ENTREVISTA: CAMILA LIVIAN

ENTREVISTA: CAMILA LIVIAN

Camila Livian Ramos, 25 anos, é natural de Timóteo (MG) e é graduada em Engenharia Elétrica- Habilitação em Energia, pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Durante o ensino médio sabia que era da área de Exatas, mas não tinha certeza de qual engenharia seguir. Por influência do pai, que é eletricista da área de alta tensão da Aperam, optou por Engenharia Elétrica. Iniciou o curso na UFJF na habilitação de Sistemas Eletrônicos e no meio do curso pediu mobilidade para a habilitação de Energia, na qual se graduou.
Atualmente Camila mora em São Paulo e trabalha em uma empresa relacionada ao mercado livre de energia. Ela foi para a metrópole por uma oportunidade de estágio, posteriormente mudou de estágio, para a empresa que trabalha atualmente, e foi efetivada.

Como foi para você sair de uma cidade como Timóteo e vir para Juiz de Fora para cursar uma graduação na UFJF? A Camila de hoje em dia sente que valeu a pena a mudança?

Eu tive a oportunidade de estudar em uma escola no meu ensino médio que incentivava muito cursar algo nas Universidades Federais, tanto que realizei outros vestibulares seriados além do PISM, o de Viçosa e o de São João Del Rei. Cheguei a passar em todos, mas optei por Juiz de Fora por ser uma cidade maior, com uma infraestrutura maior. Imaginava que quando fosse chegar nos “finalmentes” do curso eu teria mais oportunidades em termos de estágio e visibilidade curricular. Mas naquele momento em que eu fui incentivada a sair da minha cidade natal não tive dúvidas de que era uma ótima escolha para o meu futuro e não me arrependo. Além do lado profissional e por ter contato com pessoas graduadas em outras universidades, outros professores muito renomados, acredito que cresci muito como pessoa. Sair de casa amplia muito o campo de visão do mundo, de como as coisas realmente funcionam, sem a proteção dos pais diariamente.

Quais eram as suas expectativas ao vir cursar Engenharia Elétrica aqui na UFJF? A realidade correspondeu ao esperado?

Bom, em termos de expectativas, quando eu vim para Juiz de Fora eu acreditava que teria que estudar muito, mas que seria mais fácil do que realmente foi. Por eu ser uma pessoa da área de exatas, ter facilidade na área, eu achava que seria o suficiente, mas não foi. Além disso, optar entre três aprovações e escolher Juiz de Fora, pensando que, por ser uma cidade maior, a probabilidade de eu conseguir um estágio era maior e iria se concluir, de uma certa forma não correspondeu à minha expectativa, pois não consegui um estágio em Juiz de Fora e acabei o realizando em São Paulo.
Em termos do curso, sim, correspondeu às minhas expectativas. Pelo fato de a Engenharia Elétrica da UFJF ser dividida em habilitações, eu consegui finalizar o curso em uma área que tenho muito mais interesse, que seria a de fontes renováveis, mercado livre de energia e eficiência energética. Isso agrega como um diferencial no meu currículo, em termos de entrevista, ao “ser vendido”, conseguimos realmente frisar e priorizar essa área que  escolhemos, por conta das habilitações. Acredito que os professores contribuíram muito para isso, a experiência que cada um ia passando ao longo das disciplinas, com informações do cotidiano de quando trabalharam, etc. Temos a oportunidade de absorver tais informações e usar elas a nosso favor. Por conta disso acredito que sim correspondeu às minhas expectativas.

Durante a sua graduação, você participou de alguma atividade extracurricular? O quanto e como isso foi importante para seu desenvolvimento além da sala de aula?

Durante a minha graduação eu participei do grupo de estudo de mercado de energia, que eu acredito ter sido essencial para a escolha da área que atuo hoje, por conta do estudo, das discussões e encontros semanais. Pensar que existe outro mundo que ainda está no início da sua exploração e muito para crescer. Acredito que essa atividade me ajudou bastante em um momento que não estava tão motivada com o curso. 

Também fui voluntária no laboratório LEENER (Ambiente de Sistemas Motrizes), experiência a qual me agregou muito por ter contato com pessoas diferentes ao mesmo tempo, que eram de outras áreas, de períodos diferentes com objetivos diferentes (pessoas estudando para concursos ou mestrados) dos meus. Ao final dessas experiências  eu tinha uma rede de apoio muito grande, tanto em dúvidas do dia a dia quanto em dúvidas profissionais (o que pensavam do mercado), tinha pessoas para dividir pensamentos e “trocar figurinhas”, o que foi de um apoio essencial para mim fora da sala de aula.

