Novo Recorde na Fusão Nuclear

Novo Recorde na Fusão Nuclear

China bate recorde com EAST mais uma vez

A equipe de pesquisadores do Instituto Hefei de Ciências Físicas da Academia Chinesa de Ciências, em Pequim, anunciou que o “sol artificial chinês” ou “segundo sol chinês”, composto pelo reator de fusão nuclear EAST (Tokamak Supercondutor Avançado Experimental) bateu o recorde de tempo de operação, chegando a uma temperatura muito maior que a do núcleo do sol por 1056 segundos (pouco mais de 17 minutos). 

Fusão nuclear x Fissão nuclear

Representação de um Tokamak

O reator de fusão EAST foi capaz de replicar, de forma parcial, o processo de fusão nuclear natural do Sol. E quebrar o recorde atual (que era dele mesmo). Veja bem, o reator realiza fusão nuclear, não fissão nuclear, que é outro tipo de processo de geração de energia, realizado em usinas nucleares.

A palavra fissão significa uma quebra ou divisão. Assim, a fissão nuclear corresponde à partição de um núcleo atômico pesado e instável, originando dois núcleos atômicos médios.

Já o experimento em questão tem uma premissa bastante simples: imitar as reações no interior das estrelas, que usam da fusão para produzir luz e calor. Por fusão, entende uma vibração de átomos tão intensa que faz com que seus núcleos se fundam. No Sol, isso é feito com hidrogênio, que dá origem ao hélio, que é mais leve que seus átomos progenitores. A diferença de massa vira energia térmica, liberada pela estrela no espaço.

Esse processo vem sendo estudado por cientistas há décadas, que anseiam em replicá-lo em estruturas conhecidas como “Tokamak”. No caso do experimento chinês, ao invés de hidrogênio, os cientistas apostaram em átomos de trítio e deutério, aquecendo-os a temperaturas extremas até atingirem seus pontos de fusão.

O que é um Tokamak

Interior de um Tokamak

Tokamak é o nome dado a uma máquina experimental projetada para aproveitar a energia fornecida pela reação de fusão nuclear. Dentro dela, a energia produzida é absorvida em forma de calor pelas paredes do recipiente. Da mesma forma que uma usina convencional, uma usina de fusão nuclear usa isso para produzir vapor e eletricidade por meio de turbinas e geradores. 

O reator chinês tem uma câmara de vácuo em formato de rosquinha. Nela, o hidrogênio é aquecido a cerca de 100 milhões de graus Celsius, tornando-se um plasma. Usa-se um campo magnético para confinar o plasma, assim a fusão ocorre e ele não derrete o EAST.

No Reino Unido, desenvolveu-se um tipo diferente de Tokamak. Chamado de Tokamak esférico. Esta engenharia tem a vantagem de ser mais compacta, possibilitando que usinas futuras sejam localizadas em regiões urbanas.

Tanto em uma estrela quanto em um dispositivo de fusão, o plasma fornece o cenário no qual elementos leves podem se fundir e produzir energia. As partículas carregadas do plasma podem ser moldadas e controladas pelas bobinas magnéticas colocadas ao redor do vaso. 

Para iniciar o processo, o ar e as impurezas são retirados da câmara de vácuo. Logo, os sistemas magnéticos que ajudarão a confinar e controlar o plasma são carregados e o hidrogênio é introduzido. A medida que uma corrente elétrica passa, o gás se decompõe eletricamente, tornando-se ionizado (os elétrons são retirados dos núcleos) e forma um plasma.

Enquanto as partículas de plasma vão ficando energizadas e colidem, elas também começam a aquecer. Partículas “energizadas” desta forma podem superar sua repulsão eletromagnética natural na colisão para se fundir, liberando enormes quantidades de energia.

Criado por pesquisadores soviéticos no final dos anos 1960, o Tokamak foi adotado em todo o mundo como a configuração mais promissora de dispositivo de fusão nuclear.

To the Moon!!! A busca pelo elemento ideal!

A recente anunciada missão de exploração da China ao lado escuro da Lua também pode ter haver com a fusão nuclear, além da comercialização de recursos da lua como gelo e metais preciosos. Há também a busca por grandes reservas de um gás raro no planeta Terra, o hélio-3, que hoje é dito como um dos melhores elementos para a fusão nuclear. A eletricidade produzida em usinas à hélio-3 é tão boa, que representaria uma solução para possíveis crises de energia.

O elemento é, basicamente, uma forma isotópica não radioativa do gás hélio com dois prótons e um nêutron em seu núcleo atômico. Sendo essa, a grande vantagem da fusão nuclear usando hélio-3 (deutério-hélio-3), uma reação aneutrônica, sem geração de nêutrons, mas de prótons (partículas eletricamente carregadas que podem ser controladas por campos eletrostáticos). A substância é rara na Terra e acredita-se que exista em abundância em camadas da Lua e nos planetas gasosos gigantes do Sistema Solar. 

Esse hélio chega à Lua por ventos solares, que nada mais são do que partículas emitidas pelo Sol. Ele é escasso na Terra, isso porque estes ventos são bloqueados pelo nosso campo magnético, e na atmosfera ele é produzido em pequenas quantidades (bombardeio de raios cósmicos em átomos de hélio-4). Mas na lua, onde o hélio-3 vindo de ventos solares consegue se fixar, poucos lotes de terra podem conter volume suficiente para abastecer uma usina de fusão 1000-MegaWatt durante um ano.

Expectativas

Tecnicamente, a energia da fusão nuclear é muito limpa, não produzindo gás carbônico, não gerando lixo tóxico e não possuindo riscos de explosão. Mas até agora a tecnologia para obter energia desta forma, os Tokamaks, ainda precisam ser trabalhados.

Atingir o número que atingiu, apesar do recorde, ao longo prazo é um objetivo relativamente fácil. O maior problema é que, para uma estrutura produzir energia com base na fusão de forma contínua, elas devem ser autossustentáveis. Ou seja, a energia gasta deve ser menor do que a produzida, para que o processo se mantenha sozinho, sem interrupção, e o que sobrar seja aproveitado. Isso acontece no Sol, mas imitar esse processo na Terra é bem mais difícil.

Apesar das dificuldades, os cientistas anunciaram que, aos poucos, estão chegando neste objetivo. Os pesquisadores afirmam que continuarão testando novos elementos e átomos para reações diferenciadas, no intuito de superar o tempo de manutenção sustentável da fusão.

A ideia deles é, com este Sol Artificial, alcançar a fusão nuclear. Dominar esse tipo de geração de energia pode ser a chave para a humanidade dar um largo passo para o futuro.

Gostou do conteúdo? Não se esqueça de compartilhar com os amigos!

FONTES:

China atinge temperatura de 120 Graus por mais de 15 minutos

Sol artificial chinês bate recorde com 120 milhões de Graus

Sol artificial da china quebra recorde

Chinese “artificial sun” sets new world record

Tokamak: tecnologia de fusão nuclear é capaz de criar um “Sol” artificial

China pode buscar combustível na lua

Fusão nuclear: Entenda porque ela pode salvar o planeta

Luís Eduardo Brandão Canan