A importância do aterramento elétrico nas instalações residenciais
Quem nunca precisou usar um adaptador para encaixar um plug de dois pinos em uma tomada de três? Isso é tão comum que muita gente nem para pra pensar no motivo do terceiro pino existir. Mas ele é fundamental: é o pino de aterramento, responsável por desviar descargas atmosféricas, fugas de corrente e surtos elétricos para a terra, em vez de deixá-los passar pelo corpo humano ou pelos equipamentos.
De forma simples, o aterramento é um caminho seguro para a eletricidade quando algo sai do normal. A energia elétrica sempre “procura” o caminho mais fácil para circular. Se esse caminho for o corpo humano, temos um choque. Se existir um aterramento bem feito, a corrente prefere ir para a terra, que oferece menor resistência, protegendo pessoas e equipamentos.
Quando um equipamento apresenta fuga de corrente, sua carcaça metálica pode ficar energizada. Muitas vezes isso passa despercebido até alguém encostar e levar um choque. Com um aterramento eficiente, essa corrente é desviada para o solo antes que isso aconteça. Além disso, o aterramento permite que dispositivos de proteção, como o DR e o DPS, funcionem corretamente. O DR só consegue identificar uma fuga com precisão quando existe um caminho definido para essa corrente escapar, e o DPS só consegue descarregar surtos se houver um aterramento de baixa resistência.
Existem vários tipos de aterramento definidos pela NBR 5410. O primeiro é o sistema TT, provavelmente o mais comum e também o mais problemático. Nele, a concessionária faz o aterramento do neutro, enquanto a residência possui um aterramento próprio, geralmente feito com uma haste de cobre fincada no solo. O problema é que esses dois pontos podem não estar no mesmo potêncial, ou “nível elétrico”, o que pode gerar choques e dificultar a atuação correta dos sistemas de proteção. O TT pode funcionar bem, mas exige que a resistência do aterramento seja sempre baixa e que haja manutenção periódica.

Outro tipo é o TN-S, considerado o modelo ideal para instalações modernas. Nesse sistema, o aterramento da casa é ligado ao mesmo ponto de referência do neutro da concessionária logo na entrada da instalação. A partir daí, o neutro e o condutor de proteção seguem separados por toda a rede elétrica da residência. Isso reduz riscos, melhora o funcionamento do DR e deixa todo o sistema mais estável e seguro.

Há também o TN-C-S, que é uma alternativa para quem não consegue implementar o TN-S completo. Nesse caso, o neutro e o condutor de proteção compartilham o mesmo fio em parte da instalação, chamado de condutor PEN, e só depois são separados. A NBR 5410 exige que esse condutor tenha no mínimo 10 mm² de seção. Funciona bem, mas sua eficiência depende diretamente da bitola correta e da separação feita da forma certa.

Mas se você acha que aterramento é algo só para casas, está enganado. Em prédios, o aterramento é obrigatório, pois envolve a segurança de muitas pessoas ao mesmo tempo. Em construções modernas, é comum utilizar a própria armadura metálica da estrutura como aterramento, desde que tudo esteja devidamente interligado. Isso cria um sistema extremamente robusto, muito mais eficiente do que uma única haste cravada em um solo de baixa qualidade.

Um exemplo prático disso foi um aterramento feito na zona rural. O portão elétrico queimava com frequência por conta de descargas elétricas, já que não existia um caminho adequado para essa energia ser dissipada. A eletricidade acabava se acumulando no próprio portão, danificando sua eletrônica. Após a instalação de hastes de aterramento bem dimensionadas e a equipotencialização correta, o problema foi resolvido. Desde então, o portão nunca mais sofreu queima por descargas. Esse tipo de situação mostra que aterramento não é frescura: é segurança e também economia.


Em equipamentos de som, o aterramento é ainda mais importante. Mesas analógicas, amplificadores, interfaces e sistemas de PA são muito sensíveis a interferências. Um bom aterramento reduz ruídos indesejados, como zumbidos, e protege contra surtos que podem danificar estágios inteiros de amplificação. Em estúdios, é comum ligar todos os equipamentos a um mesmo ponto de referência justamente para evitar essas diferenças elétricas.
Por fim, vale reforçar que o aterramento é essencial para que os dispositivos de proteção funcionem de verdade. O DR protege vidas e o DPS protege equipamentos, mas ambos dependem diretamente de um bom aterramento para cumprir sua função. Sem ele, o DR pode não detectar corretamente uma fuga e o DPS simplesmente não tem para onde descarregar um surto.
No fim das contas, fazer um aterramento bem dimensionado não é opcional. Ele é parte fundamental de qualquer instalação elétrica segura, garantindo o bom funcionamento dos equipamentos, a atuação correta das proteções e, principalmente, a segurança das pessoas.