 Além disso, fora da UFJF, eu realizei o curso Futuros Engenheiros, do SENAI. Um curso que tem como objetivo aprimorar a área técnica dos futuros engenheiros. O curso foi muito bom, tanto para reconhecimento pessoal – eu Camila reconhecer as minhas habilidades profissionais e aprimorar minha parte técnica – quanto para aprimorar a parte comportamental. Tínhamos uma matéria que era voltada para análise de currículo, comportamento dentro de uma empresa, à discussões do meio corporativo no geral. Acredito que isso agregou bastante para mim, era uma atividade fora da UFJF, mas que o intuito se cumpriu muito bem. Realmente abriu meu campo de visão em termos de engenharia, em termos que achamos que vamos formar em engenharia e só trabalhar com isso, mas que na realidade não é bem assim, tem várias áreas de atuação, vários pontos que você pode querer atuar mais ou menos dentro de uma empresa, outras formas de se atuar como um engenheiro. Isso foi deixado bem claro no curso do SENAI e foi essencial para mim.

 Também fui monitora de Circuitos Lineares 2, que teve suas vantagens, nos aspectos da didática, de estudar novamente algo que você acreditava já ter domínio, o conhecimento, mas que na realidade não é bem assim. Temos que atualizar nossos conhecimentos sempre. Achei a monitoria muito válida para isso, treinar a didática de esclarecimento de dúvidas e para rever aquele conteúdo.

Quais os maiores desafios enfrentados ao longo do curso?

Além da dificuldade do dia a dia, de estudar e absorver as matérias, eu diria que o meu maior desafio foi pessoal. Eu tive muitas crises de ansiedade ao longo do curso e isso acabou me prejudicando um pouco no meu desenvolvimento. Mas no final das contas recuperei todo o controle e só serviu para me fortalecer, me conhecer melhor, quem é realmente a Camila e suas limitações. Por mais difícil que tenha sido esse percalço nesse caminho, consegui contornar e dar a volta por cima, procurando ajuda, tendo ajuda. Agradeço muito aos amigos e professores que tiveram paciência comigo nesse momento, mas que no final deu tudo certo.

Você conseguiu um estágio em São Paulo, ainda na graduação, certo? Como foi esse processo para a vaga de estágio, ficou sabendo por indicação ou já estava procurando por algo parecido e viu a oportunidade?

Sim! A vaga do estágio que me fez vir para São Paulo foi divulgada pelo coordenador, ele recebeu o e-mail de oportunidade de estágio e repassou para os alunos. Eu me interessei, mandei e-mail para a empresa, me apresentei e fui chamada para a entrevista e passei no processo seletivo.

Durante o seu estágio, ainda faltavam matérias para serem concluídas. Conte um pouco sobre o processo de cursar tais matérias em outras universidades mas referentes à sua graduação na UFJF e como foi essa experiência, tanto positivamente quanto negativamente.

Quando eu me mudei para São Paulo ainda me faltavam algumas matérias para que eu concluísse o curso. Como na UFJF as aulas eram presenciais, eu não conseguiria realizar essas matérias a distância. Sendo assim, aqui em São Paulo eu encontrei duas faculdades, no caso fiz matérias no Mackenzie e na USP, e solicitei equivalência em Juiz de Fora. Para fazer isso você precisa que tenha, se não me engano, 75% da ementa da disciplina equivalente, então precisei de encontrar uma matéria que tivesse uma ementa muito parecida com a ementa em Juiz de Fora para que fosse aceita. 

 Foi um desafio muito grande né, tanto por eu estar em uma cidade diferente quanto por não conhecer ninguém, ser uma “caloura” no último período. Mas eu acho que foi muito bom, para eu entender como outras instituições funcionam, como é a didática e o planejamento em termos de faculdade mesmo. Entender porque há diferenças entre o comportamento de umas pessoas em detrimento de outras, mudando basicamente o ambiente, a cidade, a história das pessoas e de onde elas vieram, muda muito. E isso para o meu lado pessoal eu acho que agregou muito.

Pontos negativos eu acredito que estar na cidade de São Paulo em si já é um grande desafio, mas realizar uma matéria noturna em uma cidade tão estigmatizada, como SP, eu acho que foi um desafio muito grande, chegar em casa quase meia-noite, devido ao deslocamento, metrô e esse tipo de coisa. Acredito que foi um desafio muito grande, até mesmo em uma matéria que realizei na USP, o horário dela era das 7:30 da manhã às 11 da manhã, um horário muito diferente do que tínhamos na UFJF, uma carga horária muito densa para ser realizada uma vez por semana. E eu tinha que acordar às 5 da manhã para sair de casa antes das 6 para conseguir chegar a tempo da aula, porque a USP é em um sentido totalmente diferente da minha casa. Além disso, a forma da cobrança, o formato que é realizada a disciplina, o estilo de prova, de artigo, de trabalho, formato de entrega de relatório. Com isso, ocorreram umas novas adaptações que foram um pouco diferentes do que eu estava acostumada. Mas no final acredito que até os pontos mais negativos foram positivos. 

