Aneel prevê salto do uso de energia solar de 500 para 700 mil imóveis
Agência diz que, até 2024, país pode atingir meta. Custo alto e retorno demorado são entraves
Sustentabilidade e independência foram as palavras-chave na cabeça do fotógrafo Roberto Scliar quando decidiu construir sua casa e seu escritório em Nova Petrópolis, na serra gaúcha. Ele decidiu que seguiria um caminho escolhido por poucos até agora no Brasil para não depender unicamente do serviço de concessionárias: faria parte dos proprietários de 500 imóveis no país que contam com sistemas de micro e minigeradores de energia ligados, como o fotovoltaico – quando a tensão ou corrente elétricas são criadas a partir de exposição à luz do sol –, conectados à rede.
Mesmo com o pequeno número de adeptos, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estima que o país terá 700 mil residências produzindo a energia que consomem até 2024. Quem se antecipou a essa possível guinada em direção ao sol comemora os resultados. Na casa de Scliar, o saldo da conta já começa a compensar o investimento. Em 2011, quando se mudou, ainda sem instalar o sistema, a conta de luz chegava a R$ 500. Dois anos depois, paga apenas as taxas básicas – R$ 15 – após a instalação das placas. Entretanto, precisou esperar quase meio ano para que a concessionária e a prefeitura aprovassem a ligação ao sistema elétrico.
– A burocracia é grande. Os técnicos não conheciam o funcionamento prático da captação da energia solar – comenta ele, o único cliente com esse tipo de estrutura instalada na cidade.
Não é todo imóvel que pode receber um sistema de energia solar. Conforme o engenheiro elétrico do Laboratório de Energia Solar da UFRGS Cesar Perieb, quem vive em apartamento não vai conseguir aproveitar boa parte do potencial que os painéis podem converter em energia. Isso porque a distância entre a placa (que ficaria no terraço do prédio) e a residência é um fator determinante para o funcionamento. Imóveis com muitas zonas de sombra no telhado – em que o sol se mantenha por menos de quatro horas por dia – também não terão bom retorno.
Capta no verão, usa no inverno
Na casa de Scliar, esse não é um problema. No verão, ele capta tanta energia que a concessionária dá créditos para que ele possa usar nas horas em que a produção é pequena ou nula – como à noite. O investimento de R$ 40 mil de Scliar, segundo especialistas na área, será recuperado em, no mínimo, oito anos.
– A diminuição do valor da conta é apenas um dos pontos positivos. Antes dos painéis estarem ligados, quando faltava luz, ficava três dias sem energia em casa – diz o fotógrafo.
Resistentes, os painéis podem durar até 30 anos, desde que a manutenção seja feita anualmente. O valor do investimento no Brasil é bastante alto se comparado com países que investem na área há mais tempo, como a Alemanha – lá, chegam a custar 40% menos do que aqui, onde boa parte dos componentes dos equipamentos são importados da China.
Pouco incentivo à energia limpa
Praticamente não existem incentivos ao consumidor que quiser investir na área, ainda que o retorno ambiental seja positivo. Quando um acidente causa dano ao gerador de energia elétrica, por exemplo, a concessionária que presta o serviço faz o reparo. Já em caso de problema com o painel solar, quem arca com os custos de conserto e manutenção é o proprietário.
– O valor varia muito de empresa para empresa, mas fazer um seguro para o investimento deve ser considerado – explica o engenheiro Cesar Perieb.
Roberto Scliar não quis investir na proteção. Seguro de que os painéis têm vida útil de, pelo menos, três décadas, ele já passou por temporais e vendavais sem danos ao sistema instalado.
– Foi o melhor investimento que eu fiz – garante.
Quem tem casa já construída e pretende instalar estrutura fotovoltaica deve ficar atento ao custo de reforçar a estrutura do imóvel para garantir eficiência dos equipamentos e manter a segurança. Em São Marcos, também na Serra, os investidores de um novo empreendimento colocaram já no projeto inicial a previsão de instalação de 124 painéis com orientação solar que captam energia em diferentes horas do dia e épocas do ano. Assim, 60% do que for consumido pelos 12 apartamentos e toda a energia das áreas comuns virá do que os painéis conseguirão captar, assegura o responsável pela instalação, Marco Paz D’Mutti.
Créditos valem por 36 meses
Quem produz mais energia do que consome recebe da concessionária um crédito de energia para consumir em outro momento. O que foi captado do sol não fica armazenado nos painéis ou outros equipamentos, mas enviado para a rede mantida pela concessionária e utilizado por outros clientes. Como a empresa que presta o serviço não “gastou” eletricidade, ela compensa com créditos de uso.
Segundo a Aneel, para aderir ao sistema de compensação, o consumidor deve comprar a energia direto da distribuidora. Basta ter uma rede de energia elétrica ligada a uma concessionária que presta esse serviço. Há duas formas de usar o crédito. Uma é utilizá-lo para cobrir a “tarifa de pico” – quando o valor por kilowatt é mais caro em função da maior demanda por energia – entre 18h e 21h, por exemplo. Outra é utilizar o crédito na fatura do mês seguinte.
Fonte: Zero Hora