O Papel do ONS na Operação do Sistema Interligado Nacional (SIN)

O Papel do ONS na Operação do Sistema Interligado Nacional (SIN)

Introdução

Em um país continental como o Brasil, garantir que a energia elétrica chegue de forma contínua e equilibrada a milhões de consumidores é um desafio diário de proporções gigantescas. Por trás das luzes que iluminam cidades, indústrias e lares, está o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) — uma instituição essencial para a segurança e estabilidade energética do país.
Responsável por coordenar e controlar o Sistema Interligado Nacional (SIN), o ONS assegura que a energia gerada em diferentes regiões do Brasil seja distribuída com eficiência, confiabilidade e menor custo possível.

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Imagem 1 – Sede do ONS no Rio de Janeiro.

História e contexto no setor elétrico brasileiro

A criação do ONS, em 1998, marcou uma nova fase na história do setor elétrico brasileiro. Até então, entre 1950 e 1990, a operação do sistema era essencialmente estatal, com grandes empresas públicas como FURNAS(Centrais Elétricas S.A), ELETROSUL(Companhia de Geração e Transmissão de Energia Elétrica do Sul do Brasil), CHESF(companhia Hidro Elétrica do São Francisco) e ELETRONORTE(entrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. ) coordenando de forma regionalizada a geração e transmissão de energia.
Com o avanço da privatização entre 1990 e 2002, surgiu a necessidade de uma entidade independente e técnica capaz de integrar as operações e garantir imparcialidade entre agentes públicos e privados. Assim nasceu o ONS, uma associação civil sem fins lucrativos, de direito privado, porém regulada e fiscalizada pela ANEEL. Desde então, o Operador tornou-se o cérebro do sistema elétrico brasileiro, responsável por equilibrar uma das maiores e mais limpas matrizes energéticas do mundo.

Como funciona o Sistema Interligado Nacional (SIN)

O SIN abrange praticamente todo o território nacional, interligando usinas, linhas de transmissão e centros de consumo. Apenas 1% da demanda está fora desse sistema — em 172 localidades isoladas na Amazônia e outras regiões remotas.

As fronteiras de atuação do ONS são definidas por critérios técnicos:

  • Usinas com capacidade instalada ≥ 30 MW
  • Linhas de transmissão ≥ 230 kV

Com mais de 171 mil km de linhas de transmissão (2023) — número que deve ultrapassar 200 mil km até 2027 — o SIN é um dos maiores sistemas elétricos integrados do planeta. O ONS recebe a cada 4 segundos mais de 40 mil medidas via sistema SCADA e grava diariamente cerca de 10 milhões de dados, operando com disponibilidade superior a 99,98%. São mais de 58 mil intervenções anuais controladas em tempo real por meio dos centros regionais (COSR-N, NE, SE e S) e do Centro Nacional de Operação do Sistema (CNOS).

Imagem 2 – Painel de controle de geração e transmissão.

Enfoques específicos para a engenharia

Do ponto de vista da engenharia elétrica, o ONS é um exemplo de coordenação sistêmica complexa. Ele integra:

  • Controle de frequência e tensão;
  • Coordenação de reservatórios hidrelétricos;
  • Despacho de geração com base em modelos matemáticos e simulações de custo-benefício;
  • Controle de carregamento de linhas e intercâmbio de energia entre regiões.

A operação é feita com base em modelos hidrotérmicos, que consideram tanto a disponibilidade hídrica quanto o custo de geração térmica. Em termos práticos, trata-se de uma otimização em larga escala, balanceando variáveis físicas, econômicas e ambientais em tempo real. O sistema ainda conta com tecnologias avançadas como o CC-PMS (Central de Controle de Perturbações e Monitoramento do Sistema), que detecta oscilações, descargas atmosféricas, incêndios e até colapsos em linhas de transmissão, atuando preventivamente.

Crises e desafios da operação

Os desafios enfrentados pelo ONS são múltiplos e crescentes. O Brasil deixou de construir grandes reservatórios hidrelétricos, o que reduziu a capacidade de regularização multianual — tornando o sistema mais vulnerável à variabilidade hidrológica. Hoje, as decisões de “usar ou guardar água” nos reservatórios envolvem dilemas complexos: gerar mais energia agora ou economizar recursos hídricos para o futuro.

Além disso, a operação deve lidar com:

  • Sazonalidade das fontes eólicas e solares, que variam conforme o clima;
  • Queimadas e desastres ecológicos que ameaçam linhas de transmissão;
  • Eventos climáticos extremos, cada vez mais frequentes;
  • Crescimento da demanda em torno de 3% ao ano;
  • Integração com países vizinhos, como Paraguai, Argentina e Uruguai, através de interconexões que somam mais de 10 GW de potência.

Esses fatores exigem do ONS um planejamento refinado e resposta rápida a qualquer distúrbio, garantindo que o sistema continue operando de forma estável mesmo sob condições adversas.

Conclusão

O Operador Nacional do Sistema Elétrico é, sem dúvida, um dos pilares da infraestrutura brasileira. Ao equilibrar geração, transmissão e consumo em um território de dimensões continentais, o ONS garante não apenas a continuidade do fornecimento de energia, mas também o funcionamento da economia e o bem-estar social.
Sua atuação combina engenharia de ponta, inovação tecnológica e responsabilidade estratégica, assegurando que o Brasil continue entre os países com uma das matrizes energéticas mais limpas e complexas do mundo.

Mais do que um operador técnico, o ONS é o guardião invisível da energia que move o país — do farol de um carro em movimento à turbina de uma grande indústria.

Imagem 3 – Visita do PET Elétrica à ONS em 2025.

Referências:

https://www.ons.org.br/paginas/sobre-o-sin/o-sistema-em-numeros

https://www.epe.gov.br/pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes

https://www.aneel.gov.br/.

https://ourworldindata.org

Maria Paula Martins