A Chegada da Eletricidade no Brasil

A Chegada da Eletricidade no Brasil

A eletricidade não foi inventada, mas sim descoberta e explorada ao longo da história por diversas civilizações e cientistas, desde as observações de Tales de Mileto na Antiguidade até os avanços de Benjamin Franklin, Alessandro Volta e Michael Faraday.

Sua compreensão começou a se consolidar de forma científica no século XVII e alcançou um grande avanço no século XIX, com as teorias e invenções revolucionárias de Thomas Edison e Nikola Tesla. A partir de então, passou a ser utilizada em larga escala, transformando a sociedade e impulsionando a era da industrialização e da tecnologia moderna.

Mas você já parou pra pensar como a eletricidade chegou ao Brasil? No texto de hoje, vamos contar um pouco sobre essa história.

Uma Breve História da Eletricidade

Antes de entendermos como a eletricidade foi introduzida no Brasil, é importante conhecer brevemente sua evolução histórica e científica no mundo. A trajetória da eletricidade é marcada por descobertas que se acumularam ao longo do tempo. Na Antiguidade, filósofos como Tales de Mileto e Aristóteles observaram propriedades eletrostáticas e magnéticas em certos materiais, como o âmbar. Naquela época, esses fenômenos eram interpretados de forma especulativa e frequentemente associados a explicações filosóficas ou espirituais.

A transição para uma compreensão moderna da eletricidade começou no Renascimento, com William Gilbert, que introduziu uma abordagem mais experimental ao estudo do fenômeno em sua obra De Magnete. Essa obra não apenas cunhou termos fundamentais, mas também estabeleceu as bases para a investigação científica da eletricidade e do magnetismo. Já no século XVIII, Otto von Guericke construiu a primeira máquina eletrostática, capaz de gerar cargas elétricas por fricção, contribuindo significativamente para o avanço dos estudos na área.

Em 1752, Benjamin Franklin realizou seu famoso experimento com uma pipa e uma chave metálica durante uma tempestade. Com isso, demonstrou que os raios eram uma manifestação natural da eletricidade, além de contribuir significativamente para o desenvolvimento da eletrostática e inaugurar uma nova fase na exploração dos fenômenos elétricos.

Benjamin Franklin realizou seu famoso experimento durante uma tempestade, utilizando uma pipa e uma chave metálica para demonstrar a natureza elétrica dos raios.

No século XIX, Alessandro Volta criou, em 1799, a primeira bateria elétrica funcional, conhecida como pilha de Volta, que possibilitou uma fonte contínua de energia elétrica. Essa invenção foi fundamental para experimentos subsequentes em eletricidade.

Ainda no século XIX, Michael Faraday descobriu o princípio da indução eletromagnética, demonstrando a relação entre o campo magnético e a corrente elétrica. Esses avanços foram posteriormente consolidados pelas equações de James Clerk Maxwell, que unificaram a eletricidade e o magnetismo em uma teoria abrangente do eletromagnetismo.

Com todas essas descobertas, surgiram aplicações práticas que revolucionaram a sociedade. Thomas Edison inventou a lâmpada incandescente e construiu as primeiras usinas elétricas, enquanto Nikola Tesla desenvolveu os sistemas de corrente alternada, que se tornaram a base para a transmissão de energia em larga escala e a longas distâncias.

Na imagem, Thomas Edison, inventor da lâmpada incandescente.

O Início da Eletrificação no Brasil

No final do século XIX, quando a eletricidade começou a ser introduzida no Brasil, o país vivia um período de grandes transformações políticas e sociais. Ainda sob o regime monárquico, que duraria até 1889, a economia era predominantemente agrária e sustentada pelo trabalho escravo, abolido apenas em 1888. A sociedade brasileira era marcada por fortes desigualdades, e a maior parte da população vivia em áreas rurais com pouca infraestrutura. Nesse cenário, as principais cidades começaram a crescer e a buscar formas de modernização, especialmente o Rio de Janeiro, então capital do Império.

Foi nesse contexto que a eletricidade começou a se integrar à realidade brasileira. A primeira demonstração pública de iluminação elétrica ocorreu em 1879, na Estação Central da Estrada de Ferro Dom Pedro II (atual Estrada de Ferro Central do Brasil), no Rio de Janeiro, por iniciativa do imperador Dom Pedro II. Interessado em inovações científicas, o monarca havia recebido um conjunto de lâmpadas incandescentes pouco tempo após sua invenção por Thomas Edison, naquele mesmo ano. A eletricidade utilizada na demonstração foi gerada por um dínamo acionado por locomóveis, máquinas a vapor utilizadas para o transporte de cargas pesadas. O evento foi um sucesso e despertou grande interesse na população, que se impressionou com a novidade.

