Acidente nuclear em Fukushima: dez anos após a tragédia

Acidente nuclear em Fukushima: dez anos após a tragédia

Nesta quinta-feira (11/03), a tragédia de Fukushima completou dez anos, desde que um terremoto de magnitude 9.0 atingiu o Japão, seguido de um tsunami e um acidente nuclear, causado pelo derretimento de três dos seis reatores nucleares da usina. A tragédia fez mais de 20 mil vítimas.

O Terremoto

Às 14h46 do dia 11 de março de 2011, um terremoto de magnitude próxima de 9.0 causou um tsunami com ondas de 14 metros e a água inundou a usina nuclear de Daiichi município de Fukushima, na costa nordeste do país, e mais de 160 mil pessoas tiveram que fugir por causa da radiação. Foi o pior acidente nuclear desde Chernobyl. 

No momento do terremoto, 11 usinas localizadas na região entraram em processo de desligamento. Cerca de uma hora depois do tremor, a usina de Fukushima foi atingida pelo tsunami. O sistema de resfriamento foi danificado, levando a três explosões seguidas, a última ocorreu na  manhã de segunda- feira (14) .

Na época, o governo japonês informou que haviam ocorrido vazamentos radioativos, porém os reatores estavam todos preservados. Contudo, os níveis de radiação ao redor da usina estavam cerca de 8 vezes superior ao limite de segurança estipulado.

O acidente nuclear

A instalação da Tokyo Eletric and Power Company (TEPCO) era composta por seis reatores, na época apenas os reatores 1,2 e 3  estavam operacionais e o reator 4 era usado para armazenar combustível já gasto.  

Dentro das câmeras de concreto, o combustível nuclear ficava mergulhado em tanques, que ajudavam a reduzir o calor no núcleo dos reatores. Após o terremoto, a usina entrou em procedimento para desligar automaticamente suas reações de fissão nuclear nos reatores ativos. Contudo, a situação se agravou muito quando o terremoto destruiu a rede elétrica e derrubou as linhas de energia que mantinham  ativado os geradores de emergência, que forneciam energia para controlar e operar as bombas que serviam para o resfriamento dos reatores, uma vez que a fissão nuclear permanece ocorrendo mesmo após a interrupção na geração da energia.  Sem ter como resfriar o combustível nuclear, a temperatura da água que envolvia o urânio aumentou muito e começou a evaporar, liberando hidrogênio, altamente inflamável.  A pressão na parte superior das câmaras de contenção causou  três explosões consecutivas que derreteram o reator 1,2 e 3. A perda de resfriamento também levantou preocupações em relação às piscinas de combustível irradiado do reator 4, porém felizmente ele não esquentou a ponto de causar mais danos.

Após as explosões, devido ao aumento do índice de radiação, a empresa Tokyo Eletric Power (TEPCO) mandou cerca de 800 operários da central baterem em retirada, devido aos altos índices de radiação. Conduto, os “50 sem rosto”, como ficaram conhecido os 50 operários de Fukushima, foram contra a ordem da empresa e permaneceram em seus postos enfrentando uma radiação de 250 mSV( uma tomografia de corpo inteiro não emite mais que 10mSv), na tentativa de defender Fukushima e minimizar os prejuízos causados pelas explosões, incêndios e vazamentos.

Consequências 

No dia do acidente, o governo ordenou que os residentes em uma área de 3 Km ao redor da usina deixassem suas casas. No dia seguinte, a zona de evacuação aumentou para 20 km e 72 horas depois para 30 km. Estima-se que cerca de 160 mil pessoas deixaram suas casas. 

Passados 10 anos,cerca de 40 mil pessoas ainda estão desabrigadas pelo desastre, muitas famílias ainda vivem em alojamentos temporários. O governo do Japão já gastou cerca de US $300 bilhões (1,7 trilhão) para reconstruir a região, porém as áreas ao redor da usina de Fukushima permanecem desertas por causa de uma proibição. Minamisoma, por exemplo, é uma das cidades fantasmas prejudicadas pela radiação. 

Cerca de 5.000 trabalhadores passam pelos portões da usina danificada a cada dia para demolir o prédio, que ainda tem cerca de 880 toneladas de resíduos de combustível derretido em seus reatores. Segundo a Tokyo Electric Power (TEPCO), o fechamento levará décadas.

Um estudo recente de pesquisadores do IZA, o Instituto de Economia do Trabalho da Alemanha, revela que além das vítimas diretas do acidente, uma decisão das autoridades japonesas pode ter levado a mais de 1.280 mortes, devido ao frio. 

Todas as usinas nucleares do Japão, eram responsáveis por cerca de 30% da eletricidade consumida em todo país. Após o acidente nuclear de Fukushima, o governo, traumatizado por um possível apocalipse radioativo, levou ao fechamento de todas as usinas nucleares em pouco mais de um ano.

Os pesquisadores afirmam que essa redução na produção de energia nuclear levou a um aumento na importação de combustíveis fósseis, elevando o preço da energia elétrica em até 38% em algumas regiões. Com o aumento no preço da eletricidade, muitas pessoas então reduziram o uso de sistemas de aquecimento, levando a mortes por doenças ligadas à exposição ao frio.

O Japão voltou a debater o papel da energia nuclear em sua matriz energética. Mas uma pesquisa da TV pública NHK mostrou que 85% do público ainda se preocupa com acidentes nucleares. A energia nuclear representou 6% da geração de energia do Japão no primeiro semestre de 2020. 

Apenas nove dos 33 reatores comerciais restantes do Japão foram aprovados para reinicialização sob os padrões de segurança pós-Fukushima, e apenas quatro estão operando (antes do acidente, eram 54). Atualmente cerca de 23,1% da produção de energia é devido a fontes renováveis e quase 70%  ainda advém de combustíveis fósseis.

Por Juliana Quinelato

Juliana Quinelato