Pesquisadores da UFSC criam forma de obter energia solar em placas de cerâmica que decoram fachadas

Pesquisadores da UFSC criam forma de obter energia solar em placas de cerâmica que decoram fachadas

Uma fachada ventilada, por onde o ar circula e faz trocas térmicas, deixando a temperatura interna mais agradável. No teto, um sistema refletivo, que diminui a absorção do calor, e na parede, a maior novidade de todas: um revestimento cerâmico capaz de acumular os raios solares e transformá-los em energia elétrica.

Inédita no Brasil, a pesquisa realizada no campus Araranguá, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), quer criar uma alternativa para a utilização de energia fotovoltaica.

Em uma placa de cerâmica de 60cm x 120cm é adicionado um circuito elétrico no qual são aplicadas as células fotovoltaicas. Esse revestimento é instalado na fachada da casa ou do edifício e, conforme recebe raios solares, gera energia para abastecer o imóvel. O sistema é semelhante a placas ou telhas já existentes no mercado, porém tem o diferencial de ser utilizado também como parte do design. Na casa chamada de planta bioclimática, construída em Araranguá, diversas tecnologias são testadas para buscar eficiência energética.

– A planta piloto bioclimática foi projetada com uma série de estratégias como iluminação natural para reduzir o consumo de energia, paredes com isolamento térmico, dois tipos de telhado. Todas essas condições garantem menores trocas térmicas entre o ambiente externo e interno, e fazem com que as amplitudes de temperatura e umidade externa não se propaguem para o ambiente interno. Há condições mais constantes ao longo do dia — explica o professor do curso de Engenharia de Energia da UFSC, Giuliano Arns Rampinelli.

Ideia é vender o produto inovador

Todos os sistemas utilizados na “casa inteligente” são monitorados e os resultados comprovam a eficácia das estratégias bioclimáticas, explica Arns. No caso específico do revestimento fotovoltaico, a intenção é desenvolver um produto com eficiência termoelétrica que, no futuro, possa ir para o mercado.

Esse é o desejo da gerente da Eliane Tec, Karina Campos Pavei, braço de tecnologia e inovação da empresa de cerâmica parceira do estudo. Segundo os pesquisadores, o produto é promissor.

– Temos comparado dados dos protótipos com dispositivos e equipamentos já comerciais e encontramos números semelhantes. Se espera que com a implementação de uma linha de produção automatizada, o processo de produção dessa peça seja aperfeiçoado e que o protótipo se aproxime de um dispositivo comercial – explica Arns.

O projeto é uma parceria entre universidade, Instituto Maximiliano Gaidzinski (IMG) e Eliane Revestimentos. A pesquisa, que custou cerca de R$ 1,5 milhão e encerra em novembro, é financiada pelas empresas de geração de energia elétrica Baesa e Enercan. O trabalho desenvolvido até aqui tem a chancela da Agência Nacional de Energia Elétrica.

Foto: Guilherme Hahn / Especial

Eficiência energética traz benefícios ao meio ambiente

Por ser um dos poucos países do mundo que recebe mais de 3 mil horas por ano de raios solares, o Brasil tem um grande potencial para explorar a energia fotovoltaica. Estima-se que, com a implementação do sistema em peças cerâmicas, aliado ao elemento da fachada ventilada, a economia de energia possa chegar a 30%.

Para os pesquisadores, o desenvolvimento dessa tecnologia traz um novo modelo não somente para trabalhar a eficiência energética, mas para reduzir o consumo sem deixar de garantir o conforto térmico aos usuários. Gerar energia a partir de uma fonte renovável, com impactos ambientais reduzidos em comparação com tecnologias convencionais, é outro benefício, explica o professor do curso de Engenharia de Energia da UFSC, Giuliano Arns Rampinelli.

– Todo esse panorama exige uma mudança de cultura. Hoje, uma unidade consumidora deixa de ser somente consumidora, passa a ser geradora. As residências exigem um aperfeiçoamento e qualificação do próprio serviço prestado pela distribuidora. O excedente na casa que não é consumido de maneira instantânea é ejetado na rede elétrica, gera créditos para esse consumidor, que pode ser utilizado em outro momento, quando o consumo é maior do que a geração do sistema instalado – explica.

Fonte: Diário Catarinense

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