Brasil compra energia da Argentina para não faltar luz
Especialistas dizem que consumo maior é consequência dos estímulos dados pelo governo, que reduziu impostos e baixou tarifas nos últimos anos.
O Brasil comprou energia da Argentina para não faltar luz. É que o brasileiro está consumindo mais energia e não só agora por causa do calor. Nos últimos três anos, o padrão de consumo do brasileiro mudou.
O consumo de energia nos últimos três anos aumentou 10%. Segundo especialistas, o governo estimulou a compra de eletrodomésticos e baixou a tarifa de energia elétrica, mas esqueceu de aumentar a produção de energia.
Com esse calorão, cada um se vira como pode em busca de um momento de refresco. “Enquanto a gente está em casa o ventilador tem que tá ligado, em qualquer cômodo a gente vai migrando ele de um lado para outro mesmo”, conta o supervisor de seguros Júlio César Monteiro.
Trabalhar, então, tem sido um desafio. “É ligado todo tempo. Cheguei e já liguei. Porque não tem como trabalhar sem ar condicionado”, diz o professor José Francisco.
Os fabricantes e vendedores de ar condicionado não tem do que reclamar. Só no ano passado, os brasileiros compraram quase 4,5 milhões de aparelhos. Um crescimento de 15% em relação a 2013, segundo a Associação Nacional de Fabricantes de eletrodomésticos e eletroeletrônicos.
O uso do ar condicionado aumentou tanto que provocou uma mudança no padrão de consumo de energia do país. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico, antes o momento de maior consumo era por volta das 18h, 19h da noite, quando as pessoas chegavam do trabalho. De três anos para cá, passou a ser bem no meio da tarde, por volta de 15h.
E foi logo depois de um pico de consumo, na segunda-feira (19), que houve uma queda na frequência elétrica e um apagão, que deixou 11 estados e o Distrito Federal sem energia. No dia seguinte, o Brasil teve que importar energia da Argentina por causa de uma falha na transmissão da região Norte para o Sudeste e Centro-Oeste.
Problemas no setor acontecem em um momento em que o consumo vem crescendo. Dados da Empresa de Pesquisa Energética mostram um aumento de quase 10% nos últimos três anos.
Um consultor de energia diz que o consumo maior é consequência dos estímulos dados pelo governo federal, que reduziu impostos para a compra de eletrodomésticos em 2011 e depois, em 2013, baixou a tarifa de energia. “Houve um aumento da demanda a partir dessa medida, refletindo que se o preço está mais baixo, então há mais energia. Então realmente houve um aumento da demanda por energia”, explica o diretor executivo da Safira Energia, Mikio Kawai Junior.
Com a energia mais barata, Flavia Tavernard investiu na compra de alguns aparelhos para a casa. O ar condicionado foi um deles. Mas de novembro para cá, viu a conta passar de R$ 108 para R$ 168. Agora, o aparelho vai ficar menos tempo ligado. “A gente comprou, tá um equipamento instalado e não pode usar tanto, não pode usufruir tanto”, lamenta a servidora pública.
O consultor diz que o governo não poderia ter incentivado o consumo sem investir mais na oferta de energia. “Você dá uma oportunidade maior para que o consumidor compre mais eletrodomésticos, mas existe uma demanda maior por energia, só que você não tem essa energia na quantidade ideal ou ao preço ideal pra fornecê-la para atender esses eletrodomésticos”, explica Mikio Kawai Junior.
Fonte: G1