Fontes alternativas podem ser mais que complementares
O risco do país passar por um racionamento de energia, por conta do baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas, já é admitido até pelo governo. Diante dessa situação de insegurança, um questionamento se mostra inevitável: por que o Brasil não dispõe de outras fontes também renováveis que pudessem suprir as necessidades dos consumidores num momento de escassez de água? Especialistas acreditam que o motivo principal pela falta de diversificação da matriz energética foi o fato do planejamento do setor ter subestimado o potencial da luz solar e da força dos ventos. Esses tipos de geração foram considerados caros no passado, mas, como em toda nova tecnologia, a redução de preço é questão de tempo. Sua viabilidade econômica vem sendo cada vez mais comprovada com a queda no custo de produção e dos equipamentos. A relutância em lidar com uma geração mais distribuída, de acordo com estudiosos, foi outro fator que levou os operadores do sistema a desprezarem essas alternativas.
Diversos países já compreenderam que a energia eólica pode ser de fato uma fonte robusta para suprir sua demanda. É o caso da Espanha, por exemplo, que retira dos ventos mais de 20% da energia que consome e sua geração por hélices não para de bater recordes. A Alemanha também é uma referência em termos de uso de recursos renováveis. A maior potência industrial europeia já supre em torno de 9% de suas necessidades energéticas com as usinas eólicas e vem investindo fortemente também na geração através da luz do sol. A energia solar atende entre 5% a 6% do consumo germânico. Mesmo com atraso em relação a esses países, o Brasil tende a mudar seu quadro nos próximos anos.
Amaro Pereria, pesquisador do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ, salienta que a intermitência dos ventos foi outra alegação usada no passado para se menosprezar esse recurso. Na balança, não foi levado em consideração o fato das chuvas também não serem constantes. Mesmo para as termelétricas, é preciso considerar as paradas necessárias para manutenção, além de se levar em conta o impacto ambiental elevado. Segundo ele, há maior predominância de ventos nos períodos secos, o que fortalece a necessidade de expansão da energia eólica para compensar as limitações das hidrelétricas. “A crise hidrológica pode se tornar persistente. Temos que nos planejar para o futuro”, afirma Pereira.
O Poder Público dá mesmo sinais de que não está surdo em relação às críticas. O próprio ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, garantiu no dia 4 de março na Câmara dos Deputados que painéis fotovoltaicos ganharão isenção de PIS e Confins ainda este ano. Novas regras de cobrança de ICMS sobre a energia solar devem ser adotadas pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz). A pedido do governo federal, o órgão estuda mudar a base de cálculo do imposto, que passaria a incidir somente sobre a diferença entre a energia fornecida pelo sistema e a devolvida a partir da geração local, reduzindo a conta do consumidor. Caso as medidas venham a ser postas em vigor realmente, podem impulsionar não só a microgeração como as usinas de painéis solares.
Fonte: Ambiente Energia