O futuro do Sistema Elétrico de Potência

O futuro do Sistema Elétrico de Potência

O Sistema Interligado Nacional possui dimensões continentais e tinha uma matriz energética de característica hidrotérmica até 2010, época que a geração Eólica ganhou força no território brasileiro, fornecendo, hoje, cerca de 9,3% de toda a energia elétrica consumida no Brasil, e ainda está em crescimento. Além disso, atualmente, a energia solar é responsável por 1,8% da demanda brasileira, fonte de energia que por sua vez era insignificante há 10 anos atrás e que hoje está em pleno crescimento.

A perspectiva de aumento dessas fontes renováveis está relacionada diretamente com a inserção dos Recursos Energéticos Distribuídos (RED) na matriz energética brasileira. Essa por sua vez, busca diversificar os tipos de fontes geradoras devido a redução da capacidade de regularização dos reservatórios (falta de chuvas, por exemplo) e o consequente despacho quase contínuo das termelétricas na última década.

Os REDs têm aumentado devido à redução nos custos de investimentos, parcerias público-privado, maior propagação das tecnologias de telecomunicação e controle. Além disso, a crescente do REDs se deve as vantagens que esses podem trazer para o sistema, como: aumentar a confiabilidade do Sistema Elétrico de Potência (SEP), obter uma matriz energética mais limpa e descentralizada e tornar o sistema menos dependente dos preços dos combustíveis fósseis e da sazonalidade das chuvas, além de permitir a maior participação do consumidor tanto na geração, quanto na gestão do consumo da sua própria energia.

Mas o que são Recursos Energéticos Distribuídos, os REDs?

Os Recursos Energéticos Distribuídos (RED), ou no inglês Distributed Energy Resources (DER) são tecnologias de geração e/ou armazenamento de energia elétrica, localizados dentro dos limites da área de uma determinada concessionária de distribuição. Os REDs abrangem também:

  • Geração distribuída (GD) – solar, eólica, hídrica, biogás;
  • Armazenamento de energia – Baterias; 
  • Veículos elétricos (VE) e estrutura de recarga; 
  • Eficiência energética;
  • Resposta da demanda (RD).

Mas, como tudo, os REDs possuem prós e contras. Atualmente, ganham destaque os impactos técnicos que os REDs ocasionarão no Sistema Interligado Nacional (SIN). Por exemplo, com a necessidade de novos pontos de geração e consumo, fontes principalmente intermitentes, como geradores eólicos e fotovoltaicos estão sendo instalados numa taxa que poderá provocar mudanças severas na operação e na dinâmica dos sistemas elétricos.

O recente crescimento, associado à característica dos REDs, indica que haverá uma transformação profunda nos sistemas elétricos, que hoje são predominantemente operados com recursos de maior porte e gerenciados de forma centralizada. Neste contexto, a transição de um modelo centralizado para um modelo mais distribuído deve alterar os fluxos de energia e aumentar significativamente a complexidade dos sistemas elétricos, demandando novas práticas de planejamento da expansão e operação das redes. A figura principal exemplifica o modelo atual e futuro do SIN.

Diante de um cenário futuro, no qual os REDs ganham uma participação de destaque, alguns dos impactos decorrentes de sua elevada penetração aos sistemas de distribuição são:

  •  Possibilidade de inversão de fluxos de Potência nos pontos de conexão de sistemas de distribuição, cuja capacidade de geração excede sua demanda local;
  • Sobretensões mais frequentes, devido a elevada injeção de potência, por exemplo; 
  • Desequilíbrio entre carga e geração, dada à maior intermitência das fontes;
  • Impacto na controlabilidade dos sistemas de grande porte, refletidos na sua estabilidade;

No entanto, ao mesmo tempo que os RED impõem desafios, pode haver diversos benefícios, além dos que já foram citados, associados à sua integração ao sistema, como:

  • Ao considerar a proximidade entre geração e consumo, os REDs podem propiciar a redução de perdas elétricas.
  • Estudos indicam que os REDs instalados em locais ideais e operados no momento certo, podem oferecer confiabilidade suficiente para os operadores do sistema.
  • Redução do custo sistêmico de atendimento à demanda, fazendo possíveis usinas de custo elevado não serem acionadas.
  • Substituindo ou postergando investimentos convencionais em infraestrutura.

Assim, a inserção dos REDs implica em profundas mudanças no setor elétrico. De maneira geral algumas são citadas abaixo:

  • Correção das consequências técnicas da crescente inserção de REDs
  • Adaptações necessárias ao planejamento de expansão;
  • Adaptações dos modelos de mercado econômico e socioeconômico;
  • Adaptações das normas regulamentadoras atualmente vigentes;

Como pode ser visto, existem vantagens e desvantagens sobre a inserção dos REDs no sistema brasileiro, porém não há indícios de retração de sua aplicação no Brasil, mesmo com o sistema brasileiro sendo um dos mais complexos do mundo. Isso, se deve ao fato do Brasil possuir dimensões continentais, com regiões propícias para as diversas fontes renováveis, e, claro, possuir demanda e potencial de crescimento para aplicação dos REDs. Além da questão “Brasil”, os objetivos ambientais e consequências socioeconômicas dos REDs são fatores que impulsionam o seu desenvolvimento. 

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Escrito por: Thiago Barros

Camilla Schettino