Entrevista: Ivo Chaves da Silva Junior, Faculdade de Engenharia Elétrica da UFJF

Entrevista: Ivo Chaves da Silva Junior, Faculdade de Engenharia Elétrica da UFJF

Possui graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2001), mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2003) e doutorado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2008).Em 2009 ingressou como professor Adjunto do curso de Engenharia de Energia da Universidade Federal do ABC. Em 2010 ingressou na UFJF como professor do quadro permanente do Departamento de Energia Elétrica, onde leciona técnicas de inteligência computacional e otimização na pós-graduação e circuitos lineares I e métodos de otimização para a graduação. Na UFJF é um dos coordenadores do Grupo de Otimização Heurística e Bioinspirada (GOHB), onde o foco principal dos estudos, trabalhos e pesquisas desenvolvidas é voltado para a área de otimização nas seguintes ênfases: Sistemas Elétricos de Potência ( geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia) , Sistemas de Energia, Robótica e Eficiência Energética.

Por quais motivos o senhor decidiu seguir a carreira acadêmica, não optando pelo mercado de trabalho?
Eu entrei na Universidade no segundo semestre de 1995 e formei no primeiro semestre de 2001. Na época que formei estava tendo bastante concursos, cheguei a prestar alguns, mas a minha ideia principal, quando formei, não era o mestrado, era o mercado de trabalho. Mas dentro do intervalo do resultado dos concursos e da pós-graduação, tive um problema de saúde na família, então optei em permanecer em Juiz de Fora, escolhendo seguir a área acadêmica, no caso o mestrado. Dessa forma ao terminar o mestrado, eu parti direto para o doutorado na COPPE/UFRJ pensando em seguir a carreira acadêmica.
Acho importante ao longo de nossas trajetórias mantermos o maior número possível de “portas abertas”. Por exemplo, eu terminei mestrado e doutorado com 30 anos. Nesta idade, se você quiser seguir sua carreira no mercado de trabalho ainda é possível. Às vezes temos a ideia de formar e trabalhar, porém se você não faz um mestrado e doutorado, por exemplo, você “fecha a porta” para atuar como docente nas instituições federais de ensino superior.

 
Quais as Dificuldades que o professor do Ensino superior enfrenta no início de sua carreira?
Comecei no mestrado em 200 e terminei em 2003. Logo em seguida, fui fazer o doutorado na COPPE (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia), com co-orientação de um professor da Universidade de Juiz de Fora, que terminou em 2008.
Assim que terminei o doutorado estava começando o REUNE (Reestruturação e Expansão das Universidades Federais). Nesta época o governo federal incentivou a construção de novas universidades federais, reformas nas universidades existentes e a contratação de professores.
Então em meados de 2008, prestei concurso para a UFABC (Universidade Federal do ABC) e fui aprovado. Assumi o cargo de docente em 2009 como professor permanente na UFABC. Entretanto, fiquei apenas 9 meses, pois em meados de 2009, abriu concurso para docente no departamento de energia na UFJF. Prestei o concurso e fui novamente aprovado. Sendo meus familiares e esposa naturais de Juiz de Fora, decidi retornar.
Uma dificuldade para quem começa a carreira acadêmica e entender como a universidade funciona e a questão da infraestrutura de trabalho .Por exemplo, quando fui para a UFABC, foram tantos professores contratados que não tinha sala suficiente, alguns professores trabalhavam em corredores. Até aqui vemos isso, alguns professores dividem gabinetes, o ideal seria um gabinete para cada docente. Outro ponto é o próprio ensino, preparar uma aula, saber qual material utilizar, isso requer tempo, sem falar que não somos formados para lecionar. Então, fazendo uma auto análise, se comparar minhas aulas de 2009 com as atuais, com certeza eu adquiri experiência e me aperfeiçoei.

