um concurso para a Marinha, que todos nós prestamos. Na época, havia apenas cinco vagas, e somente três foram aprovados. Eu fui o terceiro colocado neste concurso. Assim, eu acabei não escolhendo, eu fui escolhido na verdade em função deste concurso, para ser engenheiro da Marinha.
Como foi trabalhar na Marinha?
Trabalhar na Marinha foi uma experiência única. Eu tinha acabado de me formar e achava que sabia de tudo, o que era uma ilusão comum quando somos mais jovens. Ao entrar na Marinha, eu era o mais novo no grupo, o que representou um grande desafio. A Marinha tinha um estaleiro no Rio de Janeiro, no coração da cidade, e eu fui designado para trabalhar na Ilha das Cobras, onde realizavam construção e reparos navais.
Na época, a corveta Jaceguai estava sendo construída, e meu comandante me designou para a responsabilidade de cuidar dos sistemas elétricos e eletrônicos da embarcação. No começo, eu estava inseguro e pensei em pedir para alguém mais experiente me explicar as coisas. No entanto, foi assim que minha carreira profissional começou. Acabei não escolhendo essa área, pois passei no concurso da Marinha, e só depois de alguns anos lá decidi fazer o mestrado.
Trabalhar lá foi um desafio, especialmente por causa da diferença de idade entre eu e meus colegas. No entanto, aprendi a trabalhar em equipe e a superar minhas inseguranças. No começo, havia momentos em que duvidava de minha capacidade de realizar as tarefas, mas com o tempo, adquiri independência e me tornei um membro respeitado da equipe.
O que te motivou a fazer o mestrado?
Na Marinha eu acabei me especializando muito na parte de máquinas, motores, geradores e eletrônica de potência que estava começando a ser utilizada para acionar máquinas. E eu comecei a fazer cursos buscando me especializar nestas áreas. Daí chegou um momento que cheguei a conclusão que iria fazer o mestrado nesta área, e assim fui procurando algumas opções. Como na época eu estava no Rio, procurei na PUC, UFRJ e Itajubá. Assim fui aprovado em um destes processos seletivos, daí fui pedir para o meu patrão para fazer. Na época a situação econômica do Brasil não estava muito boa, estava muito ruim financeiramente. O projeto na marinha já havia terminado, o projeto durou 4,5 anos e já estava operacional, não tinha mais nenhum projeto por questão de recessão orçamentária. E daí pedi para fazer o mestrado, na época meu patrão falou que eu teria que esperar minha vez, porque havia outros na minha frente e foi então que decidi sair e começar a me especializar.
Qual o conselho que o Pedro de hoje daria para o Pedro que está iniciando a faculdade?
Ter calma e começar a planejar sua vida profissional.
O que eu vejo muito na maioria dos alunos ou no Pedro antigo é que não planejam onde eles querem chegar.
Pergunte a si mesmo onde você deseja estar daqui a cinco anos e o que precisa fazer para alcançar esse objetivo. Manter o foco nesse planejamento é essencial.
Entendo que muitos alunos, assim como o Pedro mais jovem, não costumam planejar seu futuro com antecedência. No entanto, é importante definir metas claras. É comum que os jovens não olhem muito para o futuro, mas a falta de oportunidades no Brasil após a formatura pode ser um fator desmotivador.
O que percebo é que muitas vezes falta planejamento. Compreendo que, em alguns casos, não temos total clareza sobre como será nossa carreira. Hoje, tenho uma visão mais ampla do que os alunos podem esperar. A maioria dos formandos não vai trabalhar diretamente na área em que se formaram. A formação em engenharia proporciona habilidades de raciocínio lógico e pensamento crítico que podem ser aplicadas em diversos setores. Alguns vão para a indústria, outros para a administração e a gerência.
Portanto, meu conselho seria começar a planejar sua vida profissional, definindo metas a curto e longo prazo. Onde você deseja estar em cinco, dez ou cinquenta anos? Quais etapas são necessárias para alcançar esses objetivos? Manter o foco em seu planejamento é essencial, embora possa haver oportunidades que o levem por caminhos inesperados. A chave é adaptar o plano conforme a vida e as oportunidades se apresentam.
Qual conselho você daria para os estudantes de engenharia elétrica?
Meu conselho para os estudantes de engenharia elétrica e futuros engenheiros é claro: concentrem-se em sua formação. Entendam que a construção de uma base sólida não acontece instantaneamente; requer dedicação e envolve desafios. Muitas vezes, sacrifícios são necessários, e momentos de lazer e contato com a família podem ser afetados. No entanto, essa jornada é um investimento inestimável.
Acreditem nas escolhas que fizeram, especialmente ao optar pelo curso de engenharia elétrica em Juiz de Fora, altamente conceituado no momento. O fato de Juiz de Fora não ser um grande centro oferece aos alunos uma tranquilidade única em diversos momentos.
Aproveitem as oportunidades disponíveis na UFJF, como iniciação científica, laboratórios e projetos complementares, para enriquecer sua formação. Estabeleçam relações com professores experientes, que podem orientar desde alunos iniciantes até os mais avançados. Não fique só na graduação, a vida não se resume a uma única coisa; portanto, explorem essas oportunidades.
Outro conselho é que tenham fé, não necessariamente religiosa, mas acreditem que estão no caminho certo. Aproveitem ao máximo os momentos de contato, pois o relacionamento com os professores não se limita ao ensino, mas também contribui para o crescimento como cidadãos e seres humanos.
Autor: Cintia Fortunato