Mais barata e eficiente, energia fotovoltaica entra de vez nos planos de grandes e pequenos consumidores
Encarada durante anos como geração complementar e oportunidade de marketing verde, a energia solar já está no centro do plano de negócios de grandes fornecedoras e distribuidoras de energia. E não só de usinas vive o setor. Acionados por financiamentos com juros até um décimo dos de mercado, o azul neon dos paineis fotovoltaicos também se espalha pelos telhados das casas brasileiras, incrementando a participação da micro-geração no setor, hoje 17% do total. Os movimentos dos grandes e pequenos produtores dessa fonte de energia fizeram a capacidade instalada do setor crescer 33% só nos primeiros cinco meses de 2018, alcançando 1,571 GW em maio. Até o final do ano, a Associação Brasileira de Energia Solar (ABSOLAR) prevê que o setor alcance os 2,4 GW, aumento anual de 103%. As usinas nucleares Angra I e II têm capacidade instalada de 2 GW.
Embora encham os olhos, essas taxas de crescimento se devem à pequena base de comparação. Em número absolutos, a energia solar ainda engatinha e representa 0,75% da matriz energética do Brasil. De acordo com estimativas conservadoras, porém, essa participação deve chegar a 10% em 2030.
O biênio 2017-2018 tem sido fundamental porque marca o início das operações de projetos vencedores nos três leilões de energia de 2014, que contemplaram o setor. Ainda houve uma licitação no fim de 2017 e agora, em abril, o que levou o total de energia contratada para 4,5 GW. Isso garantirá o bom ritmo de crescimento do setor.
No último leilão, os projetos solares responderam por quase 80% da energia negociada e saíram a preços supercompetitivos na faixa de R$ 118 por megawatt-hora, R$ 25 a menos do que os preços da rodada de cinco meses antes. Há quatro anos, o preço médio negociado foi de R$ 215,12/MWh. A baixa dos custos, que permite ao setor competir até com as hidrelétricas, denota o barateamento e o ganho de eficiência da tecnologia. Essa competitividade acendeu a luz de alerta no mercado.
Gigantes, como a estatal italiana Enel e até petroleiras como a norueguesa Equinor (ex-Statoil) e a francesa Total Eren não param de fazer investimentos em fontes alternativas de energia, que inclui a eólica.
Há cinco dias, o Cade permitiu que os franceses comprassem os parques solares Dracena I, Dracena II e Dracena IV, em São Paulo, da espanhola Cobra. Com a incorporação das usinas, ainda em construção, a empresa chegará a uma produção solar de 150 MW. Hoje opera 40 MW.
Líder na geração de energia renovável no país, a Enel produz, sozinha, 819 MW em solar. Já os noruegueses, que mudaram de nome só para se desassociarem dos combustíveis fósseis, compraram 40% de participação (0,16 GW) da Scatec Solar na usina de energia solar Apodi, no Ceará. O investimento foi só o início. A estatal nórdica deve participar da operação e se prepara para novos projetos solares no Brasil.
Brasil x mundo
O Brasil está no rol dos 30 países com mais de 1 GW de capacidade fotovoltaica. Foi o 10º que mais instalou em 2017 (0,9 GW). A produção representa cerca de 3% de toda a energia solar do mundo, bem atrás de Turquia e Índia, a terceira potência solar do mundo, que dobrou a produção no ano passado, chegando a 18,3 GW. Os turcos triplicaram seu parque solar subitamente, com o incremento de 2,6 GW em um único ano. Até janeiro, a China, líder em energia solar, tinha 131 GW instalados, seguida dos Estados Unidos, com 51 GW.
Juro atraente para painéis residenciais
O Brasil tem, hoje, mais de 30 mil sistemas de geração fotovoltaicos instalados em lajes e telhados. Mais de 77,2% estão em residências que enviam energia para o sistema e obtêm descontos na conta de luz. Mas, quanto custa esta instalação?
Ficou mais fácil estimar com a Calculadora Fotovoltaica, um projeto desenvolvido pela ONG WWF em parceria com o Banco do Brasil, que oferece crédito para a instalação com juros de 0,25% ao mês. O analista de conservação daWWF Ricardo Fujii explica que há calculadoras, criadas pelos próprios revendedores de painéis, com parâmetros muito otimistas. O ganho seria maior se os impostos fossem menores na energia.
Um casal com dois filhos pequenos consome, em média, 350 KW por mês, a R$ 0,65/KW. Fujii ensina que um sistema fotovoltaico ideal deve gerar 85% do consumo familiar, porque o custo de acesso à rede elétrica (15%) é fixo. Levando em conta essas premissas e a incidência solar do Rio de Janeiro, basta um telhado de 12,8 m², com oito placas ao custo de R$ 15.921,20. No financiamento de cinco anos, o valor final vai a R$ 17.303,46, pela tabela price. A primeira parcela seria de R$ 307,45 e a última de R$ 268,69. Em oito anos o investimento se paga, com economia de R$ 2.000 já no primeiro ano. Fora que evita o lançamento de emissões equivalentes a 478 mil kms rodados por um carro. Que exigiria 273 árvores para absorver o gás carbônico. Os filhos e netos vão agradecer.
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Fonte: Sol Central