Fotografia da Estrada de Ferro Central do Brasil em 1889, no Rio de Janeiro, local onde ocorreu a primeira demonstração pública de iluminação elétrica no país.

As lâmpadas elétricas se mostraram mais brilhantes, duráveis e seguras do que as então utilizadas lâmpadas a gás ou a óleo. No entanto, o uso da eletricidade ainda era restrito, pois dependia da construção de usinas geradoras e redes de distribuição.

Poucos anos depois, em 1883, Dom Pedro II inaugurou, na cidade de Campos dos Goytacazes, no norte do estado do Rio de Janeiro, o primeiro serviço público de iluminação elétrica do Brasil e da América do Sul. A cidade passou a contar com uma usina termelétrica movida a lenha, que fornecia energia para 39 lâmpadas instaladas em postes de ferro espalhados pelas ruas, marcando um passo importante na eletrificação do país.

O fim do Império do Brasil, em 1889, marcou o início da República Velha (1889–1930), período em que não foi estabelecida uma legislação federal sólida para regulamentar os serviços de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Assim, a autorização para a exploração de recursos energéticos era concedida diretamente pelos municípios ou, em alguns casos, pelos governos estaduais.

Esse cenário legislativo descentralizado favoreceu o ingresso de capitais estrangeiros no setor elétrico, especialmente de origem canadense e norte-americana. Um dos principais exemplos foi a atuação da empresa canadense The São Paulo Tramway, Light and Power Company Limited, criada em 1899 e conhecida como Light. Com autorização da Câmara Municipal de São Paulo, a companhia passou a operar as linhas de bondes elétricos e a atuar na geração e distribuição de energia elétrica.

Os desdobramentos desse modelo levaram, ao longo do tempo, ao domínio da maior parte das usinas brasileiras por duas grandes empresas estrangeiras: a Light e a American & Foreign Power Company (Amforp). Esse cenário permitiu a expansão da energia elétrica no país, embora de forma desigual, com maior concentração nas regiões Sudeste e Sul, onde se localizava a maior parte da atividade econômica e urbana.

A Origem da Geração de Energia Elétrica no País

As primeiras formas de geração de energia elétrica no Brasil foram as termelétricas, que funcionavam por meio da queima de carvão ou lenha para acionar dínamos a vapor. A primeira central termelétrica foi instalada em 1883, na cidade de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, com capacidade total de 52 kW, suficiente para abastecer as 39 lâmpadas de iluminação pública instaladas nas ruas da cidade.

Devido à abundância de rios e quedas d’água, o Brasil passou a investir na geração hidrelétrica. A primeira central hidrelétrica entrou em operação também em 1883, em um afluente do rio Jequitinhonha, com o objetivo de atender aos serviços de mineração em Diamantina, no estado de Minas Gerais.

Por sua vez, a primeira usina de grande porte, com potência de 250 kW, foi a Usina Hidrelétrica de Marmelos, inaugurada em 1889, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Ela foi a primeira hidrelétrica brasileira projetada para fornecer energia de forma contínua para fins industriais e urbanos, e não apenas para a iluminação pública.

Imagem da Usina Hidrelétrica de Marmelos, localizada em Juiz de Fora, Minas Gerais. Inaugurada em 1889, foi a primeira usina de grande porte construída no Brasil, com capacidade de 250 kW.

Sua energia foi utilizada inicialmente para abastecer a Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas, pertencente ao empresário Bernardo Mascarenhas, um dos pioneiros do setor elétrico no país. Posteriormente, a energia também passou a iluminar as ruas de Juiz de Fora, tornando a cidade uma das primeiras do Brasil a contar com iluminação pública elétrica alimentada por energia hidrelétrica.

Assim, iniciou-se a história do aproveitamento da força das águas para a geração de eletricidade no Brasil, que viria a se tornar a principal fonte da matriz energética do país. Atualmente, a energia hidráulica representa mais de 60% da eletricidade produzida no território brasileiro.

Usina Hidrelétrica de Itaipu, uma das maiores do mundo em geração de energia. Atualmente, a energia hidráulica representa mais de 60% da eletricidade produzida no Brasil.

Conclusão

A chegada da eletricidade ao Brasil marcou um período de profundas transformações tecnológicas, sociais e econômicas. A implantação dos primeiros serviços de iluminação pública, junto com a construção das primeiras usinas termelétricas e hidrelétricas, deu início a um processo de modernização que se intensificaria ao longo dos séculos XX e XXI. Com o tempo, a energia elétrica se tornou um elemento fundamental para o progresso industrial, urbano e social do país.

Referências

Leia mais em:

Rafael Salzer Simas