Como funciona o cabo balanceado?

Você já imaginou um cabo perfeito? Um cabo de áudio capaz de transmitir som com qualidade, sem ruídos e que ainda possa alimentar instrumentos e microfones? Parece ficção, mas é pura física!
O que diferencia um cabo de áudio de um cabo de energia?
Antes de entender o que torna o cabo balanceado tão especial, precisamos contextualizar. Um cabo de energia elétrica residencial transmite, em média, 127 volts em corrente alternada (CA). Já um cabo de áudio trabalha com sinais muito menores, na casa dos milivolts, podendo chegar até 1,2 volts em instrumentos profissionais, também em corrente alternada (CA).
Essa baixa tensão torna os sinais de áudio muito mais suscetíveis a interferências eletromagnéticas, aquelas que podem gerar chiados, estalos ou zumbidos indesejados.
Os cabos não balanceados, mais comumente utilizados em instrumentos musicais (conectores P10 TS)

possuem uma malha metálica que funciona como retorno e blindagem, o que já reduz boa parte do ruído. No entanto, eles têm um limite: não podem ser usados em grandes distâncias sem comprometer a qualidade do som, principalmente em eventos como shows, onde os cabos podem ultrapassar 100 metros.

De onde vem o ruído?
Quando um cabo passa próximo a fontes de energia, rádios, equipamentos eletrônicos ou até iluminação, ele pode “captar” interferências eletromagnéticas, que acabam sendo somadas ao sinal original.

Em sinais de áudio, que são fracos, qualquer interferência é facilmente percebida, especialmente quando o volume é amplificado.
A solução: o cabo balanceado
Foi aí que Harold A. Sankey, da empresa Cannon Electric (posteriormente ITT Cannon), trouxe uma ideia já usada na telefonia para o mundo do áudio: o cabo balanceado. Ele utilizou o famoso conector XLR, que até hoje é padrão em estúdios e palcos.

Como o cabo balanceado cancela o ruído?
A genialidade do cabo balanceado está no método de cancelamento de fase. Dentro dele, existem três condutores:
- Positivo (+) Hot – sinal original.
- Negativo (–) Cold – o mesmo sinal do positivo, porém invertido em fase (espelhado).
- Malha (terra) – blindagem contra interferências externas.

Durante o percurso, as duas vias de sinal (positivo e negativo) captam exatamente as mesmas interferências, mas ao chegarem no equipamento de destino (mesa de som, interface de áudio etc.), o sinal negativo é reinvertido para ficar igual ao positivo.
O que acontece?
- O sinal de áudio (que estava invertido) se soma ao original.
- As interferências (que eram iguais nas duas vias) ficam invertidas uma em relação à outra e se cancelam.

Esse processo é chamado de cancelamento de ruído por diferença de fase (CMRR) e é o que permite que cabos balanceados mantenham o som limpo, mesmo em longas distâncias.
Só XLR é balanceado?
Apesar do XLR ser o mais conhecido, outros conectores também podem trabalhar com sinais balanceados. Um exemplo é o TRS (Tip-Ring-Sleeve) ou P10 estéreo, popularmente conhecido como “conector estéreo” de fones de ouvido.

A diferença é que, no caso do cabo balanceado, o TRS não está transmitindo áudio em estéreo, mas sim as duas vias do sinal (positivo e negativo), mais a blindagem.
Dessa forma, a definição de se um cabo é balanceado ou não depende não apenas do conector, mas de como ele foi soldado e se os equipamentos de origem e destino suportam esse tipo de conexão.

Sendo o cabo acima plenamente possível, desde que soldado da forma correta.
E tem mais…
Como se não bastasse ser um cabo versátil e livre de interferências, o cabo balanceado XLR ainda pode ser utilizado com phantom power, que é uma forma de alimentar principalmente microfones, sem a necessidade de pilhas ou fontes externas.

Conclusão:
Concluindo, o cabo balanceado foi um grande avanço no mundo do áudio ao vivo e gravado. Ele é usado desde simples microfones, passando por filmes e séries de TV, até grandes shows pelo mundo, levando som limpo e livre de interferências a milhares de pessoas.