Entrevista: Miguel Barbosa Mendes e a Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto
A entrevista de hoje conta com Miguel Barbosa Mendes, Operador de Reator Sênior da Usina Nuclear de ANGRA 1.
Natural de Juiz de Fora – Minas Gerais, Miguel é formado em Eletrotécnica pelo Colégio Técnico Universitário da UFJF, concursado em 1985 em FURNAS, atual Eletronuclear, da qual foi estagiário até Dezembro de 1997.
Inicialmente como estagiário, foi alavancando sua carreira e atuando em diversos postos com cada vez mais responsabilidades da Usina Nuclear de Angra 1 até chegar ao cargo de Operador de Reator Sênior. Dentre suas experiências profissionais, Miguel passou por treinamentos anuais no Simulador de Reator em Madrid (Espanha) por 16 anos. Atualmente possui 32 anos de serviços prestados á Eletronuclear.
1) O que o levou a prestar concurso para a Eletronuclear?
Em 1985, o Brasil passava por uma recessão econômica. As oportunidades de emprego eram escassas, ainda mais em uma empresa de grande porte – FURNAS (em 1997, foi formada uma ramificação chamada ELETRONUCLEAR, responsável pelas usinas nucleares), foi uma oportunidade única de desenvolvimento profissional e pessoal.
2) O que o motivou a ficar na Eletronuclear por tanto tempo?
Os benefícios que a empresa oferece aos seus funcionários, como local de moradia, plano de saúde, remuneração, etc, e o desafio tecnológico.
3) Como é seu ambiente de trabalho? O senhor convive com quais profissionais?
Eu trabalho na Sala de Controle de Angra 1. É o centro nervoso da Usina. Comparando, seria a “cabine de comando de um avião”. O ambiente é sereno, utilizado para a monitoração dos parâmetros de diversos sistemas da usina. É um local de concentração, organização e controle.
Convivemos com praticamente todos os profissionais que prestam serviço na Central de Angra, porque todos os trabalhos executados dentro de nossa usina devem passar por aprovação da sala de controle, e, para tal, os profissionais devem se dirigir a sala de controle para receber uma autorização de trabalho. Dentre eles estão engenheiros, técnicos, físicos, médicos, enfermeiros, etc.
4) Qual é a sua opinião a respeito do uso da Energia Nuclear ?
A geração de energia elétrica por fissão nuclear e o Programa Nuclear Brasileiro deveriam ser ampliados.
A nossa matriz energética usa muito a fonte Hidrelétrica e pouco da Energia Nuclear, e com isto ficamos a mercê de variações climáticas.
Devemos aproveitar o fato de termos uma localização geográfica favorável, pois não temos fenômenos naturais como terremotos, tsunamis e furacões.
Além disso, as novas tecnologias implementadas nas usinas, a cada dia as tornam mais e mais seguras.
5) Quando se trata de Usinas nucleares, sempre se pensa em radiação e nos riscos ao meio ambiente. Quais impactos Angra 1 e a Central Nuclear causam ao ecossistema da Costa Verde ?
A Central não emite gases que causam o aquecimento da atmosfera. Todas as atividades da Central são monitoradas por órgãos nacionais e internacionais, assegurando que o ecossistema e toda a população que vive ao redor da mesma não sofre influência da operação das usinas.
6) Como a população local lida com a presença da Central Nuclear ?
No início, devido a falta de informação, tínhamos uma grande rejeição. Com o passar do tempo e com melhor esclarecimento, geração de empregos e desenvolvimento da região, perdeu-se este medo e rejeição. Hoje a população local e dos arredores não teme mais as usinas.
7) Outro assunto que sempre é lembrado é quanto a segurança , haja visto Chernobyl e Fukushima, mais recente. Como a Central Nuclear evita acidentes de grande proporção e quais atividades o senhor desempenha nesse âmbito ?
Devido as experiências de Chernobyl e Fukushima, a industria nuclear teve de adequar as novas exigências de segurança. Vários requisitos foram implementados de forma a dar maior segurança a operação das usinas. Em Chernobyl o grande contribuidor foi o desrespeito aos procedimentos. Em Fukushima a falta de energia elétrica. Estes fatores foram fonte de muito estudo em relação a segurança na operação. Deles vieram várias recomendações de alterações, mudanças de projeto e implementações de equipamentos e procedimentos que farão frente as diversas condições que podem levar a sérios riscos a integridade da planta.
Sou Operador Sênior de Reator. Minha função é direcionar as ações de partida, parada e acompanhamento do funcionamento da unidade.
8) Hoje em dia fala-se muito da privatização da Eletrobrás e os impactos disso na economia brasileira. Como a Central Nuclear se enquadra nesse cenário ?
A Eletronuclear faz parte da Eletrobrás. A Eletrobrás é uma peça estratégica na geração de energia elétrica do país. Alem do que , como a nossa geração é predominantemente hidráulica, temos também o controle de nossa “água”. Vejo que, o gerenciamento de recursos estratégicos para o desenvolvimento e segurança de um país, não devem ser passados a outros. Isto é o dever do nosso governo.