 No momento que estamos cursando a matéria é estressante, pela carga de trabalho somada à carga de matéria e à todas as novidades, todas as atribulações que eu estava passando naquele momento. Agora já graduada, tudo certo, acredito que foi uma experiência muito boa, que contou muito para o meu lado pessoal além do profissional.

Atualmente você trabalha em uma empresa de Energia, como é trabalhar em uma metrópole como São Paulo e quanto do curso de graduação você realmente vê na prática? O curso te ajudou em quais aspectos, tanto nos seus estágios como no trabalho efetivado em SP?

Como eu escolhi atuar na área de mercado livre de energia, eu não lido diretamente com informações que a gente estudava na faculdade. Por exemplo, transformadores, motores, esse tipo de coisa. Eu fico em um lado mais administrativo, digamos assim. Mas mesmo assim, tenho que ter conhecimentos prévios, como termos de contrato com concessionária, termos de demanda, consumo de energia, fatura de energia (vejo bastante) e reativo. Essa parte é a que tenho contato diariamente e que é essencial para mim.
Em São Paulo, como eu falei, tudo é um desafio, até mesmo em termos de locomoção, que acho que é um dos fatores chave para a cidade. Acredito que o curso de engenharia  te ajuda a ser uma pessoa moldável. No sentido de que você consegue se adaptar, planejar e executar com muita facilidade. Eu consigo falar isso em termos de comparação, nós somos treinados a ter um raciocínio lógico, a seguir etapas. E isso em outros meios é muito valorizado, faz uma diferença muito grande, até mesmo dentro de uma organização, a gente conseguir pensar, atualizar, automatizar, buscar novas estruturas para realizar projetos. Isso de uma forma é muito valorizado por esse raciocínio muito maleável, somos moldados a pensar de formas diferentes, buscar alternativas, estamos a todo tempo tentando resolver problemas. Isso é o que mais ajuda no final das contas, que é o que foi treinado por trás das matérias, do Cálculo em si, da folha de exercício. É o que está por trás de todo o pensamento, de tudo que fomos moldados, o raciocínio que fomos criados, formas de pensar diferente como em Algoritmos. Acho que isso é de grande valia, assim, no dia a dia.

Muito obrigado pela entrevista Camila, estamos chegando ao fim, foi muito bom ter essa conversa com você. Para finalizar, gostaria que deixasse um recado para aquelas pessoas que ainda estão começando o curso de graduação e aqueles que buscam uma oportunidade de trabalho como a que você conseguiu.

Um conselho que posso deixar é para que as pessoas não tenham medo.

Nós somos muito pautados pelo medo, pelas inseguranças ao longo da vida. Sendo que no final das contas elas não nos ajudam. Eu falo no sentido de que às vezes temos uma ideia nova, queremos criar algo novo, mas estamos sempre com aquela insegurança de “ Ah será que vai dar certo? Será que não vai? Será que vou conseguir me dedicar? Será que vou ter tempo suficiente?” e se não começarmos, se não dermos um “start”, se não nos arriscarmos, as coisas não se movimentam por si só. Temos que estar sempre guiando, nos esforçando, correndo atrás dos nossos resultados.

Um outro conselho que posso deixar é tentar se informar em termos de estrutura. O que é realmente a base de cada empresa, em questão de RH (Recursos Humanos), questão de operacional. Porque nós sabemos, mas muito superficialmente, no dia a dia, em alguns casos, funciona de outra forma, algumas outras empresas tem outra estrutura. Tentar realmente estudar as empresas que temos interesse em trabalhar, que fazem sentido na nossa vida. Como é o corpo da empresa, como ela trabalha, as necessidades dela, questão de inovação, e trazer isso como um diferencial. Às vezes ficamos com medo, vendo só notícias negativas no mercado de trabalho, pensamos que vamos ser um desempregado né, que era o meu maior medo em termos de formar e nunca conseguir um emprego. Mas não, temos que correr atrás, se arriscar ir atrás do que acreditamos que vai nos fazer feliz.

Entrevista por Bernardo Capobiango de Andrade

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Esteban Aguilar