De Clube da Luta a Kevinho: uma leitura bombástica
Se você já assistiu Clube da Luta (pode continuar, não tem spoiler!), deve saber que uma variedade de coisas do nosso dia a dia podem servir como base para explosivos, como gordura animal. Se não assistiu, talvez já tenha sentido curiosidade para saber um pouco mais sobre esses fenômenos, que infelizmente estão presentes em muitas das nossas manchetes.
O começo dessa história se dá com a descoberta acidental da pólvora pelos Chineses. Inicialmente utilizada para fogos de artifício, com o passar do tempo a sua expansão e aplicação infelizmente seguiu o rumo bélico. A hegemonia da pólvora como a base empregada para acionar canhões, bombas ou pistolas durou até 1846, com a descoberta da nitroglicerina, que é obtida através da reação da gordura animal com os ácidos nítrico e sulfúrico.
Mas afinal, o que é uma explosão? Talvez o nosso poeta contemporâneo Kevinho tenha distorcido um pouco o sentido dessa palavra, mas os detalhes que são comuns à qualquer definição são: súbita expansão de volume, grande liberação de energia, altas temperaturas e o surgimento de ondas de pressão.
As explosões podem ser classificadas de acordo com a intensidade dessas ondas, como veremos a seguir.
Ondas Subsônicas
Também chamadas de deflagrações, é a propagação da combustão subsônica (ou seja, em velocidades menores que a do som, mas ainda assim altas) através da condução de calor (o material de queima aquece a camada de material frio e a inflama). A maioria dos incêndios encontrados na vida cotidiana são deflagrações.
Devido às menores velocidades de onda envolvidas, são as mais apropriadas para aplicações em engenharia, como disparar um projétil ou mover um pistão num motor.
- Revólver: seu mecanismo é relativamente simples, com um sistema de molas e alavancas entrando em ação assim que o gatilho é puxado. Uma das alavancas tem uma função relativamente simples: girar o tambor, posicionando uma nova bala para ser disparada em seguida. Antes disso, uma segunda é responsável por fazer com que o martelo faça um movimento para trás e uma mola retorna o movimento, com velocidade mais elevada, de encontro ao tambor, fazendo com que a pólvora no interior da bala exploda, disparando-a.
Ondas Supersônicas
Também conhecidas como detonações, são um tipo de combustão que envolve uma frente exotérmica supersônica (chegando facilmente à ordem de quilômetros por segundo) acelerando através de um meio e provocando fortes ondas de choque. Como já dito, os pistões em motores de combustão interna são baseados em deflagrações, o que torna as detonações acidentais indesejadas. Uma dessas detonações é chamada de “bater biela” e pode causar a perda de sincronia do motor e sua eventual falha. Já um motor a diesel é acionado por meio de detonações e, por isso, seu projeto deve ser mais robusto.
Grandes Explosões
Químicas: Os explosivos artificiais mais comuns são explosivos químicos, que geralmente envolvem uma reação de oxidação rápida e violenta que produz grandes quantidades de gás quente. Explosões químicas (tanto intencionais como acidentais) são frequentemente iniciadas por uma faísca elétrica ou chama na presença de oxigênio. Possivelmente a mais notável dessas explosões é a da dinamite, inventada por Alfred Nobel em 1867
- Dinamite: é o explosivo mais utilizado até hoje para demolição e escavações de canais, estradas e túneis. A sua base é de nitroglicerina e amendoim (sim, você não leu errado) misturados com terra diatomácea ou outro material absorvente, como serragem ou argila. Essa mistura é mais segura que a pólvora e que a própria nitroglicerina em seu estado puro, que explode à menor fricção ou choque. As bananas, como são chamados os cilindros de papel parafina que contêm o explosivo, são disparadas por meio de um cordão com pólvora, compondo um sistema de espoleta, cordel e estopim.
- Explosões no porto de Beirute em 2020: diversos armazéns continham produtos químicos como nitratos, componentes comuns de fertilizantes e explosivos. Somente após quase duas semanas a causa da explosão foi constatada como sendo pelo nitrato de amônio confiscado do navio moldavo MV Rhosus. Estavam armazenadas 2750 toneladas do produto, cuja explosão gerou uma potência equivalente a um terremoto de magnitude 3,3 Richter ou à explosão de cerca de mais de 1000 toneladas de TNT. A energia liberada foi suficiente para gerar uma onda de choque que destruiu a maioria das construções em um raio de 200 metros que estilhaçou vidros a até 10 km do epicentro.
Nucleares: Entre as maiores explosões conhecidas no universo estão as supernovas, que resultam do início ou da interrupção repentina da fusão nuclear em estrelas. As erupções solares também são um exemplo de explosão nuclear comum no Sol. Sua fonte de energia vem das linhas de campo magnético resultantes da rotação do plasma condutor do Sol. Além das estelares, explosões nucleares também podem ser causadas por bombas de fissão ou de uma combinação de fissão e fusão nuclear. Uma única arma dessas é facilmente capaz de destruir completamente uma cidade inteira. Fruto da Carta Einstein–Szilárd e eventualmente do Projeto Manhattan, elas moldaram o mundo desde 1945, quando foi usada contra o Japão.
- Tsar Bomba: é a bomba nuclear mais poderosa já detonada. Desenvolvida pela União Soviética, a bomba de 58 megatons (duas vezes mais potente que o segundo maior teste nuclear da história) foi testada em 1961, numa ilha no oceano Ártico. Seu projeto original teve uma redução de 50 megatons minimizar a escala de destruição. O funcionamento dessa bomba de hidrogênio envolve muito mais energia do que uma bomba atômica convencional: se para acioná-la são necessários explosivos, para acionar a bomba H, simplesmente é necessária uma bomba atômica com potencial equivalente à que foi lançada sobre Hiroshima.
O Dia em que Criamos um Segundo Sol na Terra: vídeo sobre a maior explosão que o nosso planeta infelizmente já sentiu.
Matéria por Esteban Aguilar
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