 
Qual a Importância da Pesquisa Científica para os estudantes, professores e Universidade?
A Iniciação Científica (IC) é importante, pois o aluno tem a oportunidade de ficar mais perto de assuntos/problemas atuais que os professores estão pesquisando e desenvolvendo.
Outro ponto, é a oportunidade de desenvolver um trabalho e apresentá-lo fora da Universidade. Atualmente eu tenho 7 alunos de IC que a partir do trabalho que eles desenvolveram, puderam colher os resultados. Alguns alunos submeteram seus trabalhos a congressos e foram aceitos para exposição de pôster ou apresentação oral. Isso é importante para o aluno. O estudante não deve apenas fazer prova, ele tem que ir sempre além, para isso deve estar inserido no meio da pesquisa e observar o que as outras universidades estão pesquisando e fazendo. Para nós, professores, é fundamental fazermos iniciações científicas e nunca esquecer os alunos de graduação, temos que equilibrar a pesquisa tanto na graduação quanto na pós-graduação. Afinal, o aluno do IC de hoje será o aluno de pós- graduação de amanhã. A pesquisa é importante na formação de engenheiros mais capacitados e consequentemente quem ganha é a comunidade.

 
⦁ Atualmente, o que você desenvolve na área de pesquisa?
Hoje, na UFJF, sou um dos coordenadores do Grupo de Otimização Heurística e Bioinspirada (GOHB), onde o foco principal dos estudos, trabalhos e pesquisas desenvolvidas é voltado para a área de otimização nas seguintes ênfases: Sistemas Elétricos de Potência ( geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia) , Sistemas de Energia, Robótica e Eficiência Energética.
Eu sempre, desde a graduação, atuei na área de otimização voltado a sistemas elétricos de potência. Foi só no final do meu doutorado em 2008, que eu comecei a me interessar e estudar os métodos de otimização Bioinspirados. Então em 2011, foi credenciado pelo CNPq nosso grupo de pesquisa (GOHB -Grupo de Otimização Heurística Bioinspirada). Nesta época, convidei o professor Leonardo Willer de Oliveira para ser líder junto comigo deste grupo de pesquisa.
O GOHB é formado por 6 professores, 5 da UFJF e 1 da UFSJ (Universidade Federal de São João Del-Rei). Atualmente, temos 17 alunos de pós-graduação e 12 alunos da graduação, além de uma parceria com o Instituto Nacional de Energia Elétrica, o INERGE.
Nosso grupo vem crescendo, de acordo com a matéria da revista de jornalismo científico e cultural da UFJF, Revista A3, somos o maior grupo de otimização Bioinspirada de Minas Gerais, tendo mais de 50 artigos publicados e mais de 30 orientações. Por isso fico muito feliz em ter criado este grupo a sete anos atrás e ele se mostrar tão produtivo.

 
⦁ Poderia dar exemplos de tecnologias desenvolvidas pelo GOHB ou em parceria, que estão em uso no mercado?
Sobre produtos desenvolvidos, fico muito feliz, porque estávamos fazendo um trabalho para o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
O planejamento da operação de usinas hidroelétricas é dependente das previsões de vazão dos rios, as quais são realizadas a partir de modelos matemáticos. Desta forma, diferenças significativas entre os valores previstos e os observados podem ser evidenciados. O aumento da precisão das previsões é extremamente importante, pois auxilia as estratégias de geração. Diante disso, desenvolvemos um modelo computacional bioinspirado no fenômeno da eco-localização de morcegos. Os testes realizados pelo ONS foram bem-sucedidos. Ou seja, foi possível melhorar a previsão. A perspectiva é de que em 2018 todas as empresas do setor elétrico, que necessitem da análise de previsão de vazão utilizem o software desenvolvido aqui na UFJF/GOHB em parceria com o ONS. Isso é muito gratificante!
Temos outros projetos com bons resultados que utiliza a bioinspiração. Temos o livro “Expansão de sistemas de transmissão de energia elétrica via PSO”, oriundo de uma tese de mestrado da aluna Isabela Miranda de Mendonça que orientei, que também é participante do GOHB. Neste livro a Isabela é a autora e eu e o professor André Marcato somos colaboradores.
Os dois exemplos acima, retratam um pouco dos produtos que conseguimos gerar para a comunidade.

 

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